Pedro do Coutto
Todos nós estamos sempre respondendo a alguém, ou a alguma coisa, ou até a nós mesmos. Trata-se de uma situação que reside nos textos escritos e nas falas comuns, através das quais procuramos chegar a um raciocínio claro do que queremos passar aos outros.
Focalizando a linguagem, podemos interpretar as vontades e ideias que trazemos conosco e que transportamos para a comunicação com os outros. Vejam os leitores o caso do ministro Paulo Guedes em relação ao presidente Jair Bolsonaro, durante a recente reunião em Washington.
É DE CORAÇÃO? -A reportagem feita por jornalistas da Folha de São Paulo, publicada na edição de ontem, transcreve uma fala do ministro da Economia, que merece reflexões. O texto integral é o seguinte: “É de coração? Ele, Bolsonaro, está apaixonado pela reforma?“. O ministro da Economia, Paulo Guedes, responde: “Claro que não“. E acrescenta: “Mas ele tem qualidades, é transparente, é resiliente, dá suporte a coisas com as quais não concorda, mas sabe que são necessárias“.
Quer dizer, no meu modo de pensar, Guedes coloca-se um ponto acima do presidente. Basta ler com atenção o trecho do qual é autor. Se Bolsonaro não concorda com o texto integral do projeto de reforma da Previdência, mas mesmo assim envia a mensagem ao Congresso, é porque segue o rumo traçado pelo ministro Paulo Guedes.
Recorde-se as expressões as quais Bolsonaro proferiu ao longo da campanha eleitoral. Disse que a economia será conduzida por Paulo Guedes. É o caso do Posto Ipiranga. Portanto, a solução do problema se configurou: mesmo discordando, Bolsonaro, de fato, delegou poderes ao ministro da Economia.
PRESSUPOSTO – Em artigo assinado na edição de sexta-feira da Folha de São Paulo, o ex-ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, afirma que não pode haver regime de capitalização dos segurados do INSS sem contribuição patronal. Barbosa disse que primeiramente pensou tratar-se de um tipo de slogan para destacar o governo, porém em seguida viu que a afirmação era verdadeira. Concluiu: não pensei que Paulo Guedes chegasse a tanto.
Conforme já revelamos aqui na Tribuna várias vezes, extinguir a contribuição patronal significa pôr fim à Previdência Social, fechar as portas.