Thais BilenkyFolha
Integrante da tropa de choque de Jair Bolsonaro (PSL) durante a campanha de 2018, o deputado federal Alexandre Frota (PSL-SP) faz criticas ao governo, num reflexo das dificuldades do Executivo com o Congresso após cem dias de mandato.
Para Frota, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, é o maior responsável pela falha na articulação política. E o escritor Olavo de Carvalho, que deveria ter tido seu espaço reduzido por Bolsonaro, tem mais influência do que os militares, lamenta Frota.
O deputado recebeu a Folha na liderança do PSL na Câmara nesta terça-feira (dia 9). Deixou a porta aberta e se levantou para abri-la quando um assessor a encostou. “Para amanhã você não sair correndo daqui e colocar que eu fiz um estupro ou um assédio. Hoje em dia qualquer coisa é assédio”, justifica.
O sr. já disse que a renovação trouxe gente aguerrida, mas que em parte mostrou mais disposição nas redes sociais do que na tribuna. É a parte do deslumbre. [Dizem:] ‘Me tornei deputado federal, agora qual vai ser o cargo, qual vai ser a secretaria que eu vou ter?’. Vejo deputado perguntar o que está votando ou ‘o que eu voto, sim ou não?’.
O governo sofreu derrotas no Congresso. Como está a articulação? Não posso falar pelo governo. Posso falar pelo PSL. O PSL é um partido que está se construindo ainda, não é um partido que está na sua totalidade montado. A gente sente, né, muitas vezes, falta aqui pra gente questão de vivência mesmo.
O PSL deu várias demonstrações de desunião, desde a transição com a briga entre Eduardo Bolsonaro e Joice Hasselmann. O PSL é um partido que está se formando, são muitas pessoas pensando diferente uma das outras. Todos tiveram sucesso nas suas campanhas, ao contrário do que as pessoas pregam. O Bolsonaro teve importância enorme na nossa vitória, mas nós também tivemos. Trabalhamos incansavelmente para que ele chegasse à Presidência.
Falta ele reconhecer? Acho que o PSL foi muito preterido. Eu participei da transição, o PSL não foi um partido que foi acolhido. O DEM tem hoje ministérios, Casa Civil, Câmara dos Deputados, Senado Federal, enfim.
Isso ajuda a explicar a resistência da bancada a projetos do governo? Acredito que sim. A falta de comunicação, a falta de carinho, a falta até de respeito mesmo. ‘Ah, o PSL já é nosso, então deixa o PSL de canto e vamos homenageando, prestigiando outros’. Não é assim.
Os ‘outros’ fazem a mesma reclamação, de que não são prestigiados e atendidos. Aí é Casa Civil.
Onyx? É Onyx. Sou novato aqui. Mas chego aqui dentro e ouço pelo menos 70% desta Câmara falando que não vai com Onyx. Entendeu? Falta Onyx fazer essa articulação melhor. Ele é o chefe da Casa Civil. Quantos mandatos teve aqui dentro? É ele que deveria estar aqui dentro fazendo essa articulação, esse corpo a corpo com os deputados.
Ele tem condição de passar a fazer isso ou teria que trocar? Hoje ele não tem condição mais. Ele se perdeu.
Teria de ser substituído? É fora da minha alçada, não posso opinar.
O que vislumbra para os próximos meses? Estou dedicado e já avisei isso ao Bolsonaro, a todos eles, ao Onyx, que é a crise que vai se instalar na cultura no país. Você pega o ministro da Cidadania [Osmar Terra (MDB)], que diz que o que ele entende de cultura é tocar berimbau. Vou convocar ele pra vir aqui e trazer um berimbau que eu quero ver se ele sabe pelo menos tocar o berimbau. Ele me coloca um secretário de Cultura que é frouxo e o Brasil não podia ficar sem um Ministério da Cultura.
O sr. gostaria de ser ministro? Não, nunca. Não quero nem passar perto. Meu grande barato é ser deputado federal.
O sr. conseguiu indicar diversos nomes para cargos federais. Não é indicar. Eu entrego nomes para ajudar. Cabe a eles colocar. Bolsonaro demitiu o [Ricardo] Vélez, que foi indicado pelo Olavo de Carvalho, e colocou um outro que é uma indicação do Olavo de Carvalho. Seria melhor o Bolsonaro ter colocado então o Olavo de Carvalho de ministro da Educação. Mais fácil.
Bolsonaro entrou em conflito com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ele fez bem? Ninguém ali teve culpa nem razão em nada. Foi muito mais a imprensa.
Mas eles que falaram. A boca foi feita para falar. Depois se arrependem.
Quando é presidente da República e da Câmara, o que se fala… Reverbera. Os dois trocaram farpas, como dizem. Teve um pessoal aí que botou os panos quentes em cima, mas essa reforma [da Previdência] é do governo. Rodrigo não tem que fazer articulação para o Onyx, para o Bolsonaro.
Maia está conduzindo bem? Está conduzindo bem e foi mal entendido. Acharam que o Rodrigo estava fazendo um jogo de cargos, a prova está aí que não. Deixou na mão do governo.
A reforma da Previdência será aprovada? Eu voto a favor da reforma da Previdência, acho que é importantíssima. Mas quero que me mostrem o rombo da Previdência, que provem para mim como foi feito.
Se fosse hoje, passava? Se fosse hoje, não.
A ala ligada ao Olavo de Carvalho… Eu odeio essa ala.
Por quê? Acho ele um maluco, acho que ele não apita no governo como ele acha que apita, mas ele tem apitado e me deixa extremamente descontente o fato de ele apitar como ele apita.
Ele tem mais espaço que as outras alas? Ele tem muito mais espaço. O Olavo de Carvalho é uma pessoa que xinga o vice-presidente, xinga os ministros do Bolsonaro, xinga o Exército, fala coisas absurdas.
Bolsonaro tinha que cortar? Eu, no lugar do Bolsonaro, pegaria o telefone e encerraria essa festa. Você pode ver que o ministro que ele indicou foi o que mais deu problema, o Vélez.
E o Ernesto Araújo, das Relações Exteriores? O Ernesto é outro também. Tudo o que vem do Olavo de Carvalho tem que tirar do governo. Ou tira ou vai continuar desse jeito que está aí, infelizmente. O Olavo de Carvalho conseguiu colocar um papagaio de pirata do lado do Bolsonaro chamado Filipe G. Martins, que é assessor dele para viagens, assuntos internacionais e o caramba. É outro também. Não compactuo. Acho um bando de malucos, não gosto deles.
São irresponsáveis? Acho que eles são intrometidos. Eles querem governar sem estarem no governo. É um governo paralelo, o governo dos olavetes.
O que acha das teses deles, do globalismo, o marxismo cultural? Acho ele chato pra cacete. É um velho que fica enfurnado lá na Virgínia, com aquele cenário dele cheio de livro, aquele gato, aquele charuto, aquela coisa mofada. Falar da Virgínia é muito fácil. Queria ver ele aqui falando.
Como vê a atuação dos militares? Adoro os militares, estão tendo uma paciência ímpar com tudo o que vem acontecendo, principalmente a respeito desse senhor aí.
Os ministros Paulo Guedes e o Sergio Moro estão tendo papel equilibrado no governo? Hoje dentro do que a gente vê aí, é incrível, mas a ala do Olavo de Carvalho é a que mais prevalece. Infelizmente.
Nesses cem dias, qual é o principal acerto do presidente? Acertou agora porque colocou o Fabinho Wajngarten na Secom (Secretaria de Comunicação Social). O governo tem uma falha na comunicação e vai ser acertada agora. Bolsonaro tem do lado dele uma pessoa guerreira, brilhante, que é o general Santos Cruz, que tem se dividido em três para poder trabalhar.
Isso tudo ajuda a explicar a queda na popularidade dele? Não fico vendo pesquisa, mas vejo nas redes sociais pessoas reclamando, que esperavam mais.
A relação dos filhos do presidente com o governo já está equacionada? Isso é um problema do Jair Bolsonaro com eles.
Ele disse que Carlos era responsável pela eleição e merecia um ministério. Só o Carlos foi responsável pela eleição dele? E o [ex-ministro demitido Gustavo] Bebianno? E o [deputado] Julian Lemos?
O sr. já tinha criticado a interferência dos filhos. Tem solução? É uma coisa difícil e delicada, mas não estou lá para falar isso.
O sr. perdeu espaço com o presidente? Não, nenhum, hoje falei com ele. Olha o Julian Lemos aí, não morre tão cedo.
[Julian Lemos entra na sala. “Falei ali agora com o Tigrão Dirceu [deputado Zeca Dirceu, que chamou Guedes de tigrão ao tratar com os mais vulneráveis], caso queira tirar o estresse no tatame, tem eu, tem Frota. O que não cabe aqui é um senhor de 69 anos ser achacado por você. Não é nada pessoal”, disse e se sentou na mesa ao lado.]
O sr. já disse que Flávio Bolsonaro o considera uma persona non grata. Eu falei que o seu ex-assessor [Fabrício] Queiroz devia ter sido preso porque ele próprio falou que fez a rachadinha. E falei que na época o Flávio devia ter se afastado. Jair ficou chateado com isso, mandou recado, mas já passou.
O presidente trata mal os aliados? Não, não sei.
O sr. se sente mal-tratado? Eu me sinto, não pelo Jair, mas muitas pessoas que estão em volta dele me tratam de uma maneira que eu acho que eu não merecia. Por tudo o que eu fiz e lutei. Estava lá na frente da batalha, do front. Às vezes eles pecam, eles sabem o que fazem.
Pode explicar? Não. Isso é uma coisa minha.