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terça-feira, abril 09, 2019

Ao descartar a capitalização, Bolsonaro colocou Paulo Guedes no seu devido lugar


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Com habilidade, Bolsonaro mostrou a Guedes que tudo tem limites
Carlos Newton
Na juventude, Paulo Guedes chegou a ser conhecido como um dos economistas da chamada turma de Chicago, ingressou pesado no mercado financeiro e em 1983 foi um dos criadores da distribuidora BTG Pactual, junto com André Jacurski e Luiz Cezar Fernandes. Foi fundador também do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) e do Instituto Millenium, que defende o ultraliberalismo no Brasil.
POSTO IPIRANGA – Quando se aproximou de Bolsonaro para colaborar no programa do então candidato (que até hoje reconhece nada entender de economia), Guedes encontrou campo fértil para semear suas teses, na condição de “Posto Ipiranga”, assim definida à imprensa pelo próprio Bolsonaro.
O candidato foi eleito e Guedes entronizado no cargo de ministro da Economia, com poderes jamais concedidos a nenhum outro antecessor. Nomeou quem bem quis, Bolsonaro não indicou um só nome, deixou tudo por conta do “Posto Ipiranga”, um atitude cômoda para o presidente, porém arriscada em termos governamentais.
ESPÍRITO PÚBLICO – Como todos sabem, o poder embriaga e faz com que aflorem os sete pecados capitais. E a “Veja” até colocou Guedes na capa com o título “Este homem pode presidir o Brasil”. Nesse clima, é preciso estar muito preparado para deixar a vaidade de lado, resistir e entender que o espírito público deve estar sempre em primeiro lugar.
Mas acontece que Paulo Guedes é um profissional do mercado financeiro, do ramo monetarista. Para exercer o cargo de ministro da Economia, era necessário que se despojasse do passado de investidor, para passar a defender as finanças públicas num momento de gravíssima crise nacional. Mas isso não aconteceu e Guedes continua o mesmo.
Não foi surpresa quando sua reforma da Previdência incluiu a capitalização, uma solução bancária absolutamente inaceitável. Ao defender essa proposta nos eventos a que comparece, Guedes tem “inventado” que o modelo “pode criar milhões de empregos rápidos, por causa da desoneração dramática dos encargos trabalhistas”, tudo uma tremenda conversa fiada. Se isso fosse verdade, não precisava dizer mais nada, seria aclamado em praça pública.
FALTOU DIZER – Na verdade, Guedes deveria ter revelado que trabalhava no Chile quando foi criado a capitalização e foi  responsável por incluir no esquema uma desconhecida corretora brasileira, a BTG, que ainda hoje continua a ser uma das seis administradoras das aposentadorias chilenas.
Detalhe importantíssimo: o sistema de capitalização só começou a ser implantado com sentido  obrigatório no Chile em 1982 e no ano seguinte Guedes criava a BTG no Brasil. Terá sido coincidência?
O fato é que Guedes vinha se comportando como se estivesse no poder e suas ordens fossem incontestáveis. Ilusão à toa, diria Johnny Alf. O presidente Bolsonaro pode não entender nada de economia, mas tem alguns assessores de nível. Nesta sexta-feira, quando descartou a obrigatoriedade de adoção da sistema chileno, o chefe do governo mandou um recado ao Congresso e colocou Guedes em seu devido lugar.
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P.S.
 1 – Se tivesse um mínimo de dignidade, Guedes pediria demissão, para ficar em casa, guardado por Deus e contando o vil metal, como dizia Belchior. É um homem riquíssimo, não necessita de cargo nem função. Mas precisa desesperadamente permanecer como ministro, para manter o foro privilegiado e não cair nas mãos da Lava Jato. Essa é a realidade surrealista da política brasileira, versão 2019.
P.S. 2 – Quanto ao novo ministro da Educação, que defende a adoção do estilo Olavo de Carvalho de se comunicar aos palavrões, sua nomeação merece ser a Piada do Ano. A não ser que Bolsonaro esteja de sacanagem, como se dizia antigamente. (C.N.)

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