Pedro do Coutto
Finalmente surge uma voz do IBGE para colocar a verdade no mercado brasileiro. A voz é de Isabela Nunes, gerente da Pesquisa Mensal sobre o comércio, que iluminou a verdadeira base do consumo condicionado pelo nível de emprego. No caso brasileiro pode-se acrescentar a correlação a partir da queda do desemprego que ainda não se verificou. Desemprego alto significa, consequentemente, renda baixa e receita tributária que perde para a taxa de inflação.
Em reportagem de Tais Carrança e Bruno Villas Bôas, no jornal Valor, a especialista Isabela Nunes focalizou a essência do problema. Revelou que as vendas no comércio cresceram 0,4% em fevereiro, lembrando que no mês de janeiro registrou-se um recuo de 0,8%. Também importante, ela frisou, foi a retração da produção industrial na mesma percentagem dos resultados do bimestre.
FALTA COMPARAR – Na minha opinião, seria fundamental a comparação entre os índices de janeiro e fevereiro de 2018 com os de janeiro e fevereiro de 2019. Isso porque é preciso considerar os seguintes aspectos. Primeiro ponto, como ficou a produção física dos produtos?; segundo ponto, confrontar os preços desses dois períodos; terceiro ponto, comparar o se o avanço decorreu dos preços ou a disposição de compra. Isso porque tem que se considerar a taxa inflacionária nos períodos cotejados.
A inflação de 2018 foi de 4%. Assim se o volume de vendas alcançou 0,4% fica nítido que o desembolso com a aquisição dos produtos recuou e não avançou como se constata. Ao contrário, a movimentação comercial não acompanhou o índice inflacionário e esta situação refletiu-se na cobrança dos impostos, principalmente do ICMS, que é estadual mas que representa a fonte explicativa do nível de consumo. O nível de consumo, como se sabe, depende diretamente da capacidade de compra da população brasileira de modo geral.
O mesmo sistema deve ser aplicado também em comparação a Previdência Social. O INSS arrecada sobre a folha de salário. Então desemprego alto arrecadação baixa.
INFLAÇÃO – Matéria de Gabriel Vasconcelos, também na edição de ontem do Valor, analisa um estudo do IPEA voltado para medir tanto a inflação geral quanto o índice inflacionário por classes sociais. Diz que no primeiro bimestre do ano a inflação atingiu de forma mais forte os salários de renda mais elevada.
A afirmação, para mim parece impressionista. Além disso, deve-se lavar em conta que as pesquisas do IBGE baseiam-se nos preços mínimos e não nos preços médios. Desse jeito, desfoca-se o plano mais sensível da pesquisa.