Carlos Newton
No início da campanha, quando estava para ser escolhido o candidato a vice-presidente, começou a se delinear que, pela primeira vez na História, o Brasil poderia ter o primeiro governo militar eleito democraticamente, algo jamais visto. Desde a proclamação da República, houve apenas dois militares eleitos para presidente, Deodoro da Fonseca e Eurico Dutra, e um vice militar (Floriano Peixoto) que chegou à Presidência logo no início da República, quando Deodoro renunciou. Mas todos conduziram governos civis.
PURO-SANGUE – Quando o general Augusto Heleno aceitou ser vice de Bolsonaro e seu partido, o PRP, não confirmou a aliança, já se vislumbrava a chapa puro-sangue, embora o então senador Magno Malta, a advogada Janaina Paschoal e o príncipe Luiz Philippe de Orléans e Bragança tenham sido cotados.
A escolha do general Hamilton Mourão (PTRP) acabou confirmando a opção pela chapa militar. Assim, com toda certeza, sabe-se que milhões de brasileiros não votaram especificamente no capitão Bolsonaro, tendo na verdade se manifestado a favor de um governo militar eleito nas urnas, bem diferente de Deodoro e Dutra, que governaram preferencialmente com civis dominando o primeiro e o segundo escalão do governo, conforme ocorreu também durante a ditadura iniciada em 1964.
EXTREMA-DIREITA – No início do governo, a situação estava meio confusa, porque o radical de extrema-direita Olavo de Carvalho surgira como guru presidencial, uma espécie de Rasputin velho, imberbe, tabagista, americanófilo e pornográfico, que funcionava à distância, mas emplacou logo dois importantes ministros (Ernesto Araújo no Itamaraty e Ricardo Vélez na Educação) e nomeou uma leva de seguidores.
Havia também a influência direta dos três filhos de Bolsonaro, que tinham sido doutrinados por Olavo de Carvalho e também trafegam na extrema-direta radical.
Houve um choque de opiniões, porque os militares brasileiros não são de extrema-direita nem tampouco americanófilos. A imensa maioria abomina o comunismo, devido às restrições à democracia que existem nos países que ainda se dizem marxistas, como China, Cuba e Coréia do Sul, pois o Vietnã está dando uma guinada à direita e a Venezuela nem se mostra comunista, é apenas uma ditadura vulgar.
DEMOCRATAS – Os militares brasileiros são democratas de formação, jamais apoiariam a extrema-direita, pensavam que Bolsonaro iria ouvi-los e operar no centro, sem radicalismos. Mas no início isso não aconteceu. Doente e inseguro, Bolsonaro preferia se aconselhar com os filhos, que consultavam Olavo de Carvalho.
Mas os problemas foram tantos que o presidente teve de despertar do pesadelo. Com muito custo, depois do caso do ministro Gustavo Bebianno, demitido equivocadamente, Bolsonaro decidiu se livrar da influência dos filhos e se recompôs com o vice Hamilton Mourão, que tinha sido colocado no freezer, como se diz hoje em dia.
Uma semana depois, Bolsonaro se livrou também de Olavo de Carvalho e está procurando um jornalista que possa funcionar como conselheiro em comunicação social. O escolhido é Alexandre Garcia, que ainda não se decidiu, mas acabará aceitando, se insistirem e o próprio Bolsonaro o convocar.
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P.S. – Agora, acabou a brincadeira. Trata-se de um governo nitidamente militar, que tem quatro generais no núcleo duro do Planalto (Augusto Heleno, Hamilton Mourão, Santos Cruz e Floriano Peixoto), algo jamais visto nem mesmo na ditadura militar de 21 anos. O único ministro civil do núcleo palaciano é Onyx Lorenzoni, que no governo tem papel nitidamente subalterno. E nos dois primeiros escalões, há 103 oficiais da reserva, recorde absoluto na História Republicana.
P.S. – Agora, acabou a brincadeira. Trata-se de um governo nitidamente militar, que tem quatro generais no núcleo duro do Planalto (Augusto Heleno, Hamilton Mourão, Santos Cruz e Floriano Peixoto), algo jamais visto nem mesmo na ditadura militar de 21 anos. O único ministro civil do núcleo palaciano é Onyx Lorenzoni, que no governo tem papel nitidamente subalterno. E nos dois primeiros escalões, há 103 oficiais da reserva, recorde absoluto na História Republicana.
P.S. 2 – Muita coisa vai mudar. E o ministro Paulo Guedes precisa se enquadrar. Se continuar privilegiando os banqueiros e não passar a defender os interesses nacionais, não terá vida longa no serviço público. Bolsonaro vai acabar trocando o Posto Ipiranga pelo Forte Apache, se é que vocês me entendem, como dizia nosso amigo Maneco Müller, o genial Jacinto de Thormes. (C.N.)