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domingo, maio 01, 2011

Manchetes das revistas: a guerra dos Suplicy

ISTOÉ

A guerra dos Suplicy
Os senadores Eduardo Suplicy e Marta Suplicy, do PT de São Paulo, formam um ex-casal incomum. De comportamento peculiar, ambos têm personalidade marcante, cada um a seu modo. Sexóloga de profissão, Marta é mais desembaraçada. Quando prefeita de São Paulo, ela substituiu a sisuda cadeira do gabinete por outra cor-de-rosa e adotou o hábito de visitar favelas em trajes finos e de salto alto, para espanto dos moradores da periferia. Eduardo Suplicy, por sua vez, é capaz de interpretar um rap dentro do Congresso, latindo e fingindo que levou um tiro. Também já cantou músicas de Bob Dylan no plenário e desfilou pelo Salão Azul com uma cueca vermelha sobre o terno para o programa de humor “Pânico”, o que quase lhe custou o mandato. Ela é considerada exibicionista. Ele aparenta timidez, embora seja um exímio criador de factoides. Apesar do exotismo, o ex-casal 20 da política paulista sempre se mostra unido em defesa dos interesses do PT e do governo. Mas a paz dos Suplicy está com os dias contados.

Tudo indica que, no próximo ano, Eduardo e Marta vão passar por uma situação inusitada, mesmo para seus padrões. Eles devem se enfrentar na disputa para sair candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PT. Hoje, há inúmeros pré-candidatos, como os deputados Cândido Vacarezza, Jilmar Tatto e Paulo Teixeira, e os ministros Fernando Haddad, José Eduardo Cardozo e Alexandre Padilha. Ninguém é favorito, mas Marta tem a preferência da cúpula petista. Eduardo Suplicy, por seu lado, faz questão de dizer que é o senador proporcionalmente mais votado da história de São Paulo. À ISTOÉ, o senador Eduardo Suplicy garantiu que, desta vez, não se submeterá aos desejos de Marta. Em 2010, ele foi obrigado a abrir mão de sua candidatura para o governo de São Paulo para que Marta concorresse ao Senado na chapa encabeçada por Aloizio Mercadante. “No ano passado, eu concordei. Mas agora não vou abrir mão. Eu e Marta estamos em pé de igualdade. O partido tomará sua decisão democrática nas prévias”, disse o senador.

Ao que tudo indica, Suplicy parece cansado de dar preferência aos planos da ex-mulher. Em 2001, Marta acabou com o casamento de 36 anos, deixando o senador para viver uma paixão com o franco-argentino Luis Favre. Mesmo arrasado, como fazia questão de não esconder, o senador participou ativamente da campanha de Marta para a prefeitura e o Senado. Ganhou muito pouco em troca. Há dois meses, Marta presidia a Mesa do Senado e cortou a palavra do ex-marido quando ele tentava ler uma carta de Cesare Battisti na tribuna. “Senador Suplicy, acabou seu tempo”, advertiu Marta. “Agora preciso obedecer à senhora presidente”, disse o constrangido petista. Mas Eduardo Suplicy está pronto para a guerra no campo político. Disse, em entrevista, que ainda iria consultar os filhos para que escolhessem a melhor candidatura: a do pai ou a da mãe. Para ISTOÉ, no entanto, esclareceu que estava “de brincadeira”. “Meus filhos nos amam. Mas desta vez não vou recuar. Vamos às prévias”, afirmou ele.

Marta prefere não entrar em polêmicas neste momento. Afirma que o seu nome foi colocado na mesa como “uma opção” para a Prefeitura de São Paulo. Quanto aos três filhos, que durante o divórcio acabaram do lado do pai, eles não parecem dispostos a se envolver com a briga política. André e João nem sequer falam sobre o assunto. O roqueiro e primogênito do casal, Eduardo Suplicy, o Supla, 45 anos, diz que “é a mesma coisa que perguntarem se você prefere o seu pai ou a sua mãe”. Para ele, “tanto um quanto outro tem condições de fazer um ótimo governo na cidade”. Mesmo em cima do muro, Supla não esconde o orgulho que sente dos pais. “O povo é um ótimo termômetro. Sinto um carinho muito grande da população por ambos. A história da minha mãe, como prefeita, ainda está muito viva, mas as pessoas sempre falam com muito respeito do meu pai.” Nenhum dos filhos é filiado ao PT e, portanto, não votarão nas prévias petistas. Pelo visto, Eduardo e Marta terão de travar o embate por conta própria.

Registro do terror
No momento em que se completam três décadas da explosão ocorrida no estacionamento do Riocentro, pavilhão localizado na zona oeste carioca, novas evidências confirmam: a apuração do caso não passou de uma farsa. Na noite de 30 de abril de 1981, em uma trapalhada histórica, o capitão Wilson Dias Ma¬chado e o sargento Gui¬lherme Pereira do Rosário transportaram bombas até o local, onde milhares de pessoas se aglomeravam para assistir a um show de músicos brasileiros em comemoração ao Dia do Trabalho e clamar pelo fim do regime militar. Seria um atentado contra a massa. Acidentalmente, um dos artefatos explodiu no colo de Rosário, que morreu na hora. Machado sobreviveu. A primeira apuração do caso, conduzida pelos próprios militares, não culpou ninguém e a segunda foi arquivada com base na Lei de Anistia.

Agora, 30 anos depois, surgem novas evidências de que provas im¬portantes ficaram de fora das duas investigações. O jornal “O Globo” teve acesso a uma agenda que pertenceria ao sargento Rosário. Nas anotações, nomes de autoridades do governo que faziam parte da repressão militar e passaram a usar seus conhecimentos em empresas privadas ao fim da ditadura. O documento não entrou no inquérito. “Eu não tive conhecimento dessa agenda, ela não estava nos autos”, confirmou à ISTOÉ o juiz Edmundo Franca de Oliveira, que conduziu o julgamento do primeiro Inquérito Policial Militar (IPM) a tratar do caso. “Houve fortes pressões da comunidade de informações e do ministro do Exército, general Walter Pires, para que fosse aceito o relatório do coronel Job Lorena de Sant’Anna, que presidiu o inquérito”, disse Oliveira.

Na época, a primeira atitude das Forças Armadas foi responsabilizar extremistas de esquerda pela explosão. Essa tese caiu por terra diante das evidências, mas a manipulação das investigações não permitiu caracterizar oficialmente a explosão no Riocentro como um ato de terrorismo de Estado. Além disso, a impunidade permitiu que o capitão Wilson Machado não tivesse sua culpa provada na Justiça, o que lhe permitiu nos últimos anos exercer cargos com remuneração oriunda do setor militar. Atualmente, ele trabalha como prestador de serviço no Instituto Militar de Engenharia e é responsável pela “análise funcional dos cargos de engenheiro militar” na instituição. “O arquivamento do processo, em 1981, foi um grande erro do Superior Tribunal Militar”, avalia o almirante Júlio Bierrenbach, ex-ministro do STM, único a votar contra na época. “No segundo IPM, os dois foram considerados culpados, mas acabaram indevidamente beneficiados pela Lei de Anistia, que tratava de crimes praticados apenas até 1979.” A cientista política Maria Celina D’Araujo, da PUC-RJ, avalia que há provas, hoje, de que o inquérito foi feito de maneira descuidada, sem levar em conta documentos importantes. “A intenção era acobertar os envolvidos”, analisa Maria Celina. “Para resgatar a imagem das Forças Armadas, é preciso que as autoridades militares reconheçam que erraram.”

0 fugitivo, o ministro e a PF
No início de fevereiro, a Polícia Federal deflagrou uma operação que desbaratou um esquema de fraudes e lavagem de dinheiro na Prefeitura de Barra do Corda, no Maranhão. Como ISTOÉ revelou, a quadrilha, formada por membros da família do prefeito Manoel Mariano de Souza, o Nenzim, desviou R$ 50 milhões dos cofres públicos, boa parte dinheiro do Fundeb que deveria ser aplicado nas escolas. Agora, a PF está concluindo um novo inquérito sobre desvios milionários nas contas do Incra maranhense. As duas investigações, embora independentes, têm em comum um mesmo personagem: o lobista João Batista Magalhães, comerciante maranhense, conhecido de políticos e empresários, que nos últimos anos acumulou prestígio e riqueza, tornando-se figura carimbada nos gabinetes de Brasília. No início deste ano, Magalhães chegou a ser recebido pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em seu gabinete, na Esplanada dos Ministérios.

Apesar de não ser a figura central na nova série de escândalos maranhenses, João Batista Magalhães ocupa papel de destaque em cada um deles. Para a Polícia Federal, o lobista é peça importante para entender e desbaratar os esquemas de corrupção perpetrados por prefeitos do Estado. Por isso, ainda em fevereiro, pediu a prisão preventiva de Magalhães, que, mesmo diante de tantas denúncias, continuava na ponte aérea entre São Luís e Brasília. Foi na capital, aliás, que Magalhães se refugiou ao saber da ordem de prisão. Ao descobrir que poderia ser detido a qualquer momento, fez uso de sua rede de contatos no mundo político e conseguiu “asilo” na sede nacional do Partido dos Trabalhadores. Magalhães disparou telefonemas dali mesmo para advogados e amigos, um deles informante da PF. “Vimos no bina do telefone aquela sequência de três números 13. Quando pesquisamos, descobrimos que se tratava de uma linha do PT”, revela o delegado responsável pelo inquérito, Victor Mesquita.

A operação havia sido deflagrada no dia 3 de fevereiro, uma quinta-feira. O lobista, que estava hospedado no Hotel Kubitschek Plaza, deixou o local na manhã da sexta-feira. As pistas com base nos telefonemas voltaram a esquentar no sábado, mas a sede do PT não abre nos fins de semana. Como não tinham mandado judicial, os federais tentaram lançar mão de um ofício chamado “consentimento de busca”, pelo qual o responsável pela sede do PT autorizaria a entrada dos agentes. Quando parecia que finalmente conseguiriam prender Magalhães, uma ligação da sede da Polícia Federal em Brasília suspendeu a ação. “Mandaram abortar a missão”, afirma uma fonte ligada à investigação. O chefe da Divisão de Combate a Crimes Financeiros da PF, delegado Marcelo Oliveira, que comandou a busca, nega a versão. “O fato é que não conseguimos encontrá-lo em Brasília. A última informação foi que ele estava no Kubitschek Plaza”, afirma Oliveira.

Na segunda-feira 7, Magalhães foi beneficiado por habeas corpus concedido pelo Superior Tribunal de Justiça. O mesmo ato suspendeu a prisão preventiva do prefeito de Barra do Corda, Manoel Mariano de Souza, e de sua mulher, Francisca Teles, que também estavam foragidos. O secretário nacional de Comunicação do PT, deputado federal André Vargas (PR), diz desconhecer o episódio e também o lobista. “Nunca ouvi falar desse sujeito. Mas posso garantir que o diretório não serve de abrigo para ninguém, nem para criminosos nem para inocentes”, disse à ISTOÉ. O inquérito sigiloso, obtido por ISTOÉ, indica que Magalhães movimentou em sua conta e na de sua empresa quase R$ 10 milhões, entre 2007 e 2010. “Aproximadamente 50% destes depósitos são oriundos de cheques da Prefeitura de Barra do Corda”, diz a PF.

Tombini, o domador da inflação
Banqueiros e operadores do mundo financeiro se habituaram a ver no comando do Banco Central estrelas do mercado. Basta lembrar dois exemplos recentes. Quando foi convidado para comandar o BC no final do governo FHC, Armínio Fraga era homem de confiança e gestor dos fundos do bilionário George Soros. O presidente do BC do governo Lula, Henrique Meirelles, também fez o nome nos Estados Unidos e foi presidente mundial do Bank of Boston. Mas Dilma Rousseff optou por seguir outra direção. Não por acaso, escolheu para o cargo o economista Alexandre Tombini, um funcionário de carreira do BC, típico servidor público, formado pela Universidade de Brasília. Ao contrário dos antecessores, Tombini é reservado e avesso a qualquer tipo de exposição. Talvez por isso mesmo, entrou na linha de tiro das velhas raposas do sistema financeiro. Tomando a timidez de Tombini por tibieza, analistas importantes decidiram elevar suas críticas à política de combate à inflação. Passaram a afirmar que o BC perdeu autonomia e dança conforme a música tocada pelo Ministério da Fazenda.

Não há sinais, porém, de que o low profile de Tombini prejudique seu desempenho à frente do Banco Central. Por isso, em resposta ao alarido que começou a surgir em setores do mercado financeiro, economistas experientes e com passagem pela vida pública passaram a se posicionar mais abertamente como fiadores da gestão Tombini. Eles asseguram que o BC está no caminho correto para impedir a escalada da inflação, sem provocar uma freada brusca no crescimento ou “sem matar a galinha dos ovos de ouro”, na imagem do ministro da Fazenda, Guido Mantega. “Tombini está mais antenado com a moderna economia e com o que acontece no mundo do que os críticos que estão por aí. Não há nenhum país no mundo combatendo a inflação com os instrumentos que o Brasil está usando”, atesta o ex-ministro Delfim Netto. No mesmo tom, o economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros, tem repetido em seus artigos que se o BC, nas atuais condições, fosse comandado por uma “figura de proa” todo mundo estaria aplaudindo. “Mas o Banco Central de Tombini está fazendo um excelente trabalho. A diretoria é muito eficiente”, afirma Barros.

Os ataques à gestão Tombini ficaram mais agudos depois da última reunião do Copom. O mercado, sempre ávido por juros altos, queria mais do que o aumento de 0,25 ponto percentual na taxa Selic, que passou para 12% ao ano. Porta-vozes do mercado também criticaram o tom do comunicado, mais longo do que o habitual. O texto informou que o atual ciclo de aperto monetário vai prosseguir pelos próximos meses, mas de forma gradual, ao contrário do que esperavam algumas instituições financeiras. O ex-presidente do BC e economista-chefe da Tendências Consultoria, Gustavo Loyola, alinhado com o mercado, disse que Tombini e seu time estão assumindo riscos demais e se enganando nas previsões. “Ele está dando sinais de que está satisfeito com a atual trajetória da economia baseado num cenário complicado.” Menos contundente, o ex-diretor do BC e economista-chefe da CNC, Carlos Thadeu de Freitas Gomes, disse à ISTOÉ que “a decisão do Copom foi correta, mas há um problema de comunicação”. A penúltima nota do Copom, diz ele, dava a entender que o ciclo de alta de juros seria brusco, mas iria terminar rapidamente. Já a nota da última reunião passa a ideia de que o combate à inflação será de longa e sofrida duração. Isso explicaria o mau humor do mercado financeiro.

Delúbio está de volta ao PT
Delúbio está de volta ao PT Está de volta à cena política um dos principais operadores do PT. No fim de semana, mais de 2.000 dias depois de afastá-lo pelo envolvimento no escândalo do Mensalão, o Diretório Nacional da legenda aprovou o pedido de refiliação do ex-tesoureiro Delúbio Soares. Considerado um arquivo vivo do momento mais crítico da história do partido, o “professor”, como é tratado por amigos mais próximos, refugiou-se no silêncio nos últimos cinco anos e seis meses e demonstrou rara lealdade aos chamados capas pretas do partido. “A palavra é prata, o silêncio é ouro”, diz Delúbio quando é abordado sobre os dias de “exílio”. Agora, de volta ao partido que ajudou a fundar, com as bênçãos do ex-presidente Lula, de quem nunca deixou de ser amigo pessoal, Delúbio trabalhará mais à vontade. A amigos, tem dito que a principal lição aprendida nos últimos anos foi a de assimilar a “virtude da discrição”. No entanto, a esses mesmos amigos, Delúbio assegura que irá retomar a influência que mantinha no partido e que em seu horizonte próximo estão as urnas. Pode ser já no ano que vem, na disputa municipal em Buriti Alegre (GO), onde nasceu, ou em 2014. “Seu projeto não descarta a possibilidade de disputar uma cadeira no Senado, caso consiga retomar musculatura no PT”, disse um dos principais aliados de Delúbio no partido na tarde da quarta-feira 27. “Muitos especulam que ele pensa em se candidatar a vereador no ano que vem, mas Delúbio quer voar mais alto.”

Na última semana, a reportagem de ISTOÉ ouviu amigos e pessoas do círculo íntimo do ex-tesoureiro. Esteve na residência de Delúbio em Goiânia e almoçou com companheiros de longa data em seu restaurante preferido, o Tucunaré na Chapa, localizado numa região central da cidade. De acordo com os relatos, o projeto de Delúbio é, de fato, ambicioso. Sustentado por uma base partidária composta pelos mais ilustres petistas, o ex-tesoureiro acalenta o desejo de ser eleito deputado federal nas eleições de 2014. E, se tudo correr como o planejado, quer se tornar senador quatro anos depois. “Ele está empolgado e diz que começa uma nova etapa na vida dele”, diz sua irmã, Delma. “O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada”, costuma repetir Delúbio, citando pensamento da poetisa Cora Coralina.

O petista já cogitava concorrer à Câmara dos Deputados na eleição de 2010. No entanto, prevaleceu a avaliação de que em ano eleitoral aquele não seria o momento para o partido referendar a sua volta. Agora, o cenário é outro. O diretório do PT de Goiânia prepara uma grande festa nos próximos dias para comemorar o retorno do seu mais ilustre filiado. O evento, que marcará a reabilitação política do ex-tesoureiro, deve reunir mais de 500 pessoas, entre dirigentes nacionais e locais. “Goiânia vai entrar em júbilo pela volta de Delúbio. Mesmo que ele não queira, nós vamos organizar a festa”, afirma o ex-presidente do PT municipal, Ivanor Florêncio Mendonça.

Delúbio é identificado no meio político e empresarial como “o cara que segurou tudo”, no ápice da crise do Mensalão, entre 2005 e 2006. Esse respeito adquirido em razão da fidelidade encontra eco no PT nacional. Durante reunião da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB) e um jantar na noite da quinta-feira 28, na residência em Brasília da senadora Marta Suplicy (PT-SP), Delúbio foi saudado como estrela de primeira grandeza. Dezenas de correligionários o aplaudiram de pé. Alguns se emocionaram. “O partido fez justiça a Delúbio. Ninguém erra individualmente. Os erros são coletivos”, comemorou Francisco Rocha, o Rochinha, coordenador da CNB e membro da Comissão de Ética do PT. “Na nossa Constituição não há prisão perpétua. Por isso, apoiei a volta do Delúbio”, justificou o senador Eduardo Suplicy (PT-SP). “Ele já pagou um preço muito caro”, compadeceu-se o ex-presidente Lula em reunião com integrantes da tendência CNB.

O lobista espacial
O cônsul honorário da Bulgária no Brasil é gaúcho, dono de uma empresa que vende imagens de satélite, empreendedor interessado em construir estádios para a Copa do Mundo, ex-cartola de um time de futebol formado por refugiados palestinos e responsável pela viagem espacial do primeiro astronauta brasileiro. A sede do consulado fica no Rio de Janeiro, mas o cônsul, João Gilberto Vaz, despacha em Brasília, onde mora numa bela casa do Lago Sul. Na capital federal, apesar de tantas e tão variadas atividades, Vaz tem chamado mesmo a atenção é pelo seu controvertido trabalho como lobista.

João Gilberto Vaz gaba-se de ser o responsável por ter levado o astronauta Marcos Pontes à sua viagem turística à Estação Espacial Internacional, a ISS, na sigla em inglês. Na verdade, ele fez mais do que isso pelo programa espacial brasileiro. Sabe-se lá por quê, em 1997 o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) convocou Vaz, que ainda não era cônsul, para intermediar o malfadado acordo com a Nasa para a participação brasileira na ISS. O custo para o Brasil seria de US$ 330 milhões, incluindo o fornecimento de algumas peças para um módulo que opera na estação espacial. O negócio foi firmado no final do governo FHC, arrastou-se pelo primeiro mandato de Lula e acabou anulado pela própria Nasa, irritada com os atrasos do Brasil em cumprir o cronograma de construção de itens da ISS. Nesse meio tempo, a vida de Vaz foi melhorando.

Em função de contatos com a Academia de Ciências da Bulgária, que dividiria com os brasileiros experiências agrícolas na estação espacial, o lobista acabou convidado pela embaixada búlgara para integrar seu corpo consular. Além disso, ele recebeu ao menos US$ 10 milhões do Inpe pelo trabalho na aproximação com a agência espacial americana, apesar de existir uma ampla rede diplomática para tratar de assuntos como esses. Quando os acordos com a Nasa fracassaram, Vaz tratou de não deixar a Agência Espacial Brasileira (AEB) em uma situação vexatória. Foi ele quem intermediou com a Rússia a viagem do astronauta Marcos Pontes. Para essa missão, que custou R$ 30 milhões aos cofres públicos, Vaz teria ganhado mais alguns milhões de dólares, segundo afirmam seus detratores. Ele, no entanto, garante que tudo não passou da mais pura filantropia lobística. “Fiz um trabalho do mais alto nível. Mas não ganhei nem medalha.”

A atuação de Vaz na viagem de Pontes ao espaço ainda desperta desconfianças. Edmilson Costa Filho, coordenador de Programas e Projetos da AEB, conhece o lobista de longa data e é taxativo: “Pessoas como Vaz se aproveitam dos elos eticamente fracos do poder público. Se a AEB fosse uma agência forte e atuante, não precisaria de intermediários”, afirma. Já o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), relator da nova política espacial, nunca ouviu falar do cônsul da Bulgária, mas questiona a necessidade de mediação privada num acordo entre agências governamentais. “Em tese, deveria ser feito diretamente”, diz.

Depois das desventuras espaciais, Vaz se dedica agora a projetos mais terrenos. No momento, ele está de olho nas oportunidades abertas pela Copa do Mundo no Brasil. Na semana passada, promoveu em Salvador, São Paulo e Rio uma série de encontros para tentar emplacar sua consultoria, a Arena do Brasil Ltda. A meta de Vaz é conquistar alguns dos milionários contratos para a construção e operação de estádios da Copa de 2014. Ele não é um novato na área futebolística. Em 2007, comprou um time da terceira divisão do Distrito Federal e o batizou com o nome da empresa que vende imagens de satélite, seu xodó naquela época. O “Brazsat Futebol Clube” era formado por refugiados palestinos vindos do Iraque, por meio de um convênio que Vaz assinou com a Acnur, a agência da ONU para refugiados. A equipe chegou a ser tema de um documentário na rede de tevê árabe Al Jazeera e avançou para a segunda divisão. O cartola João Gilberto Vaz não conseguiu, contudo, levar o Brazsat para a primeira divisão e o time foi desfeito. Mas com essa experiência ele abriu canais com a CBF, que agora utiliza em sua nova área de negócios.

Sempre bonachão e muito bem relacionado, Vaz é figurinha carimbada nos círculos da elite brasiliense. Costuma participar dos seminários promovidos pelo Gabinete de Segurança Institucional, fala sobre cursos feitos na Escola Superior de Guerra e não perde coquetéis e festas da comunidade diplomática. Chegou a integrar comitivas especiais, se diz amigo do deputado federal Protógenes Queiroz (PSOL-SP), o polêmico delegado da Operação Satiagraha, e exibe fotos ao lado do ex-presidente Lula e do arquiteto Oscar Niemeyer.

Um topete contra Obama
O bilionário americano Donald Trump sempre foi conhecido por arranha-céus, casamentos tumultuados e um indefectível topete, que seus detratores garantem ser mais sólido do que concreto armado. Nos últimos anos, ele também ganhou status de estrela televisiva ao apresentar o reality show “O Aprendiz” e por seu prazer em proferir as palavras “Você Está Demitido”. Apesar de sempre ter opinião sobre tudo e todos, Trump nunca foi levado a sério quando o assunto fugia da esfera mulheres bonitas, mercado imobiliário ou tratamentos capilares. Agora, às vésperas de completar 65 anos, Trump quer provar aos americanos que não é apenas mais um playboy falastrão obcecado pelos holofotes e convencê-los de que ele é a melhor opção para substituir Barack Obama na Casa Branca nas eleições presidenciais de 2012.

Por enquanto, porém, a estratégia de Trump tem sido exatamente encarnar o papel de playboy falastrão obcecado por holofotes. Na quarta-feira 27, ele seguiu esse script à risca para comentar o fato de a Casa Branca ter divulgado a íntegra da certidão de nascimento de Barack Obama. Reuniu a imprensa em um hangar do aeroporto da cidade Dover, no estratégico Estado de New Hampshire, e chegou apoteótico em seu helicóptero negro para a entrevista coletiva. “Estou orgulhoso, consegui o que ninguém conseguiu, fazer Obama provar que não é africano”, disse, referindo-se às repetidas insinuações que fez durante as semanas anteriores de que Obama havia nascido na África, e não no Havaí. Obama, por sua vez, limitou-se a afirmar que tem coisas mais importantes a fazer do que mostrar sua certidão de nascimento.

Apesar de estar em campanha, Trump não declarou oficialmente que concorrerá à Presidência pelo Partido Republicano. Suas atuações, que mais têm parecido shows televisivos vespertinos do que encontros políticos, não têm sido levadas a sério nem mesmo por seus colegas de partido. Para muitos, Trump está apenas atrás de visibilidade na mídia. Mas parte do eleitorado conservador americano parece pensar diferente.

As últimas pesquisas de intenção de voto nas primárias republicanas realizadas pelo instituto Gallup mostram Trump como um dos principais candidatos do partido, com 16% da preferência dos eleitores, empatado em primeiro lugar com o ex-governador do Arkansas Mike Huckabee. Outra pesquisa, realizada no dia 12 de abril, pela Public Policy Polling, deu a preferência a Trump, com 26% dos votos, seguido por Huckabee com 17%. Os números, é claro, animaram Trump, que já cogita a possibilidade de lançar-se candidato independente caso seja rejeitado pelos republicanos. Ao contrário do Brasil, nos Estados Unidos uma pessoa não precisa estar filiada a nenhum partido para concorrer à Presidência.

ÉPOCA

Antonio Carlos Magalhães Neto: “A oposição precisa perder o medo”
Em meio à rotina na câmara, o líder do DEM, deputado Antonio Carlos Magalhães Neto, desabafa: “Todo mundo quer ser governo”. Desde o início do ano, ACM Neto vive um período difícil de sua vida política. A oposição, da qual ele é um dos líderes, emagreceu para menos de 100 entre 513 deputados federais. Seu partido, o DEM, está ameaçado de extinção por deserções em direção ao PSD. Mesmo assim, ACM Neto é um opositor ativo. Além das críticas na tribuna, ele lançou um site para acompanhar o cumprimento das promessas da presidente Dilma Rousseff. Nesta entrevista concedida em seu apartamento, ACM Neto afirma que a oposição tem de se organizar, elaborar um projeto para o país (hoje inexistente) e construir uma candidatura presidencial desde já. “A oposição precisa sair do Congresso e ir para as ruas”, afirma.

ÉPOCA – A oposição no Congresso tem seu menor contingente em mais de uma década. Por que ninguém quer ser oposição?
Antonio Carlos Magalhães Neto – A política brasileira vive a síndrome do adesismo. Muitos (políticos) se dirigem a mim envergonhados: “Olha, gosto de você, gosto dos meus amigos de partido, devo muito ao Democratas, no entanto eu só vou sobreviver se virar governo”. A gente tenta mostrar que pode ter um projeto futuro, mas boa parte dos políticos só enxerga o dia de amanhã. Os políticos acham que só sobrevivem nas barras da saia do governo.

ÉPOCA – O DEM, antes PFL, sempre foi governista. Seu avô, o senador Antônio Carlos Magalhães (1927-2007), sempre foi governista. O senhor se elegeu em 2002, quando o DEM deixou o poder, e só foi da oposição. É tão ruim viver na oposição?
ACM Neto – (Ri) Eu não acho que seja tão ruim. Uma democracia forte não se sustenta sem uma oposição combativa, aguerrida, que tenha a clareza de seu papel. O PT viveu mais tempo na oposição do que está vivendo no governo. Em dado momento, o PT foi menor do que o DEM é hoje e, no entanto, teve um projeto claro, soube ir para as ruas e soube conquistar o poder.

ÉPOCA – A percepção da população é que o Brasil vive um bom momento. Qual discurso resta à oposição?
ACM Neto – O Brasil vivia um momento melhor em 2010. A situação econômica era mais tranquila, estávamos no auge da popularidade de Lula e, ainda assim, a oposição teve 44 milhões de votos. A oposição precisa sair dos corredores do Congresso e ir para as ruas. Tem de acabar com esse medo de ir para as universidades debater, medo de ir para os sindicatos debater, medo de ir para as fábricas discursar, medo de buscar os jovens. Esse ambiente do Congresso é um ambiente onde todo mundo está protegido. Tem de ter a coragem de ir para a rua. O Partido Conservador inglês conseguiu dar a virada. Quando Tony Blair (Partido Trabalhista) ganhou, muitos preconizavam que os conservadores estavam acabados. Mas os conservadores resistiram na oposição e venceram.

Três anos para sair da lama
A história da construção do Aeroporto Internacional de São Gonçalo do Amarante, município a 40 quilômetros de Natal, no Rio Grande do Norte, simboliza bem o estado atual da política aeroportuária brasileira. As ideias para o local, formuladas há cerca de 15 anos, são grandiosas. Planeja-se um complexo de cargas e passageiros capaz de suportar 11,4 milhões de pessoas por ano, o que o colocaria, hoje, como o quarto maior aeroporto do Brasil, atrás apenas de Guarulhos, Galeão e Congonhas. Em fevereiro de 2008, o governo encaminhou a operação para o Programa Nacional de Desestatização. Era a formalização da promessa de ter em Amarante o primeiro terminal brasileiro administradto pela iniciativa privada. Até hoje, porém, tudo o que há no local é o asfalto das pistas de pouso e decolagem colocado pelo Exército.

Enquanto as minutas de editais eram submetidas a diversas consultas públicas e análises técnicas, nem as vias de acesso à região foram providenciadas. A estrada ainda é de terra. Também não há notícia de empresa privada interessada em explorá-lo. Especula-se que nesta semana, finalmente, saia o edital definitivo com as regras da concessão. A empresa vencedora terá três anos para concluir as obras, em troca de 25 anos de direito de exploração. Na melhor das hipóteses, o terminal de Amarante começará a operar poucos dias antes do início da Copa de 2014. Um sufoco.

Na semana passada, durante uma reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, anunciou que o governo também pretende entregar à iniciativa privada as obras de ampliação e reforma de três dos mais importantes aeroportos do país: Guarulhos, Brasília e Campinas. Em troca, as empresas poderão explorar, por tempo determinado, os terminais ampliados. Mais duas concessões em estudo deverão ser anunciadas em breve: Galeão e Confins, em Minas Gerais. A ideia de abrir o setor aéreo para a iniciativa privada era discutida há tempos dentro do governo federal. Mas não foi levada adiante pela gestão do ex-presidente Lula por razões que misturam interesses eleitoreiros (a iniciativa poderia enfraquecer a estratégia petista de tachar o adversário tucano de privatista durante a campanha presidencial de 2010), reações corporativas (a falta de vontade da Infraero, a estatal responsável pela administração dos aeroportos, em ceder espaço) e resistências ideológicas de setores do governo, do PT e das Forças Armadas que adotam o discurso nacional estatista.

A medida de entregar à iniciativa privada as obras de ampliação e reforma dos aeroportos demorou tanto que não há nenhuma garantia de que ela vá surtir efeito até a Copa do Mundo de 2014, apesar do otimismo propalado pelo ministro Palocci, que prometeu os primeiros editais de concessão para maio. Nos próximos meses, o governo deverá tomar outra medida de impacto para o setor: a abertura de capital da Infraero, constantemente acusada de irregularidades, ineficiência e empreguismo. O ato, defendido pela presidente Dilma Rousseff desde a campanha de 2010, não chegou a ser mencionado por Palocci, mas é aguardado com ansiedade pelo mercado.

Com a estrela no bolso
Num dia ensolarado em setembro do ano passado, o petista Delúbio Soares encaminhou-se ao complexo empresarial Brasil XXI, no centro de Brasília, entrou pela garagem e se dirigiu à sala 320 do Bloco E. Lá, o grupo petista ligado ao ex-ministro José Dirceu mantém um discreto escritório, destinado a encontros políticos reservados e a negociações obscuras. Na portaria do prédio, uma placa informa que ali funciona a “Lobato Advocacia e Consultoria Jurídica”, do advogado Marthius Lobato. Ele presta serviços ao Fenadados, sindicato petista que reúne trabalhadores de empresas de informática. O Fenadados é chefiado pelo sindicalista Carlos Alberto Valadares, conhecido como Gandola, amigo de Delúbio.

A mesma sala 320 serve de sede oficial de outro escritório de advocacia, do petista e sindicalista Luiz Egami, também amigo de Delúbio e nome ligado a José Dirceu em Brasília. Lobato, Egami e Gandola são personagens desconhecidos do público, assim como Delúbio, companheiro de todos eles, uma vez foi. Nenhum deles tem cargo no governo, mas todos transitam pelos mesmos gabinetes do poder onde o setor do PT capitaneado por Dirceu reina há oito anos. A missão dessa equipe, assim como a de Delúbio sempre foi, é defender os interesses políticos e econômicos do PT. A sala 320 é um dos principais pontos de encontro do grupo.

O próprio Dirceu, o “chefe da organização criminosa” do mensalão, nos dizeres da Procuradoria-Geral da República, costuma frequentar as reuniões na sala 320. Desta vez, porém, ele não estava lá. Numa das salas do escritório, em volta de uma mesa quadrada de vidro, Delúbio e outros sete companheiros reuniram-se para discutir os rumos da campanha de Dilma Rousseff. Dois deles, que frequentam o local, aceitaram contar a ÉPOCA o que se passava ali. Naquela ocasião, a turma de Dirceu debatia formas de captar mais recursos para a campanha de Dilma. Também discutiam estratégias políticas, sobretudo ações em redes sociais como o Twitter, para enfraquecer a candidatura do tucano José Serra. Segundo petistas, políticos e lobistas ouvidos por ÉPOCA, Delúbio fez de tudo para ajudar na campanha presidencial de Dilma.

Ao final da reunião, Delúbio compartilhou com os amigos duas boas notícias. Primeiro, contou que sua vida financeira estava melhorando. “Passei momentos difíceis, mas eles estão me ajudando muito”, afirmou Delúbio, apontando com um aceno de cabeça três torres que se erguiam em frente à ampla janela da sala 320, construídas pela incorporadora Brookfield. Egami, seu amigo e lobista de empresas de informática, deu mais explicações: “Ele (Delúbio) está prestando consultorias para a Brookfield”. Um ano antes, em 2009, a Brookfield vendera duas das torres para a Previ, o bilionário fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil. A Previ não investia em novos imóveis havia nove anos. Valor do negócio: R$ 342 milhões.

O bullying do Senado (trecho de artigo de Ruth de Aquino)
Somos vítimas de bullying político, moral e cívico. E nada fazemos. O país parece anestesiado pela overdose real de William e Kate naquela ilha ao norte do Equador. Ao sul, em nossa república tropicalista, assistimos passivamente a uma das cerimônias mais vergonhosas do Senado. Renan Calheiros acaba de entrar para a Comissão de Ética. Roberto Requião arranca gravador de repórter para apagar sua própria entrevista. Tudo com o beneplácito do padrinho-mor José Sarney. Tapa na cara, bofetada na nação, cinismo institucional. Assim cientistas políticos e especialistas em ética classificaram as últimas ações do Senado. Roberto Romano, da Unicamp, declarou: “Se o Senado fechar amanhã, ninguém vai sentir falta, salvo os lobistas e os políticos que querem atingir o Tesouro Nacional por meio da troca de favores”. Claudio Abramo, diretor da ONG Transparência Brasil, foi além: “O Senado não precisa existir, não tem função. Não há nada que ele faça que a Câmara não possa fazer. Pode desaparecer sem prejuízo e seria até mais barato”.

Essas reações podem parecer destemperadas numa democracia que atribui seu equilíbrio à existência de duas Casas: a Câmara e o Senado. Mas respeito e credibilidade não são automáticos. Oito senadores indicados para a Comissão de Ética respondem a inquéritos ou processos no Supremo Tribunal Federal. A missão desse grupo “seleto” é vigiar e garantir o decoro dos 81 senadores. No novo conselho, muitos são amigos íntimos, alguns conterrâneos, do maranhense Sarney. O próprio Sarney esteve envolvido em 11 processos no ano passado – mas foi entronizado como “homem não comum” pelo ex-presidente Lula.

O presidente da Comissão de Ética, João Alberto, do PMDB, governou o Maranhão em 1990. Nesse ano, uma lei estadual doou um prédio histórico à família Sarney. Quem é João Alberto para ser o guardião do decoro do Senado? Quais são suas credenciais para o país acreditar em seu slogan “Vamos cortar na nossa própria carne”? Nas três vezes em que ocupou o mesmo cargo, João Alberto engavetou todos os processos abertos na Comissão de Ética. No Brasil de hoje, “formação de quadrilha” deixou de ser acusação. Mais escandaloso é o resgate do líder do PMDB, o alagoano Renan Calheiros. O conselho aprovou em 2007 sua cassação, rejeitada pelo plenário. Calheiros enfrentou denúncias de quebra de decoro, corrupção, desvio de dinheiro público, sonegação de bens, uso de laranjas. Renunciou à presidência do Senado e foi absolvido pelos pares.

(...)

Tudo o que Calheiros possa ter de “docinho”, seu colega de Senado Roberto Requião tem de truculento. Arrancou na segunda-feira um gravador das mãos de um repórter. Irritou-se com uma pergunta procedente: ele abriria mão da aposentadoria de R$ 24.117 que recebe como ex-governador do Paraná? Requião só devolveu o gravador após apagar a entrevista. Sarney o defendeu: “Requião é um cavalheiro”. Na tribuna, o senador disse ser vítima do “bullying de uma imprensa às vezes provocadora e muitas vezes irresponsável”.

Bullying é o que os senhores, senadores, resolveram praticar contra quem paga seus subsídios.

Obama, você está demitido!
Se assumisse o poder nos Estados Unidos, é provável que ele virasse para o presidente Barack Obama e, no melhor estilo de seu reality show, disparasse na lata o bordão com que elimina os participantes do programa: – You are fired! (Você está demitido!)

Aos 64 anos, Donald Trump, o excêntrico bilionário de cabelos tingidos e penteado, digamos, inimitável (leia o quadro abaixo) , se tornou a mais nova estrela na soporífera – questão fiscal, reforma da saúde, teto de endividamento, corte de gastos militares, zzz... – cena política americana. O megaempresário nova-iorquino do setor imobiliário, cuja fortuna só parece ser superada pelo tamanho de seu ego (ele chama de Trump a maioria de seus empreendimentos), decidirá neste mês se pretende disputar a Presidência contra Obama no ano que vem. “Obama tem sido o pior presidente da história. Este país virou motivo de chacota para o resto do mundo”, diz Trump.

Ele se tornou celebridade como apresentador do programa The apprentice (O aprendiz) , em que executivos lutam para ganhar uma vaga em uma de suas empresas – e ganhou uma versão brasileira. O balão de ensaio de sua candidatura ganhou altura quando saíram as primeiras pesquisas de opinião sobre os possíveis pretendentes à nomeação do Partido Republicano. Trump apareceu com cerca de 20% da preferência, em primeiro lugar ou dividindo o topo com Mike Huckabee, ex-governador do Arkansas e nome forte dentro do partido. Entre os eleitores simpáticos ao Tea Party, a ala populista dos republicanos, Trump ganha ainda mais pontos. O motivo é ele ter abraçado a causa dos birthers, termo pelo qual são conhecidos os que não acreditam que Obama tenha nascido nos EUA. “Mostre-me sua certidão de nascimento que eu mostro meu patrimônio líquido”, disse Trump.

Só que The Donald, como Trump é conhecido nos EUA, não esperava que Obama aceitasse o desafio. Na semana passada, a Casa Branca divulgou na internet uma cópia da certidão. Com a assinatura de Stanley Ann Dunham Obama, mãe do presidente, o documento atesta que ele nasceu na maternidade do hospital Kapiolani, em Honolulu, capital do Havaí, no dia 4 de agosto de 1961. Obama disse que tinha “outras coisas para fazer” além de comprovar onde nasceu. Decidiu fazê-lo para que, segundo ele, os americanos não se distraiam com “animadores de circos” – sem citar Trump, o destinatário estava claro. Agora, cabe a Trump cumprir sua parte da promessa e tornar público o tamanho de sua riqueza. De acordo com a revista Forbes, ele tem US$ 2,7 bilhões e é o 420º homem mais rico do mundo. Mas Trump diz ter bem mais que isso.

CARTACAPITAL

O declínio da oposição
Com a vitória do sociólogo Fernando Henrique Cardoso, em 1994, a embriaguês provocada pelo sucesso do Plano Real levou Sergio Motta, então ministro das Comunicações, a prever que o PSDB ficaria no poder por 20 anos (para isso não poupou forças e atropelou limites éticos). Preparou a emenda da reeleição de FHC e passou como um trator sobre a oposição ao catar votos a qualquer preço. Elogiado como operador político e financeiro das campanhas eleitorais tucanas, Motta falhou no papel de oráculo. O planejado império tucano durou oito anos. Empurrado para o papel de principal opositor do governo petista o PSDB e, mais ainda, seus aliados sofreram um impacto ameaçador ao longo dos oito anos do operário Lula no governo. A vitória de Dilma acelerou o processo e o DEM (ex-PFL), por exemplo, vive um perigoso minguante.

O que explica a erosão político-partidária da oposição?

Reflexões mais profundas levariam à conclusão de que, sem enraizamento social, ela perdeu-se ao deixar o poder. Mas há circunstâncias contingenciais. Os adversários do PT ficaram sem o norte, dizem em coro. É mais grave, porém, do que isso. Eles se desnortearam ao se apresentarem nas eleições tentando esconder o que fizeram: as privatizações que pressupunham a destruição das bases do “Estado brasileiro” para soerguimento de um “Estado mínimo”, globalizado e sem soberania.

O retrato desse amedrontado comportamento foi exibido no decorrer das três últimas campanhas presidenciais. Como opositores, são muitas as quimeras dos tucanos. Eles agora prenunciam uma “ditadura partidária” do PT que pode levar à situação ocorrida no México. Ou seja, o domínio, por 70 anos, do Partido Revolucionário Institucional (PRI). Essa nova tentativa de aterrorizar a sociedade entra, no entanto, em contradição com o devaneio de que são da oposição, ou ainda melhor, significam rejeição a Dilma, 43 milhões, 711 mil e 388 votos obtidos pelo candidato José Serra no 2º turno. Isso equivale a 43,95% dos votos válidos. Eis a tese:
“O papel da oposição, em larga medida, foi representado pela mídia”, escreveu com precisão, recentemente (em O Globo), o embaixador aposentado Rubens Barbosa, presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp, ao lamentar que a oposição tenha perdido o discurso. Mas foi impreciso o formulador tucano ao deduzir que “… 43 milhões rejeitaram o que o PT representa…”

A agonia dos tucanos
A oposição parece cada vez mais sem rumo. Após a debandada de seis vereadores da bancada do PSDB- na Câmara de São Paulo, um dos fundadores do partido, o ex-deputado Walter Feldman, anunciou que deixará a sigla. Não está certo o seu destino, embora o mais provável seja a migração para o recém-criado PSD, de Kassab. O ex-deputado Ricardo Montoro também sinalizou que pretende sair. Em meio à crise, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso admitiu, pela primeira vez, a possibilidade de fusão entre o PSDB e o DEM. A CartaCapital, o cientista político Cláudio Gonçalves Couto, da FGV-SP, avalia que a estratégia interessa mais aos democratas que aos tucanos. E destaca a sobreposição dos interesses pessoais como uma das principais causas da conjuntura.

CartaCapital: O que explica essa debandada?
Cláudio Gonçalves Couto: É o reflexo de uma crise de liderança e projeto. Nenhum partido sobrevive sem um projeto de poder, o que implica a formação de consensos, a aceitação dos grupos minoritários e as compensações a eles. Mas, nessa guerra fratricida entre Serra e Alckmin, está difícil arrefecer as disputas internas.

CC: O que está em jogo?
CGC: A aliança entre Serra e Kassab para a eleição de 2008 impôs uma derrota vexatória para Alckmin, que, naturalmente, quer vir à forra. Além disso, o governador paulista tem pretensões de se reeleger em 2014. E novamente enfrentará Kassab. Tanto para Alckmin como para o seu aliado Aécio Neves, o ideal seria que Serra se candidatasse a prefeito de São Paulo. Mas o presidenciável derrotado nas últimas eleições se recusa a desempenhar um papel meramente regional.

CC: E a fusão do PSDB com o DEM, faz sentido?
CGC: Para o DEM, sim. A bancada do partido tem diminuído a cada eleição e, com a criação do PSD, eles perderam 11 deputados e uma senadora. Estão em decadência. O PSDB passa por um momento difícil, mas tem oito governadores, uma bancada forte. Essa fusão poderia desgastar os tucanos com o eleitorado de centro-esquerda.

CC: E como sobreviver?
CGC: O PSDB pode se assumir como um partido liberal do ponto de vista político. Até porque o PT já assumiu o papel de defesa da social-democracia. O PSDB precisa propor algo novo para se diferenciar. Não se trata de se afastar do povão, como disse FHC. É possível ser liberal e popular.

O poder da maioria
Vanessa Antonio, a garota da capa, é o novo alvo típico das pretensões eleitorais dos partidos hegemônicos no cenário político: PT e PSDB. E também de grande parte das empresas. Aos 20 anos, ela integra a porção jovem dos 31 milhões de brasileiros recém-instalados no meio da pirâmide social, com renda familiar mensal entre 1,5 mil e 5 mil reais. Vanessa e outros milhões de jovens das periferias começam a desempenhar o papel de principais formadores de opinião da chamada “nova classe média”. Os efeitos desse fenômeno ainda não foram totalmente medidos, mas os especialistas não têm dúvida: as mudanças na pirâmide social, com a consolidação da hegemonia da classe C, já começaram a alterar velhas tendências, do consumo e das eleições. A estimativa é de que, em 2014, esse estrato represente 57% do eleitorado obrigatório (de 18 a 69 anos), ou 71 milhões de votos. Desse total, 44% terão entre 18 e 34 anos e níveis de escolaridade e renda em rápida ascensão, o que aumentará a sua interlocução e influência nas comunidades.

Não foi à toa que os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva travaram nos últimos dias uma guerra verbal acerca da conquista desse eleitorado. O PT e o PSDB têm gastado tempo e dinheiro em pesquisas, análises e projetos que os ajudem a entender melhor o que quer essa multidão emergente que acorda cedo para trabalhar, lota as faculdades à noite, come macarronada com
frango aos domingos ao som de Ivete Sangalo e ainda reserva uma parcela da renda para o dízimo, principalmente aquele cobrado por igrejas neopentecostais.

Como todo o novo estrato da classe C, Vanessa imprime e avalia a realidade de outros ângulos, sem imitar a tradicional classe média, e é muito mais pragmática. “Vamos fazer um voto de classe, nada ideológico. Lula nos ajudou a chegar aqui, mas temos de continuar a escalada para ficar mesmo na média. O PT tem grandes propostas e fez a nossa diferença, por isso a Dilma (Rousseff ) foi eleita. Agora, o PSDB é complicado, é mais elitista, mas também tem boas propostas e há também outras opções. Então, vamos escolher os candidatos que poderão fazer mais pela classe C, pela periferia, por nós”, avisa a estudante de Administração da Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo.

Ministério Público denuncia 25 pessoas por fraude em marketing no Banrisul
A Justiça gaúcha aceitou, na quinta-feira 28, a denúncia do Ministério Público contra 25 pessoas supostamente envolvidas num esquema de superfaturamento em ações de marketing do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul). Entre os denunciados estão donos de grandes agências de publicidade e ex-altos quadros do banco. Segundo a operação, batizada de Mercari, o montante desviado está em torno de 5 milhões de reais.

Em setembro do ano passado, a investigação da Polícia Federal e dos Ministérios Públicos Estadual e de Contas apontaram para a existência de um esquema de desvio de dinheiro que operava dentro do setor de marketing do Banrisul. Na ocasião, o superintendente de marketing do banco, Walney Fehlberg, o representante da agência de publicidade SLM Gilson Stork e o diretor da agência DCS, Armando D’Elia Neto, foram presos em flagrante por não informarem a origem do dinheiro encontrado em suas casas – segundo a PF, mais de 3 milhões de reais em espécie.

Após receber a denúncia, a juíza Deborah Coleto de Moraes, da 6ª Vara Criminal de Porto Alegre, levantou o segredo de Justiça, e justificou: “A aplicação do segredo de justiça ao feito somente se justifica na fase investigatória, com a finalidade de possibilitar seu andamento e a integridade dos dados apurados”. A suposta organização criminosa superfaturava campanhas de marketing, feitas por empresas terceirizadas que recebiam valores muito abaixo daqueles pagos pelo banco. O dinheiro a mais seria, então, dividido entre quadros de agências de publicidade e assessores do banco. Os acusados têm dez dias para apresentar defesa.

Na cegueira da “Guerra ao Terror”
Os documentos secretos do Pentágono publicados recentemente pelo site WikiLeaks revelam que numerosos presos na Baía de Guantánamo, erroneamente catalogados como “uma ameaça mínima”, foram libertados, enquanto centenas de reclusos inocentes foram mantidos no centro de detenção. Além disso, a prisão em Guantánamo, estabelecida em janeiro de 2002 sob George W. Bush, não ajudou os Estados Unidos a desmantelar a rede Al-Qaeda. Centenas de detidos, inclusive
adolescentes e idosos de 89 anos a padecer de demência senil, permaneceram detidos anos a fio, sem ter qualquer conexão com organizações terroristas. Barack Obama, que em janeiro de 2009 prometeu fechar o centro de detenção em um ano, julgou infeliz a divulgação dos documentos secretos. Fez mais: defendeu a atuação “cuidadosa” e “diligente” de seus antecessores. Em março, o presidente norte-americano pôs fim ao congelamento de dois anos de processos militares em Guantánamo.

Michael Strauss, professor de Relações Internacionais do Centre d’Études Diplomatiques et Stratégiques de Paris e autor de The Leasing of Guantánamo Bay (Praeger, 2009), faz uma análise que transcende as repercussões dos documentos divulgados pelo WikiLeaks. Strauss aprofunda, entre outros temas, o debate sobre a legalidade dos julgamentos militares no contexto do arrendamento territorial entre Cuba e Estados Unidos. O acordo, assinado em 1903, deu aos EUA direitos jurídicos sobre Guantánamo. Strauss relembra como o governo Bush enganou o sistema legal dos Estados Unidos na sua “guerra contra o terror”.

CartaCapital: A prisão em Guantánamo é um fiasco?
Michael Strauss: Não creio que em si seja um fiasco, mas podemos chamar de fiasco a estrutura na qual ela supostamente deveria funcionar. As razões que levaram os Estados Unidos a estabelecer uma prisão em Guantánamo foram estas: deslocar o crime de terrorismo da esfera civil para a militar e deter os presos fora de seu território soberano. Esse esquema criou vários novos problemas legais, políticos e morais. Para os norteamericanos, ficou ainda mais difícil lidar com a questão do terrorismo com parceiros internacionais.

“Crimes contra a humanidade não podem ser anistiados”
Quando falou ao repórter sobre a Lei da Anistia, Marcia Poole, diretora de Informações e Comunicações da Anistia Internacional, foi taxativa: “existem crimes que são imprescritíveis e as famílias dos mortos e desaparecidos têm o direito de saber o que aconteceu com eles”, disse, ao ressaltar a importância que teria para o País a constituição da Comissão da Verdade. Depois de 10 anos sem um posto no Brasil, a entidade vai reabrir seu escritório aqui, só falta decidir a cidade, Rio de Janeiro ou em São Paulo. Os avanços no desenvolvimento econômico do País e o novo papel que passou a representar no âmbito internacional são as motivações apresentadas por Marcia Poole, que visitou nesta quinta-feira 28 a Redação de CartaCapital.

Na entrevista, ela se mostrou bastante motivada pelo novo desafio, que começa no momento em que a Anistia Internacional completa 50 anos de vida. Para preparar o lançamento do escritório brasileiro, que deve acontecer nos próximos meses, ela e o secretário-geral Salil Shetty cumprem extensa agenda de reuniões e encontros, que deve culminar com uma visita à presidenta Dilma Rousseff.

Para Marcia, as relações com o governo brasileiro são abertas e cordiais e a entidade constata um avanço no País em relação ao respeito aos direitos humanos nos últimos anos. Ela elogia os programas sociais criados no governo Lula e reconhece que atravessamos um período de diminuição das injustiças sociais. Porém, não faltam ressalvas. A Anistia deve concentrar seu olhar nos casos de violência contra a mulher, no tratamento dado às nações indígenas e nas condições de vida dos pobres e miseráveis. “A Segurança Pública também será nosso foco”, a diretora acrescenta, ao ressaltar que apoia iniciativas como as UPPs no Rio de Janeiro, mas as vê “ainda como pouco abrangentes”.

Atenta a tudo que acontece pelo mundo, ela não deixou de falar sobre os eventos da Líbia, Síria,Tunísia e Egito. Instada a se posicionar sobre as recentes denúncias do site WikiLeaks sobre as condições dos presos da base americana em Guantánamo, ela foi categórica: “a Anistia Internacional defende o fechamento da base e levou sua posição ao presidente Obama antes dele tomar posse”. A seguir, a entrevista que concedeu a CartaCapital (o Congresso em Foco registra as três primeiras perguntas):

CartaCapital: O que motiva a Anistia Internacional a montar seu escritório aqui no Brasil?
Marcia Poole: Basicamente, uma confluência de dois fatores: um ligado ao Brasil e outro ligado à Anistia. O Brasil está passando por um momento muito importante, a nível nacional e internacional. Nós estamos vendo um avanço da questão dos direitos humanos no Brasil. Mas com esses grandes eventos vindos para cá, as Olimpíadas e a Copa do Mundo, há, por um lado, uma oportunidade para o Brasil, se o País criar um modelo que beneficie os direitos humanos, mas, por outro, ainda há certas preocupações. A voz do Brasil tem um peso cada vez maior nos organismos internacionais como as Nações Unidas e os fóruns, como o G-20. O Brasil já tem um papel de liderança econômica e política, mas poderia ter uma governança mundial, criar um novo paradigma. A Anistia, em 28 de maio, completa 50 anos. Nesse momento, a nível global, está sendo revitalizada. 98% dos membros e simpatizantes da Anistia se encontram no chamado Norte global: Europa Ocidental, EUA e Canadá. Nós achamos que é preciso ter uma presença maior – a gente quer ser um movimento de fato global de direitos humanos – no Sul e, sobretudo nesses países que estão emergindo como líderes. Temos um projeto de expansão no Sul Global e nos chamados BRICS, porque a gente inclui o S de África do Sul.

CC: Como começou o trabalho de vocês aqui no País?
MP: Temos uma relação muito especial com o Brasil. Operamos de várias formas, mas tradicionalmente quando há gente correndo risco, defensores de direitos humanos, pessoas presas por motivos políticos, a Anistia mobiliza sua rede de membros e simpatizantes para escrever cartas, para pressionar as autoridades para defender a vida daquelas pessoas. A primeira ação urgente da nossa história foi no Brasil, em apoio ao Luiz Rossi, professor universitário que na época era preso político da ditadura. O nosso primeiro relatório global sobre a tortura foi no Brasil, o ex-presidente Lula foi um preso adotado e defendido pela Anistia, um preso de consciência da Anistia. Nós temos esse relacionamento com o Brasil que já vem lá do nosso começo, coincide nossa chegada aqui com o aniversário da Anistia. Não viemos para cá para comemorar a Anistia, mas para celebrar a luta pelos direitos humanos que temos feito pelo mundo. São três milhões de membros em todo o mundo e ainda tem muito a fazer. Queremos estar no Sul e esse é um momento muito importante para o Brasil também.

CC: Que estrutura vocês pretendem ter aqui?
MP: No Brasil, vamos começar com uma estrutura um pouquinho diferente. Na Europa Ocidental e nos Estados Unidos temos membros locais, como eu ou você, que se reúnem e elegem uma junta de governança, dependendo do número de membros varia o número da junta e a junta seleciona por sua vez o staff e o quadro de funcionários, a começar por um diretor ou diretora. Aqui vamos começar abrindo um escritório que seria mais ou menos uma filial do secretariado internacional. No nosso plano de implantação no Brasil há uma estratégia de 5 anos e esperamos que no final desse período tenhamos esse modelo aqui. Nós vamos começar pelo escritório, até para ir um pouco mais rápido, por assim dizer. Normalmente, no escritório da Anistia você tem um diretor. A espinha dorsal do nosso trabalho é a apuração e monitoramento da situação de direitos humanos, por isso temos pesquisadores. Nesse momento, a maioria de nossos pesquisadores se encontra em Londres e atuam para todos os países. Estamos fazendo um projeto de descentralização para estar mais perto de onde ocorrem as violações. Até porque, em um momento inicial, a razão de ter todo mundo em Londres era por uma questão de segurança, pois se você estivesse no país onde ocorriam os problemas você sofria mais ameaças. Por exemplo, ter um pesquisador sobre o Zimbábue no Zimbábue. Ou antigamente, na época da ditadura aqui no Brasil, você ter um pesquisador brasileiro baseado em Londres era mais seguro. Estamos agora fazendo um modelo para trazer essas pessoas para mais perto. Para começar, os pesquisadores sobre o Brasil estarão em Londres, mas daqui a dois anos vamos trazê-los para cá e contratar mais pesquisadores para podermos trabalhar ainda mais no Brasil. Vamos encontrar pesquisadores de direitos humanos, pessoas que fazem as campanhas de mobilização em cima do que a gente apura. Vamos ter um diretor de captação de recursos e a parte da comunicação, que é fundamental. Estamos pensando entre 12 e 15 pessoas, no Rio de Janeiro ou São Paulo. Vendo essas questões relativas às Olimpíadas e a Copa do Mundo, a gente está começando a considerar que num primeiro momento talvez seja melhor ter o escritório no Rio.
Fonte: Congressoemfoco

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