Dados oficiais mostram que já temos 34 homicídios a cada 100 mil habitantes. São Paulo tem 11. O Rio, 34,8
Aline Peres e Diego RibeiroQuando os crimes da região metropolitana de Curitiba são somados aos da capital, os números são ainda mais preocupantes: foram 1.523 assassinatos em 2009 – o que, para 3,3 milhões de habitantes, resulta em 46 homicídios por 100 mil habitantes. “A taxa de Curitiba é bastante elevada em relação ao contexto nacional e demonstra uma deterioração na cidade”, afirma Ignácio Cano, doutor em Sociologia e integrante do Laboratório de Análise da Violência da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Se comparada com a capital fluminense, que tem uma população menor que São Paulo, o número ainda assusta. Enquanto Curitiba vive com 34 homicídios/100 mil habitantes, no Rio de Janeiro, cidade sempre criticada pelo domínio do tráfico de drogas, o índice é de 34,8, quase igual ao da capital do Paraná. Os cariocas registraram uma população de 6,1 milhões de pessoas no ano passado.
Os especialistas garantem: a escalada do crime contra a vida é preocupante e não pode ser explicada de forma simples. “Existe uma combinação de fatores que pode explicar essa taxa alta. Primeiro, Curitiba é uma cidade que tem se desenvolvido muito rápido. Segundo, a cidade tem uma posição geográfica de passagem no país”, explica o sociólogo e coordenador do programa de mestrado e doutorado em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Lindomar Bonetti.
Na opinião dele, Curitiba está entre as capitais com infraestrutura mais precária na periferia da cidade, o que favorece a violência. A solução para frear a disparada dos homicídios também é complexa. Os especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo são unânimes: apenas aumentar o efetivo policial não resolve. “Não basta apenas a presença policial. Hoje, a concepção de segurança não pode descartar a participação dos municípios, principalmente no que diz respeito à prevenção”, enfatiza Tião Santos, integrante do Conselho Nacional de Segurança Pública e coordenador da ONG Viva Rio.
Para Santos, as prefeituras podem se envolver mais na qualidade de vida do cidadão, desde a melhoria da moradia, passando pelas atividades para a juventude, iluminação pública, até a criação de um programa que integre de forma mais concreta a guarda municipal com as polícias. “Tem de haver uma ação estratégica combinada. É preciso que os prefeitos assumam o papel que é deles também quando o assunto é prevenção.”
A Sesp, procurada pela reportagem, não quis se pronunciar sobre a comparação dos índices de homicídios.
São Paulo
Segundo Cano, da UFRJ, a queda na taxa de homicídios na cidade de São Paulo é uma resposta a diversos fatores. Ele lembra que as políticas públicas têm tido contribuições na diminuição dos homicídios. Outro ponto destacado pelo sociólogo é um tanto curioso: a falta de concorrência entre os criminosos na capital paulista. “A monopolização do crime é um item que impede os conflitos”, explica. Ou seja, o domínio da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) evita a guerra entre criminosos, contribuindo para baixar as estatísticas de homicídios.
Fonte: Gazeta do Povo