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quarta-feira, janeiro 07, 2009

Impossível não é...

Por: Carlos Chagas

BRASÍLIA – O planeta quase inteiro conclui pela impossibilidade de solução entre israelenses e palestinos. Há quem evolua pela sinistrose, prevendo o acirramento do horror agora verificado e imaginando que o mundo muçulmano acabará por detonar uma bomba atômica em Israel, ou vice-versa, coisa que geraria recíproca imediata e a deflagração de uma terceira guerra mundial mais religiosa do que política.
Tem solução? Tem. Bastaria coragem para a adoção de uma série de iniciativas, senão paralelas, ao menos contínuas. Vejamos:
1- Retirada das tropas israelenses da Faixa de Gaza, com a aceitação de um cessar-fogo de caráter permanente. 2 - Destruição de todos os foguetes e demais armamentos do Hamas e organizações similares, com a garantia de que nenhuma ação bélica seria tomada pelo povo ou por grupos palestinos contra Israel.3 - Reconhecimento imediato por todo o mundo árabe do direito de Israel existir, já que existe.4 - Formação do Estado Palestino, com participação das Nações Unidas e demais entidades internacionais, bem como dos governos dos países vizinhos. 5 - Internacionalização de Jerusalém, policiada por força mundial de paz, mantida como capital de Israel e reconhecida também como capital da Palestina. Cada governo ocuparia áreas específicas da cidade, funcionando nelas os respectivos parlamentos. 6 - Cessão do Sinai aos palestinos, pelo Egito, com ajuda internacional para ocupação e exploração do território. 7 - Anistia geral, mas punição incondicional para novos autores e mentores de atentados terroristas contra quaisquer populações.
A partir desse elenco de proposições, com a prevalência de uma ONU recuperada, não haveria como a paz deixar de ser construída, claro que através de sacrifícios monstruosos de parte a parte. Mas se o preço fosse a paz, ou seja, a preservação da vida, quem ousaria argumentar em sentido contrário?
Ficar sustentando que este ou aquele povo foi eleito por Jeová, Alah ou o Padre Eterno para impor-se aos demais representa a dissolução de todos.
O problema é que, sem exceção, as partes rejeitariam as sugestões contrárias a seus interesses imediatos, exigindo que as demais se completassem. Mas impossível não é...
Visão da crise
Escreveu dias atrás o senador José Sarney haver tido a visão da crise quando da janela de sua casa na Praia do Calhau, em São Luís, notou que dos trinta navios que aportavam diariamente ali defronte, apenas um subsistia. Traduzindo: estavam quase interrompidas as exportações de minério de ferro, de alumínio e sucedâneos, assim como a chegada de dezenas de produtos. Começa o ano e as notícias são desastrosas não apenas na Praia do Calhau, mas no País inteiro. Mineradoras e siderúrgicas começaram a demitir em massa, pela quebra de contratos de exportação com a China, Japão e o mundo inteiro. A indústria automobilística tem seus pátios abarrotados e não produz mais, ou seja, deixa de comprar aço, interrompendo a compra de minério de ferro às siderúrgicas. O efeito dominó atinge outras indústrias, o comércio e o setor de serviços.
As férias coletivas e obrigatórias estão terminando para mais de 15 mil operários, ante-sala das demissões capazes de atingir número bem maior. Contratos de trabalho vêm sendo suspensos em São Paulo e Minas, mesmo contrariando as leis trabalhistas. O crédito fica cada vez mais reduzido, não obstante a ajuda dada pelo governo aos bancos.Diante desse quadro amargo, dá para entender o presidente Lula recomendando ao cidadão comum a comprar e às empresas a produzirem? Só o governo federal consegue manter seus investimentos, por conta das reservas depositadas lá fora, claro que reduzidas a cada semana. Estados e prefeituras encontram-se impedidos de seguir o exemplo federal, postos em estado de bancarrota apenas para preservar o custeio de suas estruturas.
Quem se anima a aceitar o conselho presidencial, exceção de seus áulicos?
A quem Deus ajuda
Diz o mote popular que Deus ajuda a quem cedo madruga. Certamente por isso Michel Temer encontra-se em Brasília desde segunda-feira, e Tião Viana chegou ontem. Mesmo com o Congresso vazio, os dois candidatos ocupam seus gabinetes e disparam telefonemas, cartas e telegramas em profusão, pretendendo amealhar votos para as eleições às mesas da Câmara e do Senado. Aldo Rebelo, adversário de Michel, nem se ausentou da capital federal durante as festas de fim de ano. Garibaldi Alves, por enquanto único candidato declarado a disputar com Tião Viana, transferiu seu gabinete para o Rio Grande do Norte e, de Natal, dedica-se à mesma tarefa. Só José Sarney permanece na janela, à espera de navios que não chegam à Praia do Calhau...
De crista baixa
Na próxima segunda-feira o presidente Lula estará em Caracas para uma rodada de análises sobre a crise, a convite do presidente Hugo Chávez. Seria o caso de repetir aquela exclamação popular do “quem te viu, quem tevê...” Anda de crista baixa o galo bolivariano de tantas exibições anteriores para o galinheiro (perdão, para a platéia de seus vizinhos). A súbita queda nos preços internacionais do barril de petróleo coloca a Venezuela em sérias dificuldades. Nem mesmo vêm sendo honradas às prestações com a Rússia, por conta da compra de aviões de caça, helicópteros e canhões de toda ordem.
A própria ajuda a Cuba pela venda de petróleo a preços subsidiados encontra-se em dificuldades. Talvez por isso a tal refinaria de petróleo a ser construída em Pernambuco com participação de Chávez ainda não recebeu um centavo do nosso “hermano”. A crise venezuelana, sem dúvida, é diferente, mas é maior do que a brasileira.
Fonte: Tribuna da Imprensa

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