Os depoimentos de dois acusados de envolvimento com as milícias no Rio apontaram dois integrantes da antiga cúpula da Segurança Pública do Estado como beneficiários do esquema montado pelos grupos paramilitares em favelas para arrecadação de votos: o ex-secretário de Segurança Pública e deputado federal, Marcelo Itagiba (PMDB), e a ex-chefe da Delegacia de Entorpecentes e também deputada federal, Marina Magessi (PPS) fizeram campanha e obtiveram votos em duas favelas dominadas por milicianos quando já conheciam a atuação destes grupos paramilitares.
As acusações foram feitas na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembléia Legislativa, que apura a atuação das milícias no estado, pelo vereador Josinaldo Francisco da Cruz, o Nadinho de Rio das Pedras (DEM), e o bombeiro e candidato a vereador Cristiano Girão (PMN), acusados de chefiar milicianos nas Favelas de Rio das Pedras e Gardênia Azul.
"Isto é muito grave. Eles eram da cúpula da Segurança Pública, sabiam da existência destes grupos e não apenas deixaram de combater as milícias, como se beneficiaram do esquema montados por estes grupos para obtenção de votos, que muitas vezes inclui ameaça aos eleitores", afirmou o presidente da CPI das Milícias, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL).
O convite aos parlamentares será votado na próxima terça-feira. A deputada Marina Magessi adiantou que comparecerá à Alerj um dia antes. "Não tive votos nestes locais. Nunca estive em Gardênia e em Rio das Pedras fui uma vez, no aniversário do Inspetor Félix Tostes (apontado como ex-chefe da milícia local e morto em fevereiro de 2007)", disse Marina. Já o deputado Marcelo Itagiba, que atualmente preside na Câmara Federal a CPI dos Grampos, não respondeu ao pedido de entrevista.
Nos depoimentos, os acusados revelaram outras ligações políticas. Acusado de chefiar a milícia de Rio das Pedras, que inspirou a última novela das 20h da TV Globo "Duas Caras", o vereador Nadinho disse que ajudou a eleger o deputado Rodrigo Maia (DEM), filho do prefeito Cesar Maia. O deputado federal não negou, mas informou que o apoio foi restrito "ao início da campanha". Nadinho lembrou ainda que foi assessor, em 1996, do então deputado federal Eduardo Paes, atual candidato a prefeito pelo PMDB.
Nadinho disse à CPI que está ameaçado de morte e pediu que parte de seu depoimento fosse em sigilo, sem a presença de jornalistas. O presidente da CPI revelou que a Polícia Civil e o Ministério Público Estadual investigam um suposto plano de Nadinho para assassinar a promotora do Ministério Público do Estado, Márcia Velasco. Ele negou e também disse desconhecer a acusação que seria o mandante da morte do policial civil Félix Tostes.
O sargento do Corpo de Bombeiros Cristiano Girão, de 36 anos, revelou que chegou a ser assessor especial do Palácio Guanabara durante o governo Rosinha Matheus, em 2005. "Já fiz várias prisões lá em Gardênia Azul", disse o bombeiro, apesar de não ser policial e negar ser miliciano. Ele bateu boca com vários deputados.
A deputada Cidinha Campos (PDT), exaltada após Girão afirmar que conhecia o filho dela "de festas", o chamou de "matador e justiceiro" e pediu explicações sobre a morte de uma ex-empregada do bombeiro acusada por ele de roubo, que teria sido torturada e morta. Dono de uma madeireira, de uma fábrica de lajes e empresário de artistas de funk, o bombeiro não soube explicar o patrimônio e alegou que esqueceu de declarar os bens ao Tribunal Regional Eleitoral.
Nega
A assessoria de imprensa do deputado federal Marcelo Itagiba (PMDB-RJ) divulgou nota ontem à noite em que ele nega ter se beneficiado do apoio de milicianos para se eleger e afirma ter tido uma "distribuição equilibrada de votos" em diversas regiões da cidade. A nota informou ainda que, durante sua gestão como secretário de Segurança, foi instaurado, em 2005, "um dos primeiros inquéritos destinados a identificar, desarticular e prender integrantes de milícia" resultando nas primeiras "prisões de dezenas de policiais envolvidos".
Fonte: Tribuna da Imprensa
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