Exceto algum acontecimento especial, o quadro sucessório de Salvador está definido. Os principais atores e seus coadjuvantes já estão a postos à espera das convenções partidárias, que ocorrem até o final deste mês, para irem para o corpo-a-corpo. A palavra final, como sempre, caberá ao eleitor. Agora a briga é de “cachorro grande”. Não há favoritismos. As chapas foram compostas de maneira equilibrada, seja à esquerda, seja à direita. Esta, inclusive, promete ser a eleição mais acirrada e mais imprevisível dos últimos anos. Aliás, é o primeiro pleito municipal sem a participação direta do ex-senador Antonio Carlos Magalhães. Em não havendo percalços no caminho a ser trilhado pelos partidos, o jogo já começou com o placar praticamente igual entre todos os times. Há, claro, diferentes estilos em campo, mas todos dispostos a emplacar os seus titulares. João Henrique e Edvaldo Brito representam a aliança maior entre PMDB e PTB. Mais três legendas de menor porte vão acompanhá-los até outubro próximo. João quer a reeleição e tem ao seu lado o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, e o ministro das Cidades, Márcio Fortes, indicado pelo PP, legenda que também encontra-se na administração municipal. A idéia inicial do prefeito e compartilhada pelo governador Jaques Wagner, era a de repetir nesta eleição o mesmo leque de alianças que garantia a vitória de João Henrique no segundo turno para César Borges. No entanto, a tentativa inviabilizou-se, já que cada sigla resolveu, depois de três anos encasteladas no Thomé de Souza (o PSDB foi o único a sair antes), tomar rumo próprio. Duas surpresas ocorreram nos últimos 10 dias. A primeira, a saída do apresentador Raimundo Varela do páreo. Varela deu-se ao luxo de encarar o próprio cartão vermelho. Afastado da arena política, Varela seguiu os passos que resultaram na chapa ACM Neto (deputado federal, DEM) e Bispo Márcio Marinho (PR, mas leia-se Igreja Universal do Reino de Deus). Ambos têm sólidas ligações com veículos de comunicação de massa. Não custa lembrar que antes da formalização da dupla Neto-Marinho, havia sido anunciada a sensação daquele momento: Antonio Imbassahy e Varela, este como o vice do tucano. Interferências que não passaram pelo território baiano desfizeram a composição. Imbassahy já selou acordo com o PPS e terá como vice o ex-vereador Miguel Kertzman. A outra surpresa, mais recente, foi o acordo entre o PSB e o PT. O segundo “comprou” o passe da deputada Lídice da Mata, que vai às urnas como vice de Walter Pinheiro. Lídice acha que é o melhor para a cidade. Seus adversários e mesmo alguns aliados não tão aliados assim, no entanto, acham que Lídice optou levando-se em considerações suas aspirações políticas pessoais. Seja como for, há um escrete de primeira ordem do ponto de vista político que deve sacudir Salvador nos próximos meses. Sinal de que a briga é, mesmo, “ de cachorro grande” Não se pode desconhecer a presença de outros futuros prefeituráveis, porém sem expressão nem densidade eleitoral. Rogério da Luz, do PMN diz que vai, desta vez, mostrar a que veio. Talvez não precise. Terá vindo para nada. (Por Janio Lopo - Editor de Política)
A lição esquecida do passado
Em 2004, a dois meses para as eleições, quando todas as projeções aprontavam João Henrique como o provável prefeito de Salvador, o então candidato do PT, deputado Nelson Pelegrino, teria levado a Lídice da Mata, também prefeiturável à época a proposta dela retirar seu nome da disputa e apoiá-lo. Assim, o petista acreditava passar para o segundo turno sem problemas maiores. A sugestão foi morta no nascedouro, apesar de Pelegrino e os chamados partidos de esquerda estarem convencidos, erroneamente, que ele passaria para a segunda rodada eleitoral com ou sem Lídice. Pelegrino amargou uma terceira colocação. Perdeu para César Borges por pouco mais de 30 mil votos. Quatro anos depois, ocorre o inverso - como diria Caetano Veloso, “ o avesso do avesso do avesso do avesso”. Até poucos dias da semana passada confirmada ainda na condição de candidata a prefeita pelo PSB, Lídice da Mata tinha a seu favor, segundo pesquisas internas atribuídas ao governo do Estado e ao PT, algo em torno de 10% da preferência. Mantinha um empate técnico com Nelson Pelegrino. Walter Pinheiro sequer pontuava ou mesmo aparecia nas sondagens encomendadas pelas legendas, embora fosse o preferido do governador Jaques Wagner. O governador tem experiências terríveis com pesquisas. Dependesse dos resultados dos institutos, ele hoje não sentaria no comando do Estado. Mas a situação de Lídice chamou a atenção, inclusive de tradicionais parceiros e mesmo de ala substancial do seu partido, tinha peculiaridades que desdiziam que a último caminho a ser tomado seria em direção do petismo. As bolas foram trocadas: Lídice recua de uma aceitação de 10% para ser vice de uma candidatura que ainda não marca um traço sequer. Outro detalhe: ela obteve 140 mil votos em Salvador para a Câmara dos Deputados contra apenas 30 mil de Pinheiro. A lógica indicaria que seria ela a candidata e Pinheiro seu vice. Mas lógica em política são ilógicas. Lídice cedeu aos apelos de Wagner para aceitar a empreitada. Dentro do PSB afirma-se que houve pressão também do amigo e secretário do Turismo, Domingos Leonelli. Por fim, pesou alto a promessa do PT de apoiá-la para uma das duas vagas ao Senado. A outra vaga seria disputada também em dobradinha com os petistas. Para as lideranças políticas fora do eixo PT-PSB, a chapa tem o mérito de apresentar um perfil bem próximo ao de esquerda, apesar do alijamento do PC do B, que foi desprezado inexplicavelmente do processo e, por isso, decidiu lançar Olívia Santana (vereadora) para o Palácio Thomé de Souza. Na prática, e na hipótese de os comunistas não serem acomodados imediatamente no esquema PT-PSB, a dupla terá uma enorme pedra no caminho, o que só fará aumentar o poder de fogo dos adversários. O ponto negativo, segundo essas mesmas lideranças, que concordaram em fazer a análise mas sem exporem-se publicamente, está no retrocesso político que a união com o PT inevitavelmente trará para Lídice da Mata, que já experimenta um processo desgastante dentro do próprio PSB. Há, inclusive, uma ala minoritária que quer destitui-la da direção estadual assim como ao secretário Domingos Leonelli. A adesão ao PT, sem sequer ser comunicada ao Diretório Municipal, como revelou seu presidente Paulo Mascarenhas, terá sequelas na campanha, apesar de Mascarenhas negar. Fica no ar a sensação de que Lìdice só aceitou sair do asfalto para encarar a lama objetivando viabilizar um projeto eminentemente pessoal: eleger-se ao Senado em 2010. Há quem admita que uma outra hipótese seria ela vir a passar à titular de prefeita numa eventual e suposta decisão de Pinheiro de deixar o cargo para ele, Pinheiro, concorrer à senatória. (Por Janio Lopo - Editor de Política)
Lídice diz que decisão foi a favor da cidade
A responsabilidade com a cidade de Salvador foi o que mais pesou na decisão da deputada federal Lídice da Mata (PSB) em abdicar da sua pré-candidatura à prefeitura de Salvador e aceitar o convite do PT para compor a frente de esquerda como vice da chapa de Walter Pinheiro (PT). Em conversa com a equipe de reportagem da Tribuna da Bahia a deputada declarou que recebeu o convite para ser vice de Pinheiro com surpresa, mas, que a decisão foi tomada pessoalmente após muita discussão e por entender que a aliança só trará benefícios para Salvador. Ela espera ainda que o PC do B se junte a esta frente ainda no primeiro turno. Questionada sobre os principais motivos que a fizeram aceitar o convite para ser vice, mesmo para alguns parecendo estranho pelo fato de já ter sido prefeita da cidade, Lídice foi enfática e declarou que a responsabilidade com a cidade foi mesmo o que mais pesou. “Exatamente pelo fato de já ter sido prefeita e por ter recebido de presente dessa cidade uma votação histórica como deputada federal que eu não poderia permanecer omissa as coisas que dizem respeito a população de Salvador e sua vida”, disse. Lídice afirmou que recebeu o apelo do PT com surpresa. “Eu realmente não admitia essa hipótese, mas após o apelo do PT foram dias de muita reflexão, de muita conversa. Nos reunimos várias vezes e na quinta-feira ficamos até o início da madrugada com o governador, quando decidi aceitar o convite porque acredito que a nossa aliança é de fato uma alternativa positiva para Salvador”, declarou. A deputada ressaltou que a composição da chapa faz da campanha da frente de esquerda muito mais competitiva. “É a junção da minha credibilidade e experiência com a qualidade do novo de Walter Pinheiro. A importância da aliança do PSB que é uma partido forte, com o PT, que além de ser também forte, têm tempo na TV, o que favorece a campanha”, justificou, acrescentando que as legendas têm interesses em comum e reforçando que a aliança torna a candidatura da esquerda mais competitiva rapidamente. Durante a conversa Lídice fez questão de ressaltar que a decisão em abdicar da pré-candidatura foi pessoal e não houve imposição do partido. “Nenhum partido pode impor ninguém a ser candidato. Eu pessoalmente discuti com o diretório nacional e regional por muitas vezes. Depois com o governador, com o próprio Pinheiro, até que decidi consolidar a posição”, reforçou, declarando que ainda essa semana se reúne com o diretório nacional, na quarta-feira, e com o regional, com data a ser definida, para tratar de detalhes da composição, já que ainda não foi feito nenhum fórum para oficializar a decisão. A deputada finalizou a conversa declarando estar muito confiante na chapa e que é hora de começar a trabalhar a campanha. “Espero que a chapa vença e estou muito confiante nisso. Agora é hora de organizar o programa de governo, apresentar o programa político e os projetos para a cidade”, declarou otimista. (Por Carolina Parada)
PCdoB não quer seguir a reboque do PT
A demora para o PT se definir na escolha do nome que representaria o partido na disputa pelo Palácio Thomé de Souza fez a sua direção acelerar o passo para a costura de alianças e definição de um nome para compor chapa com o deputado federal Walter Pinheiro. Talvez por conta dessa pressa o PT tenha conversado e desconversado com o PCdoB, deixando-o, mais uma vez, a reboque das decisões para a formação da Frente de Esquerda para disputar a sucessão municipal. Desde o ano passado os comunistas haviam lançado o nome da vereadora Olívia Santana para concorrer à sucessão do prefeito João Henrique, mas ainda assim aceitou conversar com os petistas após a escolha do nome do deputado federal Walter Pinheiro. Pela lógica o petista encabeçaria uma chapa do campo de esquerda, por pertencer ao partido núcleo da aliança de sustentação dos governos Wagner e Lula. As conversas entre petistas e comunistas já vinham acontecendo, mas foram ampliadas na semana passada, notadamente a partir do momento em que o cenário da sucessão municipal começou a ficar mais nítido. Das conversas, nasceu a chapa Pinheiro e Olívia, que abdicaria do projeto comunista de candidatura própria. A chapa poderia não ser a ideal, mas sem sombra de dúvidas era a melhor que as esquerdas poderiam montar, principalmente com recusa feita pela deputada federal Lídice da Mata (PSB), que várias vezes declarou que não seria vice de ninguém no processo eleitoral que se aproxima. De repente, a chapa Pinheiro/Lídice foi anunciada na última sexta-feira, pegando Olívia e todo o PCdoB de surpresa. Diante deste quadro, neste final de semana os comunistas se reuniram no Ginásio de Esportes dos Bancários, nos Aflitos. (Por Evandro Matos)
Fonte: Tribuna da Bahia
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