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terça-feira, maio 16, 2006

Ex-prefeito detalha como era aplicado o golpe da ambulância

Por: Lúcio Vaz e Luciene Soares Do Correio Braziliense


A pequena cidade de Cerejeiras, com 20 mil habitantes, ao sul de Rondônia, também serviu de cenário para o grandioso esquema de compra direcionada de ambulâncias. Os detalhes dessa rede que maquiava emendas parlamentares e driblava licitações, desvendada pela Operação Sanguessuga da Polícia Federal, é esmiuçada nesta entrevista ao Correio pelo ex-prefeito José Eugênio de Souza (2001/2004). Hoje aposentado e afastado da política, Zigue, como é mais conhecido, diz que não sabia que a operação era ilícita e que as todas as orientações eram passadas pelo gabinete do deputado Nilton Capixaba (PTB-RO). Vivendo com uma renda mensal de R$ 500, o ex-prefeito conta que se sentiu obrigado a falar a verdade depois que estourou o escândalo da fraude das ambulâncias. Procurado pelo Correio ontem, o deputado estava com o celular desligado. A seguir, trechos da entrevista do ex-prefeito. O contato Eu era do PTB e ele (Nilton Capixaba) era deputado pelo PTB. Ele falou para mim, no gabinete em Brasília: ‘Olha, eu vou dar uma ambulância para o seu município’. E eu disse: ‘Eu tô louco por uma ambulância porque eu tô com 250 cancerosos mandando para Cuiabá e Porto Velho em ambulância velha.’ Eu vim para Cerejeiras e me telefonaram (do gabinete) dizendo: ‘Olha, você pode fazer o processo porque foi liberado o recurso, nós temos uma empresa em Cuiabá e é ela que vende a ambulância’. Aí, nós providenciamos todo o processo para tramitar tudo legal. E quando a ambulância chegou para nós, no começo de 2003, vimos que ela era 2002. Eu consultei minha assessoria jurídica e eles disseram que não poderíamos ficar com ela porque o documento dizia uma coisa e na realidade a ambulância era outra. Eu liguei para o deputado Nilton Capixaba e ele me falou: ‘Manda fazer um novo processo’. Mandei um novo processo. Eu entrei em contato com o deputado que falou: ‘Essa empresa é idônea.’ Licitação dirigida Foi feita uma licitação, mas de forma direcionada porque essa ambulância tinha que ser comprada lá. A prefeitura só faz o processo e a licitação já vem de lá (Brasília), a empresa tem que ser aquela. Lá em Cuiabá são três ou quatro empresas. E uma dá apoio a outra. Foi aí que o ‘bicho pegou’. Eu não tinha conhecimento dessas empresas. Participaram a Klass, a Vedoval, a Santa Maria e a Planam. Mas a Planam é a empresa que monta o esquema. Isso foi feito lá por Brasília. Isso é carta marcada lá de cima. E não tinha como outra empresa ficar sabendo para participar. Eram só as três empresas. Porque o que a lei diz é que devem ser apenas três empresas. Vinham as três e a gente fazia a publicação no Diário Oficial do município. Isso pode me complicar? Sim. Eu já estou complicado, mas eu também não sabia de nada. Ação de assessores A primeira conversa foi por telefone. Depois, um dos assessores dele veio. Ai, Jesus! Eu sou muito esquecido (pausa). Edmilson Martins Gomes, ele é cunhado e assessor do deputado Nilton Capixaba. Ele veio uma vez ao meu gabinete. E aí, o presidente da CPL (Comissão Permanente de Licitação) disse que ele era da parte do deputado e que vinha cobrar o pagamento da ambulância. Aí, eu falei: “Quem é o senhor?” Ele falou que era assessor do Capixaba e cunhado dele. Eu falei para ele que estava tramitando a papelada e que, enquanto não estivesse legal, não poderia pagar. Procuradores A empresa deu uma procuração para ele fazer as cobranças, esses recebimentos. E também veio outro assessor do deputado, que é de Cacoal, o Celsinho, um baixinho e gordo. Inclusive, foi ele que trouxe a ambulância para entregar. Ele também ligou cobrando e dizendo: ‘Olha, a empresa precisa receber’. E depois o deputado me ligou: ‘Prefeito, como é? Vocês vão pagar a ambulância? Se não for pagar, eu vou mandar ela para Nova Brasilândia’. Aí, eu falei: ‘Não, deputado, nós vamos pagar porque já está tudo pronto e eu preciso dessa ambulância’. Foi quando nós efetuamos o pagamento (R$ 84,2 mil). A verdade O deputado nunca mais me ligou. Até porque, quando estourou a bomba naquela época, o Ministério Público me comunicou sobre a ação civil pública, eu liguei para o deputado. Eu tive que contar, porque eu pensei que isso ia sobrar só para mim. Eu falei com ele, e ele disse que não tinha problema. Disse que tinha tido uma licitação e estava tudo certo, feito tudo legal, publicado. E agora, fui procurado pela imprensa, dizendo que esse crime estourou. Então, fui obrigado a dizer a verdade.

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