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segunda-feira, outubro 03, 2022

Alerta financeiro - Editorial




Turbulência britânica dá ideia dos riscos decorrentes da alta dos juros globais

Desde o início do ano o custo do dinheiro aumenta no mundo, sob a liderança do banco central americano, que busca conter a inflação. A zona do euro e o Reino Unido acompanham. Está sendo perturbado o equilíbrio dos últimos 20 anos, de juros baixos e mesmo nulos por boa parte do período.

O problema é que sempre há alguém com liquidez insuficiente e balanços fracos para enfrentar a virada do ciclo financeiro. A alta dos juros atinge a todos, mas quando há impacto sistêmico, em que o risco de colapso de um segmento causa uma reação em cadeia, os bancos centrais têm de intervir.

O processo vinha sendo ordenado, com queda de Bolsas e encarecimento do crédito, como desejado pelos bancos centrais para conter a demanda. Mas a ansiedade quanto a algum grande acidente crescia.

Eis que um potencial candidato a produzir um choque sistêmico surgiu no Reino Unido —o conjunto dos fundos de pensão. O país está em situação delicada, com alta inflação, crescimento e produtividade declinantes desde que deixou a União Europeia, além de déficits público e externo elevados.

Depois de meses de tumulto político para a definição da nova liderança conservadora, Liz Truss foi alçada à posição de primeira-ministra. Sua plataforma é de restauração do crescimento com mais gastos públicos e ativismo fiscal.

O governo anunciou um plano de 70 bilhões de libras em cortes de impostos para os mais ricos e subsídios à energia, com promessa de que mais expansionismo virá. Os mercados não gostaram.

Houve corrida contra a libra e disparada dos juros dos títulos públicos de longo prazo. A turbulência abalou os fundos de pensão britânicos, que têm obrigações atuariais e se valem de títulos e instrumentos financeiros para harmonizar a rentabilidade dos ativos com os pagamentos futuros.

Ocorre que a escalada das taxas de mercado provoca perdas nos valores desses instrumentos, obrigando os planos a apresentar novas garantias —o que demanda recursos e por sua vez força a venda descontrolada de papéis.

Com o pânico instalado, o banco central teve de intervir com a compra de 65 bilhões de libras em títulos, poucas semanas após iniciar vendas para contrair a liquidez.

Uma virada humilhante, que evidencia a fragilidade do mercado. O dano parece controlado por ora, mas trata-se de um sinal de grandes riscos à espreita.

Folha de São Paulo

Observadores internacionais veem votação 'normal' e 'TSE fortalecido' após bom resultado de Bolsonaro




Apesar do clima de tensão no país, o processo técnico da eleição transcorreu de maneira satisfatória, avaliaram especialistas estrangeiros

Por Mariana Sanches, em Washington

Apesar do clima tenso que caracterizou a eleição presidencial de 2022, observadores internacionais que fiscalizaram a votação neste domingo (02/10), e deram suporte técnico ao pleito ao longo das últimas semanas afirmaram pouco após o fechamento das urnas que o processo eleitoral transcorreu como o planejado, com "normalidade", "tranquilidade" e "transparência".

A BBC News Brasil conversou com representantes de quatro órgãos internacionais que enviaram missões de acompanhamento eleitoral ao Brasil. Na avaliação dos especialistas, apesar de alguns "soluços" - como atrasos e filas longas para votar - e episódios pontuais de violência - o Brasil deu "um exemplo democrático para o mundo".

"Até mesmo as filas longas, que sugerem uma participação eleitoral bastante alta, são um sinal de quanto os brasileiros confiam no seu processo eleitoral e querem participar. Em termos de integridade e confiança, nossa equipe não identificou nada, tudo foi intensamente testado. Foi muito positivo", afirmou à BBC News Brasil Maximo Zaldivar, diretor para América Latina da International Foundation for Electoral Systems (IFES).

Além do IFES, estão no Brasil integrantes da Organização dos Estados Americanos (OEA), do Institute for Democracy and Electoral System (IDEA), do Carter Center, e da Unión Interamericana de Organismos Electorales (Uniore), entre outros.

"Até agora o Brasil cumpriu muito bem duas das principais regras da democracia: clareza e firmeza nas regras e aplicação dessas regras na hora da votação. As urnas eletrônicas se mostraram, de novo, confiáveis e seguras. Agora virá a terceira regra da democracia na qual temos mais tensão: a aceitação dos resultados por quem ganhou e por quem perdeu", disse Daniel Zovatto, do IDEA.

Zovatto, que passou o dia percorrendo colégios eleitorais na capital federal, notou que havia um clima de tranquilidade nas filas, sem hostilidade entre quem usasse camisetas da seleção brasileiro de futebol e camisas vermelhas.

'Equipes devem seguir monitorando o país e esperam ainda atos de violência até o segundo turno'

Mas, como Zovatto, outros observadores acreditam que o grande teste de estresse para a democracia brasileira virá com o anúncio do vencedor. E como a apuração das urnas neste domingo aponta para um segundo turno, de acordo com os observadores estrangeiros, isso deve adiar essa preocupação para o próximo dia 30, quando os brasileiros definirão o próximo presidente entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

No período de quase um mês entre o primeiro e o segundo turnos, as equipes devem seguir monitorando o país e esperam ainda atos de violência, especialmente porque, na análise desses especialistas, o país se mostrou ainda mais dividido do que parecia estar antes do 1o turno.

"É notável que os dois mais votados não estão muito distantes e que o terceiro e o quarto lugar aparecem muito atrás, então estamos falando de um país cindido ao meio", diz um dos observadores.

TSE fortalecido

'Eleitores em São Paulo enfrentaram filas longas para conseguir votar'

De acordo com observadores estrangeiros, dentro do TSE, o clima era de bastante tranquilidade, durante a apuração, com funcionários conversando enquanto os supercomputadores calculavam os votos. O órgão esteve sob constante e forte artilharia de Bolsonaro ao longo de todo o processo eleitoral.

Para um dos observadores ouvidos pela BBC News Brasil, o fato de que Bolsonaro tenha aparecido tão bem nas urnas - contrariando boa parte das pesquisas, que nunca o colocaram acima do patamar de 40% das intenções de voto -, fortalece o TSE institucionalmente. "Isso derruba o argumento de Bolsonaro de que exista uma máquina de fraude na corte eleitoral. O vencedor é o TSE", disse ele.

Para vários dos especialistas internacionais, o convite para que atuassem no Brasil este ano ocorreu exatamente pelo que qualificaram como ataque sistêmico ao Tribunal Superior Eleitoral - algo inédito nesta escala no Brasil mas com precedentes em outros países da América Latina, como o México e o Peru.

Os observadores notaram que sua atuação seria primariamente de endosso político ao processo institucional do país e chegaram a se mostrar alarmados pelo comportamento do presidente brasileiro, que apenas uma semana antes da eleição, Bolsonaro acusou o TSE de ser "parcial" e chamou seu presidente, o ministro Alexandre de Moraes, de "moleque".

"Todo o processo deste domingo mostra a isenção do órgão", afirmou o diretor de um desses organismos, em condição de anônima porque não tinha autorização para se manifestar pelo órgão.

BBC Brasil

UE responderá de maneira 'firme' a expulsão de sua embaixadora da Nicarágua




O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell

A União Europeia (UE) garantiu que responderá de forma "firme e proporcional" à decisão "injustificada" da Nicarágua de expulsar a sua embaixadora e de romper relações com a Holanda, disse neste domingo(2) o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.

Declarada persona non grata na sexta-feira, a embaixadora da UE Bettina Muscheidt deixou Manágua no sábado rumo ao México, de onde tomou um voo para a França.

"A UE lamenta profundamente e rejeita essa decisão injustificada e unilateral" do governo de Daniel Ortega, afirmou Borrell em nota.

"A UE também lamenta profundamente a desproporcionada e injustificada decisão unilateral tomada na sexta pelo governo da Nicarágua de romper relações diplomáticas com o reino da Holanda e expressa seu apoio inabalável ao governo holandês", acrescentou.

O bloco indicou que "estas ações hostis e injustificadas não afetarão apenas as relações bilaterais entre Nicarágua e da UE e seus Estados-membros, mas também conduzirão a um maior isolamento internacional da Nicarágua. Neste contexto, a UE está estudando uma ação apropriada e responderá de maneira firme e proporcional".

O presidente Daniel Ortega foi reeleito em novembro de 2021 para um quarto mandato consecutivo com todos seus potenciais adversários presos no exílio.

"A atual crise política na Nicarágua deve resolver-se através de um diálogo genuíno entre o governo e a oposição", sustenta Borrell, que garantiu que "a UE continua aberta ao diálogo com a Nicarágua, sempre que esse diálogo se realizar com respeito".

A comunidade internacional criticou várias vezes o regime nicaraguense, em especial após a repressão à onda de protestos antigovernamentais em 2018.

A UE e os Estados Unidos impuseram muitas sanções contra a Nicarágua e figuras do regime nos últimos quatro anos, citando em particular as violações aos direitos humanos.

AFP / SWI

Confirmado segundo turno nas eleições presidenciais




Com 96,9% de urnas apuradas, Lula tem 47,8% contra 43,7% de Bolsonaro

Com 96,93% das urnas apuradas, está confirmada a realização de segundo turno entre os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

Lula está à frente, com 47,85% dos votos válidos, tendo virado a corrida quando 70% dos votos haviam sido apurados. Bolsonaro está em segundo, com 43,7%. A diferença entre o primeiro e o segundo colocado não permite mais a resolução da disputa no primeiro turno.

Simone Tebet (MDB) aparece em terceiro, com 4,22%. Ciro Gomes (PDT) está em quarto, com 3,05%.

Lula (PT)

Nascido em Garanhuns (PE), Luiz Inácio Lula da Silva se mudou ainda criança para o estado de São Paulo. Durante a adolescência, completou um curso de torneiro mecânico em uma unidade do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e, posteriormente, passou a trabalhar como metalúrgico na cidade de São Bernardo do Campo, quando também começou a se envolver com a atividade sindical.

No final dos anos 1970 e 1980, Lula liderou grandes greves de metalúrgicos da região do ABC paulista. Junto a outros sindicalistas, intelectuais e militantes de movimentos sociais, fundou o Partido dos Trabalhadores (PT).

Pela legenda, se tornou deputado da Assembleia Constituinte que aprovou a Constituição de 1988 e foi derrotado nas eleições presidenciais de 1989, de 1994 e de 1998. Foi eleito para o posto mais alto do país em 2002, tendo sido reeleito em 2006. Deixou a Presidência em 2010, sendo sucedido por sua então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que venceu as eleições com o seu apoio.

Em 2017, Lula foi condenado a nove anos e seis meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. Em 2018, teve a prisão decretada pelo então juiz Sergio Moro. As condenações foram anuladas em 2021 pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que considerou que a 13ª Vara Federal em Curitiba não tinha competência legal para julgar as acusações. O STF também considerou posteriormente que Moro agiu sem a devida imparcialidade no processo.

Aos 76 anos, Luiz Inácio Lula da Silva busca seu terceiro mandato como presidente. O candidato a vice em sua chapa é Geraldo Alckmin (PSB) que foi seu adversário na disputa de 2006. Nascido em Pindamonhangaba (SP), ele tem 68 anos, é médico e professor. Alckmin foi um dos fundadores do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e ocupou os quadros do partido entre 1988 e 2021. Ele também foi constituinte e governou São Paulo em duas ocasiões: de 2001 a 2006 e de 2011 a 2018.

Jair Bolsonaro (PL)

Nascido em 1955 no município de Glicério (SP) e registrado na cidade paulista de Campinas, Jair Messias Bolsonaro formou-se em 1977 na Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende (RJ). Posteriormente, serviu nos grupos de artilharia de campanha e paraquedismo do Exército. Militar reformado, tendo chegado a capitão do Exército, ele é atualmente o 38º presidente do Brasil, cargo que assumiu em 1º de janeiro de 2019.

Bolsonaro exerceu sete mandatos de deputado federal pelo Rio de Janeiro entre 1991 e 2018. Antes foi também vereador na capital carioca entre 1989 e 1991.

Três de seus cinco filhos também se embrenharam pela política. Carlos Bolsonaro é vereador na capital carioca, Eduardo Bolsonaro é deputado federal por São Paulo e Flávio Bolsonaro senador pelo Rio de Janeiro.

Ao longo de sua trajetória política, Bolsonaro integrou os quadros de nove partidos. Passou por PDC, PPR, PPB, PTB, PFL, PP e PSC. Em 2018, foi eleito presidente da República pelo Partido Social Liberal (PSL). Neste ano, candidatou-se à reeleição pelo PL.

O candidato a vice-presidente na chapa é Walter Braga Netto. Tendo alcançado o posto de general do Exército, ele atualmente é militar da reserva. Natural de Belo Horizonte em 1957, Braga Netto chefiou entre fevereiro de 2018 a janeiro de 2019, a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro. Na época, ele era comandante Militar do Leste, posto que ocupou até fevereiro de 2019, quando assumiu a chefia do Estado-Maior do Exército. Como integrante do governo comandado por Bolsonaro, ele foi ministro-chefe da Casa Civil e é atualmente ministro da Defesa.

Agência Brasil

Imprensa internacional destaca ‘surpresa’ com vantagem abaixo da esperada de Lula




A imprensa estrangeira reporta os resultados da disputa eleitoral no Brasil, com alguns dos meios destacando que a vantagem entre os primeiros colocados ficou abaixo do esperado nas pesquisas. O argentino Clarín publica na manchete de seu site a "surpresa nas eleições do Brasil", com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tendo menor vantagem que o esperado sobre o atual presidente, Jair Bolsonaro.

Em linha similar, o La Nación também trazia a "surpresa" na principal manchete de seu site e informava sobre o segundo turno. No Chile, o La Tercera dizia que Bolsonaro "perde por margem estreita ante Lula no primeiro turno das presidenciais no Brasil", enquanto na Colômbia El Tiempo também dava em destaque à indicação de segundo turno.

Na Europa, o espanhol El País via Lula "ganhando pelo mínimo, ante um Bolsonaro reforçado", com o atual líder se saindo melhor do que apontavam as sondagens. Em Portugal, o Público reportava minuto a minuto a apuração, destacando a virada de Lula com a apuração mais adiantada. Outros meios locais, como Diário de Notícias e Jornal de Notícias, também destacavam em seus sites o segundo turno à vista.

Estadão / Dinheiro Rural

3 De Washinton a Pequim, o clima é de "já ganhou" para Lula. Mas, e se Bolsonaro vencer?




O clima de “já ganhou” nos corredores de Washington é tão generalizado que não se discute ou negocia mais nada sem considerar que o próximo presidente do Brasil será o petista.

Por Leonardo Coutinho (foto)

Qualquer um que acompanha o mínimo sobre a política brasileira no exterior já leu ou já ouviu afirmações de que, se derrotado, o presidente Jair Bolsonaro não entregará o poder. Há meses, por sinal, a conjunção subordinativa condicional “se” nem aparece mais nas afirmações cada vez mais comuns e nos mais diversos idiomas. O que era uma dúvida virou uma certeza. Bolsonaro vai perder a eleição e dará um golpe. De Washington a Pequim, o clima é de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já ganhou. Mas há uma pergunta necessária que até agora ninguém fez para Lula e as instituições brasileiras: e se Bolsonaro vencer a eleição?

Os institutos de pesquisa, os analistas de vários dos principais meios de comunicação, os relatórios dos bancos sustentam que a questão acima não é necessária. Afinal, a eleição deste domingo é apenas uma formalidade. “Lula já ganhou”.

Mas volto à pergunta: E se Bolsonaro vencer a eleição?

Lula, os partidos que lhe dão sustentação, os movimentos de esquerda, as instituições (entre as quais é preciso ressaltar o Supremo Tribunal Federal e suas linhas auxiliares no Tribunal de Contas da União e Congresso) e a imprensa estarão dispostos a aceitar o resultado?

Essa é uma pergunta necessária, mas que vem sendo negligenciada. Por mais incômodo e improvável que possa parecer para muitos, Bolsonaro pode vencer a eleição. Caso o improvável aconteça, como o resultado das urnas será encarado?

A eleição de Bolsonaro em 2018 não só surpreendeu, como chocou, quem apostou na infalibilidade das sondagens. Problema também registrado nos Estados Unidos, em 2016, quando Donald Trump venceu uma eleição que era considerada “garantida” para a sua opositora, a democrata Hillary Clinton.

Não se trata de duvidar dos institutos que tentam prever os resultados com base em entrevistas e métodos estatísticos. Mas não é nada razoável tratar como dogma o que pretende ser visto com ciência. A dúvida, nesses casos, é mais do que necessária. É virtude.

O clima de “já ganhou” nos corredores de Washington, D.C. (lembre-se de que estou falando de Lula, obviamente), é tão generalizado que não se discute ou negocia mais nada sem considerar que o próximo presidente do Brasil será o petista.

A recente eleição para a diretoria da Organização Panamericana de Saúde (Opas) talvez seja o melhor exemplo. O brasileiro Jarbas Barbosa foi eleito com o apoio dos bolivarianos. Ex-membro da direção nacional do PT, foi carreado até a direção da Opas pelos padrinhos petistas. Além do próprio ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que endossou a candidatura e determinou que se movesse céus e terra para angariar os votos necessários, o petista teve o apoio irrestrito do colombiano Gustavo Petro, que retirou o apoio ao candidato de seu país e orientou sua diplomacia a trabalhar pelo PT; e do mexicano Andrés Manuel López Obrador, que fez o mesmo em favor de Barbosa.

Sem falar, é claro, do apoio e voto de Cuba, que tem na Opas uma espécie de sucursal de seus interesses em Washington.

Não é diferente na indústria do lobby. Em entrevista ao jornal Valor, o lobista Thomas Shannon, que já teve em sua carteira o presidente da Argentina, Alberto Fernández, e o de El Salvador, Nayib Bukele, não esconde a torcida por Lula. Para Shannon, que foi embaixador dos Estados Unidos e ocupou temporariamente a função de secretário de Estado, há uma expectativa pela volta de Lula. Segundo ele, o “Lula é bem conhecido pelo governo dos EUA, tanto por republicanos quanto por democratas. Os EUA tiveram uma relação muito produtiva [com o Brasil] durante sua presidência”.

Muita gente pensa assim. Assim como muitos pensam que a capital do Brasil é Buenos Aires.

A democracia brasileira está definitivamente sob teste. E uma das questões é: e se Bolsonaro vencer? Nesse cenário absurdo para muitos, a vontade da maioria vai desagradar pesos-pesados de Brasília. Estariam eles dispostos a se sujeitar ao resultado? Ou, para “salvar a democracia”, vale matá-la e depois esperar que ela ressuscite?

Gazeta do Povo (PR)

‘Populismo deve reduzir a riqueza global’




O CEO da consultoria alemã Roland Berger, Marcus Barret, vê um cenário mais difícil para a economia global. Com a eleição da direita radical na Itália, o executivo avalia que um ambiente de populismo político crescente em diversos países tem potencial para provocar uma queda na riqueza global. Se confirmado, esse cenário marcará uma mudança importante.

Barret diz que, nas últimas três décadas, a globalização "beneficiou os mais pobres e a classe média - muitas pessoas conseguiram escapar da pobreza". O executivo prevê ainda que, com o impacto das tensões geopolíticas nas cadeias de produção, "nos próximos cinco, dez anos, as empresas terão de se acostumar a ser mais resilientes, estáveis e flexíveis".

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista ao Estadão:

Com a alta de juros, a economia global parece caminhar para a recessão. Como o sr. avalia esse cenário?

Podemos esperar que a demanda global continue a cair nos próximos meses, principalmente guiada pelas ações dos bancos centrais. Os BCs não têm outra escolha, e não há uma saída suave, dado que a inflação está em toda a Europa, que caminha para a recessão. Na terça-feira, o Banco Mundial também já publicou que a China, pela primeira vez desde 1990, vai ter uma taxa de crescimento menor quando comparada com a de outros países da Ásia.

São várias crises globais nos últimos anos…

Nós tivemos o aquecimento global, a pandemia e, como resultado da pandemia, a interrupção da cadeia de suprimentos. Em paralelo, a pressão social está aumentando, e estamos lidando com muito mais questões geopolíticas. É difícil imaginar politicamente o que vai acontecer no mundo, não só na Itália, por exemplo. Há alguns meses, a França conseguiu lidar de forma correta com o populismo (em abril, Marine Le Pen, da direita radical, foi derrotada na disputa presidencial). Esse populismo tem muito a ver com as pessoas desapontadas. A linha desse populismo é o discurso de pessoas e dos partidos de que as coisas vão melhorar com os países isolados. E nós sabemos que não, mas, no fim, temos de aceitar, porque são as pessoas que fazem essa escolha.

Como os políticos podem mudar essa situação?

Essa é uma pergunta de US$ 1 milhão. Os países estão procurando saídas sozinhos, e isso vai resultar na redução da riqueza global. Nós vimos nas últimas três décadas uma globalização que beneficiou os mais pobres e a classe média - muitas pessoas conseguiram escapar da pobreza. A direção que muitos governos estão tomando não é necessariamente a correta, mas temos de encarar como transformar essa situação em oportunidades. Para uma geração mais antiga, a depender do país, houve relativa estabilidade nas últimas duas, três décadas, mas eu acho que, nos próximos cinco, dez anos, as empresas terão de se acostumar a ser mais resilientes, estáveis e flexíveis. A estratégia corporativa para os nossos clientes é pensar dois, três passos adiante, para evitar que eles caiam numa armadilha.

O cenário para as empresas será difícil, então, para os próximos anos?

Isso depende do tipo de negócio. Empresas intensivas em energia na Alemanha, na Europa, vão enfrentar grandes problemas, já estão enfrentando. Há casos de insolvência. Na Alemanha, temos hoje 22%, 23% menos consumo de energia do que há um ano, em parte porque as pessoas estão economizando, e já substituíram o uso do gás, mas também porque todos os setores tiveram significativo corte na produção por causa do custo da energia.

E as empresas já sofreram muito desde a pandemia...

Claro que houve desafios durante a pandemia para indústrias, restaurantes. Mas, com o auxílio estatal, muitas empresas conseguiram superar esse momento. Um exemplo interessante é o da automotiva. Muitas empresas estão com recordes de lucratividade, porque houve uma escassez de carros com a crise dos chips. Não houve carros suficientes, e os preços subiram. Como resultado da pandemia, as empresas de chips multiplicaram seu lucro por três, quatro; as fornecedoras de matérias-primas multiplicaram seu lucro por três, quatro, cinco.

Quais são os países que a Roland Berger olha com mais otimismo?

Os países das Américas, como EUA, Canadá e Brasil. O Oriente Médio está se beneficiando do aumento de preços (da energia). Há o Sudeste Asiático, países como Vietnã, Filipinas. Eu citaria a Índia. Todos estão acompanhando o que está acontecendo com a Apple, basicamente partes da sua produção deixaram a China e foram para a Índia, para ter menos influência de tensões geopolíticas. Essa é a parte positiva do mundo.

E a parte negativa?

Estamos falando da Europa, com muitos problemas estruturais. O fato de termos esses governos populistas em algumas partes da Europa torna difícil para o Banco Central Europeu encontrar uma política monetária para toda a região. A China, em muitas categorias, é o principal mercado do mundo, mas tem o desafio da estratégia de covid zero. O crescimento vai desacelerar. Vai haver uma grande mudança tectônica nos próximos dois, três anos.

O sr. poderia detalhar a situação do Brasil?

O Brasil deve estar numa boa posição, porque os preços das commodities estão em alta, e muitos países vão olhar para o Brasil para o fornecimento de produtos básicos. Isso deve ser positivo para os próximos anos.

Estadão / Dinheiro Rural

Lula e Bolsonaro se enfrentarão em 2º turno após disputa mais apertada do que previam pesquisas




Lula e Bolsonaro disputarão segundo turno em condições não previstas pelas principais pesquisas de intenção de voto

Por Matheus Magenta, em Londres

A eleição presidencial de 2022 será decidida em segundo turno, disputado entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) — após um primeiro turno com uma diferança mais apertada do que previam as principais pesquisas de intenção de voto.

No primeiro turno, com 96,93% das urnas apuradas, Lula (PT) estava em primeiro com 54.887.668 votos (47,85% do total dos votos válidos) e Bolsonaro, em segundo, tinha 50.117.086 votos (43,70% dos válidos) — o tribunal já considerava, então, a eleição matematicamente encaminhada para um segundo turno.

Bolsonaro chega ao segundo turno com uma tarefa inédita na história eleitoral brasileira: ultrapassar o primeiro colocado e vencer a disputa.

Serão quase quatro semanas até a próxima votação, em 30/10.

Há desafios para Bolsonaro, como a vantagem numérica de Lula no primeiro turno, alta rejeição do eleitorado, baixo potencial de atrair eleitores de outros candidatos, verba restrita para campanha e lenta recuperação da economia.

Por outro lado, especialistas afirmam que Bolsonaro deve conseguir atrair o apoio de diversos setores da direita que estavam pulverizados nos Estados e na disputa presidencial. E também ampliar a campanha negativa contra Lula e o PT baseada acusações de corrupção e na pauta de costumes (incluindo o chamado "pânico moral").

Entenda abaixo cinco dos principais desafios para Bolsonaro na disputa contra Lula.

1. Vantagem de Lula

"Lula, ao contrário de Bolsonaro, tem entre os eleitores uma memória de um legado muito positivo, embora manchada pela corrupção. E a personalidade de Lula é oposta à de Bolsonaro em relação à moderação, à negociação e ao trânsito político. Lula tem talvez a maior capacidade política do país de tecer um arco de alianças é realmente muito plural, diverso", afirmou a socióloga e professora Esther Solano Gallego (Unifesp).

Como dito acima, todos os candidatos que chegaram na liderança ao segundo turno acabaram vitoriosos nas eleições.

Bolsonaro tem, portanto, duas saídas: 1. atrair a ampla maioria dos votos dos candidatos que ficaram para trás no primeiro turno, como Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), e 2. tirar votos de Lula.

Mas quantos votos ainda estão "em disputa" entre Lula e Bolsonaro?

Como não é possível prever o comparecimento dos eleitores nem quantos votarão em brancos e nulos, o "saldo" de votos a ser disputado no segundo turno seria a soma de todos os outros candidatos.

Mas pesquisas realizadas no primeiro turno apontavam que Lula liderava como segunda opção nas urnas entre eleitores de Ciro Gomes e Simone Tebet.

Segundo pesquisa Datafolha realizada no fim de setembro, por exemplo, 38% dos eleitores de Ciro tinham Lula como segunda opção e 18% tinham Bolsonaro como segunda opção.

No caso dos eleitores de Tebet, 34% tinham Lula como segunda opção e 18% tinham Bolsonaro como segunda opção.

Isso não significa, obviamente, que todas essas pessoas votarão em Lula ou em Bolsonaro no segundo turno.

A segunda saída, tirar votos de Lula, parece ainda mais difícil para Bolsonaro. O único candidato que teve menos votos no segundo turno do que no primeiro foi Geraldo Alckmin em 2006.

O então presidenciável do PSDB teve quase 2,5 milhões de votos a menos na segunda votação. Seu adversário naquela eleição, Lula, teve quase 12 milhões de votos a mais no segundo turno. Curiosamente, Alckmin (agora no PSB) se tornou o vice de Lula na chapa presidencial deste ano.

2. Alta rejeição do eleitorado contra Bolsonaro

Um dos principais obstáculos de Bolsonaro durante toda a campanha eleitoral era a alta taxa de rejeição dos eleitores.

Pesquisa realizada pelo Ipec no fim de setembro apontava que 51% dos eleitores não votariam de jeito nenhum em Bolsonaro. Em comparação, 35% afirmavam que não votariam de jeito nenhum em Lula.

Segundo o Datafolha, em pesquisa no fim de setembro, as taxas mais altas de rejeição a Bolsonaro estavam entre mulheres, jovens, classes mais pobres, desempregados, estudantes, funcionários públicos e moradores das regiões Sudeste, Norte e Nordeste.

Especialistas apontam que esses números não são absolutos nem consolidados. Mas eles ficaram bastante estáveis ao longo do primeiro turno, o que aponta dificuldades para revertê-los.

Para alguns analistas, Bolsonaro ainda pode se beneficiar de elementos que o ajudaram a se eleger em 2018, como o antipetismo. Neste ano, esse sentimento estava diluído entre diversos candidatos no primeiro turno, e uma disputa agora concentrada em Lula e Bolsonaro pode reunir novamente esses eleitores antipetistas em torno de Bolsonaro, como ocorreu há quatro anos.

Outros especialistas afirmam que a rejeição de Bolsonaro tem um outro lado importante para ele: a mobilização constante de seus eleitores. Ou seja, estima-se que a taxa de comparecimento às urnas dos apoiadores de Bolsonaro deve ser maior do que a de outros candidatos.

Por outro lado, Solano Gallego avalia que Bolsonaro deve ter dificuldade para ampliar sua base de apoio porque o eleitorado não tem respondido à agenda da mesma forma positiva que fez em 2018.

"Nesta eleição, há um cansaço e uma saturação entre os eleitores evangélicos com a excessiva politização dos âmbitos religiosos, dos púlpitos. Mesmo com sua ofensiva de pânico moral, Bolsonaro já parou de crescer entre os evangélicos. É claro que ele continuará apostando nisso, colocando o PT como se fosse o destruidor da família, dos costumes, da fé e da moral."

3. Lenta recuperação da economia

Uma das principais apostas de Bolsonaro durante o primeiro turno era que a melhora da economia brasileira impulsionaria sua campanha pela reeleição. Isso porque a economia era considerada o principal problema do país por grande parte dos eleitores.

Especialistas apontam que o cenário econômico menos pior tem beneficiado os números de Bolsonaro, tanto daqueles que declaram voto nele quanto daqueles que aprovam seu governo.

Mas a velocidade da recuperação tem sido bem mais lenta do que esperava o presidente.

'Segundo pesquisa Ipespe, 70% dos brasileiros veem responsabilidade de Bolsonaro na inflação dos combustíveis'

A inflação, por exemplo, está em queda após seguidos aumentos. No acumulado dos últimos 12 meses, a inflação no país é de 10,07%, mesmo com a queda registrada em julho de 0,68% no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), segundo o IBGE.

Economistas do mercado financeiro consultados pelo Banco Central têm reduzido semana a semana as projeções da inflação para 2022. Atualmente, a previsão média de mais de cem instituições financeiras é de que a inflação feche o ano de 2022 abaixo de 6%.

Mas apesar de todas essas quedas, o Brasil ainda tem a 4ª maior taxa de inflação entre os países do G20, grupo que reúne as maiores economias do mundo, segundo dados do início de agosto da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

4. Margem restrita para medidas de governo com potencial eleitoral

Ao longo da campanha, muitos analistas repetiram a expressão "jogar dinheiro do helicóptero", cunhada pelo economista americano Milton Friedman, para falar das medidas bilionárias adotadas por Bolsonaro antes e durante a campanha eleitoral.

As duas principais foram o aumento do Auxílio Brasil (de R$ 400 para R$ 600) e a redução de impostos para abaixar os preços dos combustíveis.

Segundo especialistas, no segundo turno Bolsonaro não tem praticamente mais margem de manobra no orçamento federal para criar ou turbinar medidas com potencial eleitoral.

5. Falta de dinheiro (e de aliados) para a campanha

Os dados do fim de setembro apontavam que a campanha presidencial de Lula havia reunido R$ 89 milhões, quase tudo repassado pelo PT a partir do fundo eleitoral.

Àquela altura, a campanha de Bolsonaro havia recebido quase R$ 17 milhões do PL e arrecadado outros R$ 12 milhões em doações privadas (principalmente de empresários).

Para o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), coordenador da campanha de seu pai à reeleição, a falta de dinheiro era um "ponto crítico" e já afetava a quantidade de viagens que Bolsonaro faria pelo país, por exemplo.

A enorme diferença entre os repasses do PT e do PL para as campanhas presidenciais reflete as estratégias de cada partido. Enquanto o PT priorizou a eleição de Lula, o PL se concentrou nas campanhas de candidatos ao Senado e à Câmara dos Deputados.

Entre outros motivos porque o tamanho da bancada de deputados federais é uma das referências usadas para definir quanto cada partido receberá dos cofres públicos.

Além disso, a transferência de Bolsonaro para o PL foi acompanhada por diversos parlamentares, o que acirrou ainda mais a disputa interna pelas verbas do partido para a campanha eleitoral de 2022.

Mas Bolsonaro não enfrenta apenas falta de verbas dentro de sua base partidária. Há relatos de falta de apoio também.

A popularidade elevada de Lula na região Nordeste, por exemplo, fez com que muitos aliados de Bolsonaro não fizessem campanha para ele com medo de afastar eleitores.

Um levantamento do jornal Folha de S.Paulo em agosto apontou que um terço dos candidatos a governador que estavam formalmente aliados com o PL nas eleições não publicavam imagens ou faziam referências a Bolsonaro nas redes sociais.

Para a socióloga e professora Esther Solano Gallego (Unifesp), a própria personalidade de Bolsonaro, "considerada por muitos brasileiros como instável, agressiva e intolerante", atrapalha o acerto de alianças políticas para garantir sua governabilidade e ampliar seus palanques ao redor do país.

"(Bolsonaro) não conseguiu sequer ter um partido potente por trás, o que dizer de alianças eleitorais ou institucionais. Essa personalidade antidemocrática está fazendo com que o mundo institucional democrático brasileiro esteja dando as costas para ele."

A cientista política e professora Maria do Socorro Braga (Unicamp), por outro lado, afirma que Bolsonaro deve conseguir turno atrair no segundo o apoio de diversos setores da direita brasileira.

Ela cita os exemplos da direita neoliberal, do partido União Brasil (fusão do DEM com o PSL), que no primeiro turno estava formalmente ligado à candidatura presidencial de Soraya Thronicke (União Brasil-MS), e de setores do PSDB, formalmente ligados à candidatura presidencial de Simone Tebet (MDB-MS).

"No segundo turno, o ex-presidente Lula terá muito maior dificuldade de arregimentar esses setores mais à direita. Os Estados serão fundamentais para fortalecer o Bolsonaro, especialmente no Sudeste e no Sul", diz Braga.

Para a pesquisadora, haverá também aproximação de aliados de Bolsonaro no Congresso que não fizeram campanha para o presidente no primeiro turno, sob o temor de perderem votos em regiões onde Lula lidera com folga, mas que estarão de certa forma mais desimpedidos para apoiá-lo no segundo turno presidencial. 

BBC Brasil

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