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sábado, setembro 03, 2022

Argentinos reagem ao atentado contra Cristina Kirchner com manifestações em Buenos Aires




Imagem de manifestação para demonstrar apoio a Cristina Kirchner em Buenos Aires, em 2 de setembro de 2022 

O principal ato aconteceu na Praça de Maio, um ponto tradicional de comícios e outros atos políticos na frente da Casa Rosada, a sede do governo. Políticos da situação e da oposição repudiaram o ataque à vice-presidente Cristina Kirchner em Buenos Aires.

Um novo clima de inquietação tomou conta da Argentina nesta sexta-feira (2), após o atentado com arma contra sua vice-presidente, Cristina Kirchner, que saiu ilesa devido a um defeito mecânico da pistola. Há manifestações políticas em Buenos Aires para demonstrar apoio a Cristina.

O agressor apontou a arma --as autoridades disseram a pistola estava carregada-- para Cristina do lado de fora da casa dela em Buenos Aires, à queima-roupa, mas a arma não disparou.

    'Nesta sexta-feira, o principal ato aconteceu na Praça de Maio, um ponto tradicional de comícios e outros atos políticos na frente da Casa Rosada, a sede do governo. Milhares de pessoas foram ao local'.

Alberto Fernández, o presidente, decretou feriado nesta sexta-feira justamente para que as pessoas pudessem participar de manifestações.

Segundo o jornal "La Nación", Fernández convocou representantes sindicais, empresários, membros de organizações de direitos humanos e representantes de religiões para participar do ato na frente da Casa Rosada e fazer um discurso contra a violência.

A atriz Alejandra Darín, presidente da Associação Argentina de Atores, leu uma carta. Ela é irmã do ator Ricardo Darín.

Ela afirmou que não há como relativizar ou minimizar uma tentativa de homicídio, afirmou que a solidariedade dos líderes da América Latina, dos EUA, da Europa e do papa mostra que o mundo compreende a gravidade do que aconteceu, e que, também internamente, houve acenos de diferentes grupos, como o movimento trabalhador, entidades empresárias, entidades religiosas, associações esportivas e grande parte dos políticos de diferentes ideologias.

No texto, também se diz que há anos "um setor minúsculo dos dirigentes políticos" vem repetindo um discurso de ódio, de criminalização de dirigentes populares do peronismo ou de seus simpatizantes.

A vida democrática, afirmou ela, é incompatível com as ações das minorias violentas que obrigam os dirigentes a tomar ações cada vez mais extremas para contentar essas minorias.

"Ninguém é responsável pelas ações dos outros, mas quem deu minutos no ar a esses discursos deve pensar em como colaborou para que tenhamos chegado a essa situação", disse ela.

Cristina saiu de casa pela primeira vez

Alberto Fernández visitou Cristina na casa da vice-presidente. Segundo o jornal "Clarín", ele ficou lá por 45 minutos e saiu sozinho.

Depois disso, a vice-presidente também saiu da casa dela. Mais protegida, ela acenou para as pessoas que estavam por perto.

'Sociedade perdeu a calma'

Oscar Delupi, de 64 anos, funcionário ferroviário da capital, culpou as divisões políticas pelo desencadeamento da violência.

"A sociedade já perdeu um pouco a calma, a mensagem de ódio que a oposição emite está se tornando cada vez mais feroz", disse ele.

"Felizmente a bala não saiu porque as consequências poderiam ter sido muito piores", disse Florencia Suera, uma trabalhadora de 22 anos de Buenos Aires.

Políticos também reagem

Políticos de todos os segmentos ideológicos da Argentina condenaram o ataque, que aconteceu em meio a tensões políticas agudas (o país passa por uma crise econômica impulsionada por dívidas e inflação descontroladas).

Horacio Rodríguez Larreta, um político de oposição ao kirchnerismo e prefeito da cidade de Buenos Aires, chamou de "um ponto de virada na (nossa) história democrática". É um comentário semelhante ao do presidente Alberto Fernández em um discurso noturno.

No entanto, alguns políticos reagiram com críticas à forma como o governo reagiu. Patricia Bullrich, do PRO, disse que o presidente está brincando com o fogo: "Em vez de investigar seriamente um fato grave, acusa a oposição e a imprensa e decreta um feriado para mobilizar os militantes. (Ele) converte um ato de violência individual em uma jogada política. Lamentável".

Miguel Angel Pichetto, do Encontro Republicano, também criticou o Alberto Fernández: "O presidente não entende nada. A oposição repudiou o ato e se solidarizou com a vice-presidente. O presidente, da parte dele, culpa a oposição, a Justiça e os veículos de imprensa. Depois, decreta um feriado nacional. Para quê? É tudo patético", disse ele.

Líderes de outros países

O papa Francisco falou por telefone com a vice-presidente para expressar sua solidariedade, disse um comunicado de Cristina Kirchner. Líderes da região também criticaram o ataque.

"Foi deplorável, repreensível, mas ao mesmo tempo, eu diria, milagroso, porque ela está bem", disse o presidente mexicano de esquerda Andrés Manuel López Obrador.

Cristina enfrenta processos judiciais

Figura divisiva, Cristina Kirchner enfrenta acusações de corrupção ligadas a um suposto esquema de desvio de recursos públicos enquanto foi presidente, entre 2007 e 2015. Um promotor pediu uma sentença de 12 anos de prisão contra ela.

Cristina nega irregularidades, e seus apoiadores foram às ruas e se reúnem diariamente do lado de fora de sua residência.

Mais tarde, o gabinete do presidente Fernández pediu o fim de uma "retórica de ódio", enquanto Rodríguez Larreta acrescentou: "Hoje, mais do que nunca, todos os argentinos precisam trabalhar juntos pela paz".

O ataque foi transmitido em todo o país por meio de imagens de TV ao vivo que mostraram a arma sendo apontada para o rosto de Cristina Kirchner, antes de ela se abaixar e cobrir o rosto com as mãos.

Oscar Parrilli, senador da coalizão governista próximo à vice-presidente, disse à rádio local que ela estava em choque, mas que "por sorte, tem seu espírito, seu temperamento intacto".

A polícia prendeu um suspeito que eles disseram ser Fernando Andrés Sabag Montiel, um brasileiro de 35 anos.

G1

O novo e o estável nas eleições




Sucessão de pesquisas reforça tendência à estabilidade, e, nelas, ressalto o fato de que 80% dos eleitores parecem já ter decidido seu voto

Por Fernando Gabeira (foto)

A eleição começou para valer, nas ruas, nas redes, com propaganda e debates na TV. Há muito tempo que observo nela uma característica singular: a tendência à estabilidade nas opções de voto.

Claro que coisas novas podem acontecer. Mas os dados que indicam estabilidade são abundantes. O primeiro deles é o fato de estarem em confronto dois nomes populares: Lula e Bolsonaro. Ambos têm um trabalho para mostrar: o de Lula realizado durante oito anos, o de Bolsonaro de 2019 para cá.

A tendência é reforçada pela sucessão de pesquisas e, nelas, além da pontuação geral, ressalto o fato de que 80% dos eleitores parecem já ter decidido seu voto.

Outro fator que, pela minha experiência, aponta para uma estabilidade: quem está no governo e começa mal tem chances reduzidas de reverter a situação.

Quase sempre, nas eleições, candidatos da oposição crescem e ameaçam os governos, porque são ainda desconhecidos e trazem a esperança de fazer melhor.

Bolsonaro tentou alterar o quadro: atropelou a lei eleitoral, o equilíbrio das contas públicas e até a própria Constituição. Até o momento, o auxílio emergencial não abalou a estabilidade, no sentido de que não alterou as chances de Bolsonaro ultrapassar seu adversário. Parte da ineficácia eleitoral do artifício parece ser a compreensão das pessoas de que o auxílio não foi realmente destinado a elas, mas sua função é garantir o êxito eleitoral de Bolsonaro. Foi decidido tardiamente e dura só até dezembro.

Fatores de estabilidade parecem estar presentes também nas eleições para o Congresso. Aqui, a situação é um pouco diferente: os artifícios são mais eficazes para bloquear a renovação.

O fundo eleitoral, de R$ 4,9 bilhões, é totalmente controlado pelas burocracias partidárias, o que deve favorecer os que já têm mandato. Mas talvez o fator mais importante para evitar mudanças seja o próprio orçamento secreto. A divisão de R$ 17 bilhões entre deputados e senadores deu a eles um instrumento poderoso para a vitória nas urnas. Os escândalos em torno dessa massa de dinheiro público espalhado pelo País começam a pipocar. Mas ainda acontecem muito longe dos olhos da grande imprensa: no Maranhão, em Alagoas. Não há tempo para usar este mecanismo como um instrumento eleitoral contra os assaltantes dos cofres oficiais.

Apesar de tudo, algumas novidades acabarão abrindo caminho neste campo minado. Uma delas é a força da presença feminina. No debate na Band, as duas mulheres, Simone Tebet e Soraya Thronicke, se destacaram. Bolsonaro sempre se destacou por temer o socialismo. Mas tudo indica que ele teme mais ainda a ascensão das mulheres.

Hoje, o eleitorado feminino já é maioria no Brasil. Os velhos hábitos que apontam para uma supremacia masculina já não têm mais espaço. O mais assustador, na cabeça de Bolsonaro, é o fato de que não é um perigo que ele possa rotular como comunista. As duas mulheres são de centro e centro-direita. O tema de combate ao machismo transcendeu aos limites da esquerda.

Vou refletir sobre isso em outro momento, mas tudo indica que a sociedade patriarcal corre o risco de desaparecer sem que o próprio capitalismo seja ameaçado. É possível até que se enriqueça com uma utilização mais vasta do talento social disponível.

Outras novidades já presentes na sociedade ainda não se apresentaram com força na campanha. A questão ambiental, se levarmos em conta que foi centro do programa de Joe Biden, aparece rapidamente – menções ainda de pé de página.

Da mesma forma o racismo, tão presente no cotidiano do Brasil, não foi mencionado nos debates e nas entrevistas.

Ainda há muito caminho pela frente. Uma das pesquisas qualitativas divulgadas na imprensa revela que o sentimento de tristeza foi muito comum entre os espectadores do debate. Infelizmente, não há mais dados sobre as causas. Creio, entretanto, que há razões para um certo desalento. A dimensão da crise brasileira parece muito ampla diante da modéstia das ideias apresentadas.

Mas isso pode ser também uma decorrência do formato dos debates. Há pouco tempo, perguntas e respostas. A verdade é que as atenções começam a convergir para a escolha dos dirigentes e o Brasil, neste campo, tem razão para algum otimismo. As audiências para o tema político estão aumentando, foi assim com as entrevistas e com o debate, sem contar o fato de que mais de 2 milhões de jovens eleitores se alistaram, apesar de o voto ainda não ser obrigatório para eles.

Estamos fazendo esta eleição ao mesmo tempo que comemoramos os 200 anos de independência. Muitos problemas que tentamos resolver na época ainda rondam o País. Um deles é o controle social do Orçamento, presente nas revoltas de fevereiro de 1821 no Rio. Os temas mais consultados no Google, depois do debate, foram orçamento secreto e sigilo de cem anos.

Se acrescentarmos ao orçamento secreto e ao sigilo de cem anos o fato de que Bolsonaro não divulga seus gastos pessoais, veremos que as aspirações de transparência que já apareciam no nascimento do País independente ainda não foram resolvidas.

Do grito do Ipiranga de Dom Pedro ao Posto Ipiranga de um presidente despreparado, foi um longo caminho ainda não concluído.

O Estado de São Paulo

Na Expointer, Bolsonaro exalta armas de fogo e fortalece ligação com agronegócio




Em campanha pela reeleição, o presidente Jair Bolsonaro exaltou a posse e o porte de armas de fogo no campo e fortaleceu sua ligação com o agronegócio nesta sexta-feira, 2, durante a abertura da 45ª Expointer, em Esteio (RS), na Região Metropolitana de Porto Alegre. A feira agropecuária é a maior a céu aberto da América Latina.

"Hoje vocês têm a posse e porte de arma estendido. Um orgulho nosso: dobramos o número de CACs [grupo de colecionadores, atiradores e caçadores] e hoje somos 700 mil CACs pelo Brasil. Armas de fogo são mais que a certeza familiar são a certeza que essa Pátria jamais será escravizada", afirmou o chefe do Executivo, que foi aplaudido pelo público formado por agricultores, criadores de animais e empresas de insumos agrícolas.

A defesa do armamento ocorre um dia após a tentativa de assassinato da vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, com uma arma de fogo. Até o momento, Bolsonaro foi o único dos principais candidatos ao Palácio do Planalto a não se manifestar sobre o ocorrido. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que o ódio político é uma ameaça à democracia na região. A senadora Simone Tebet (MDB) afirmou que é preciso dar um fim à violência política. O ex-governador Ciro Gomes (PDT), por sua vez, criticou o "radicalismo cego" e "polarizações odientas".

Bolsonaro exaltou o agronegócio na abertura da 45ª Expointer. "Meu reconhecimento pelo trabalho de vocês que trazem segurança alimentar e divisas ao nosso Brasil. Colaboramos com vocês em Brasília e queremos, cada vez mais, que vocês tenham independência do Executivo, mais liberdade para trabalhar", afirmou.

O presidente busca fortalecer sua ligação com o agronegócio em meio às dificuldades de Lula de se aproximar com o setor produtivo após declarações recentes em que associou parte do agro ao fascismo e ao desmatamento.

Bolsonaro voltou a mencionar suas ações na negociação para garantia de fertilizantes para os produtores rurais brasileiros, em meio à guerra entre Rússia e Ucrânia, e os mais de 400 mil títulos de terra distribuídos em sua gestão. "Hoje esses homens e mulheres se integram à nossa sociedade, se fazem amigos dos fazendeiros e se fazem cidadãos de verdade. Entregamos mais títulos que o 'bandido' lá atrás entregou em oito anos. Não podemos associar que certas pessoas ousem falar em comandar a nossa nação", repetiu, sem citar Lula nominalmente.

O presidente citou bandeiras da campanha, como a defesa da família e o rejeição à legalização das drogas, à descriminalização do aborto e à ideologia de gênero, numa tentativa de se fortalecer no agro também pela pauta conservadora, não apenas pelo viés de mercado. "Somos um País majoritariamente de cristãos e não admitiremos retrocesso nessa área", disse.

Bolsonaro participou da abertura do evento ao lado do governador do Estado, Ranolfo Vieira Júnior (PSDB), aliado de Tebet. O presidente está acompanhado do vice-presidente e candidato ao Senado pelo Rio Grande do Sul, Hamilton Mourão (Republicanos), e do ministro da Agricultura, Marcos Montes. Também estavam no palco o senador Luis Carlos Heinze (PP), candidato ao governo do Estado, e o ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL), que também disputa o governo gaúcho. Ambos dividem o apoio político de Bolsonaro na disputa pelo Palácio Piratini.

Após a abertura, Bolsonaro almoçará com lideranças do agronegócio gaúcho em encontro organizado pela Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) e visitará os animais expostos e stands da feira. Amanhã, em Novo Hamburgo (RS), na região do Vale dos Sinos, Bolsonaro participará do encontro "Mulheres pela Vida e pela família", acompanhado da primeira-dama Michelle Bolsonaro. São esperadas 7 mil mulheres no evento de cunho religioso.

Apoio

Antes do discurso de Bolsonaro, o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira, manifestou apoio do setor à reeleição do atual presidente da República. "O campo não é direitista e muito menos fascista. O campo é bolsonarista", disse Gedeão, conclamando os presentes aos gritos de "mito", em referência à declaração recente de Lula em que associou parcela do setor à direita e ao fascismo.

Estadão / Dinheiro Rural

Pará: Lula veste cocar ao encontrar indígenas e diz que ‘a boiada não vai passar’




O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, vestiu um cocar durante encontro com indígenas em Belém, capital do Pará. O gesto, quando feito por brancos, costuma ser interpretado por segmentos dos povos originários como apropriação cultural.

Ao discursar, o ex-presidente voltou a prometer a criação de um Ministério dos Povos Originários com um representante do grupo na chefia e a garantir que, se eleito, vai acabar com o garimpo ilegal no País.

A fala de Lula foi antecedida por discursos de lideranças indígenas e da causa ambiental. "A principal e maior homenagem a Dom e Bruno é garantir os direitos dos povos indígenas pelos quais eles deram a vida", afirmou Beatriz Matos, esposa do indigenista Bruno Pereira, morto junto ao jornalista inglês Dom Philips.

Em novo aceno aos povos indígenas, Lula afirmou nesta sexta-feira em encontro com lideranças do setor que, se ele for eleito, "a boiada não vai passar mais".

A declaração é uma crítica indireta a Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro. Em reunião no dia 22 de abril de 2020, Salles afirmou que era preciso aproveitar a atenção da imprensa à pandemia de covid-19 para "passar a boiada" - isto é, aprovar no Congresso Nacional medidas de afrouxamento à legislação para proteger o meio ambiente.

"Não sei se tenho a grandeza de representar os povos da floresta", declarou Lula, que cumpre agendas no Norte do País. Após o encontro com os indígenas, o petista embarca para São Luís, capital do Maranhão, para comício ao lado do ex-governador e candidato ao Senado Flávio Dino (PSB).

Estadão / Dinheiro Rural

Discurso radical afasta governadores aliados da campanha de Bolsonaro




A 30 dias da votação em primeiro turno, o presidente Jair Bolsonaro (PL) não conseguiu ainda arregimentar o apoio engajado de nenhum dos governadores dos três maiores colégios eleitorais do País: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Embora busquem eleitores que se enquadram no mesmo campo político que o presidente, a direita, os três chefes do Executivo nestes Estados evitam associação com o discurso radicalizado do bolsonarismo em temas como urnas eletrônicas, ataques ao Superior Tribunal Federal (STF) e ameaças à democracia.

São Paulo, Minas e Rio reúnem mais de 63 milhões de eleitores, o que representa cerca de 40% do total de votantes no Brasil.

Mais próximo a Bolsonaro na região Sudeste, o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), tem usado pouco a imagem do presidente nas redes sociais e na TV. Mas por pressão do PL, a ideia é que Bolsonaro entre em comerciais nas próximas semanas, só que de forma moderada e falando de economia e Auxílio Brasil.

A mais recente pesquisa Datafolha no Estado, divulgada ontem, mostra que Castro se descolou do deputado federal Marcelo Freixo (PSB), candidato apoiado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT): 31% a 26%. Pesquisa Ipec (ex-Ibope) divulgada na semana passada aponta que o ex-presidente mantém pequena vantagem sobre Bolsonaro entre os eleitores do Rio: 39% a 36%.

A avaliação entre aliados de Castro é de que as campanhas para governador e presidente estão descoladas neste ano, ao contrário de 2018, e o eleitorado agora tende a buscar o voto seguro de quem já está no poder. "O eleitor do Rio está mais preocupado com a vida dele do que com a eleição nacional", disse o publicitário Paulo Vasconcellos, marqueteiro de Cláudio Castro.

A campanha à reeleição do governador do Rio ainda avalia como será sua participação nos eventos do 7 de Setembro no Rio de Janeiro. A ideia é de que o governador apareça ao lado de Bolsonaro, mas há um cuidado para evitar que o chefe do Executivo estadual fique vinculado a eventuais ataques ou declarações do presidente contra membros de outros poderes ou instituições democráticas.

No caso de Minas Gerais, a separação de interesses do eleitor é ainda mais emblemática. Na pesquisa Datafolha divulgada ontem, o governador Romeu Zema (Novo) ampliou a vantagem sobre Alexandre Kalil (PSD) e registrou 52% das intenções de voto, ante 22% do adversário - ex-prefeito de Belo Horizonte, que conta com o apoio de Lula.

Na pesquisa anterior, divulgada dia 18, Zema tinha 47% e Kalil 23%. O nome apoiado por Bolsonaro, Carlos Viana (PL) cresceu de 4% para 5%.

‘LUZEMA’

Antes considerado um aliado de Bolsonaro, Zema não só ignora o presidente da República em sua campanha na TV e redes sociais como seu entorno tem incentivado um movimento chamado "Luzema" (voto casado em Lula e Zema). Assim como nos casos do Lulécio (voto em Lula e Aécio Neves em 2002 e 2006 ) e Dilmasia (voto em Dilma Rousseff e Antonio Anastasia em 2010), o Luzema não tem chancela oficial, mas pode ser visto em adesivos, bonés e memes nas redes sociais.

A explicação, segundo integrantes do governo mineiro, é geográfica. Lula tem mais votos nas regiões mais pobres do Estado, em cidades que passaram a receber repasses do atual governo. Prefeitas petistas como Marília Campos, de Contagem, e Margarida Salomão, de Juiz de Fora, mantêm uma boa relação com Zema.

"Eles (governo) estimulam esse movimento Luzema, mas acho improvável que ele tenha consistência. Mas as pessoas estão desanimadas com a eleição estadual e isso favorece a inércia e o recall. Se as redes sociais e a TV não mexerem com as pessoas, vai dar Lula e Zema por inércia", disse Marcus Pestana, candidato do PSDB ao governo mineiro.

Mapas de votação da eleição em Minas em 2018 - conforme a ferramenta Geografia do Voto, parceria entre o Estadão e a agência Geocracia - mostram que no primeiro turno para governador, a então surpresa Romeu Zema obteve vitória sobre Fernando Pimentel com uma votação geográfica praticamente idêntica à de Bolsonaro no Estado.

Minas Gerais, com 16,2 milhões de habitantes aptos a votar neste ano, é o segundo maior colégio eleitoral do País, e costuma ser o fiel da balança da eleição presidencial.

Os petistas minimizam o movimento Luzema e atribuem a ideia a partidos como o Solidariedade, Agir e Avante, que estão com Lula no plano nacional e Zema no Estado.

"Ainda é cedo. Só 30% dos eleitores de Minas sabem que o Lula apoia o Kalil. Alguns partidos apoiam o Lula para presidente e o Zema para governador, mas a campanha é unificada", disse o deputado federal Reginaldo Lopes (MG), líder do PT na Câmara.

‘TERCEIRA VIA’

Em São Paulo, o governador Rodrigo Garcia (PSDB) aumentou o tom nas críticas ao PT e reforçou o discurso sobre a segurança pública, mas sem se associar em nenhum momento a Bolsonaro.

A campanha de Garcia relativizou os números do Datafolha divulgados ontem. O governador tucano, conforme o levantamento, permanece em terceiro lugar na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, atrás de Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro da Infraestrutura, apoiado por Bolsonaro. Garcia pretende fazer uma "disputa de atributos" com seus adversários e aposta na alta rejeição a Bolsonaro em São Paulo para chegar ao segundo turno.

O eleitor bolsonarista está no radar da campanha do tucano, mas isso não significa que o governador vai acolher a agenda do presidente.

Os candidatos à Presidência têm concentrado suas agendas no Sudeste, região mais rica e mais populosa do País. Somente São Paulo concentra 34,6 milhões de eleitores. Segundo o Agregador de Pesquisas do Estadão, Lula supera Bolsonaro por 39% a 35% na região Sudeste.

Estadão / Dinheiro Rural

Ex-funcionário afirma que primeira mansão de Bolsonaro na Barra da Tijuca foi comprada com 'dinheiro por fora'



'Sempre tem um por fora, né?', teria dito a ex-esposa de Bolsonaro a Marcelo Nogueira. 'Foi dado em dinheiro vivo por trás', relata o ex-funcionário

Ex-funcionário da família de Jair Bolsonaro (PL), Marcelo Nogueira conto
u a Juliana Dal Piva e Thiago Herdy, do UOL, que a ex-esposa de Bolsonaro Ana Cristina Siqueira Valle lhe confidenciou que a primeira casa onde o casal morou na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, foi comprada com 'dinheiro por fora'. Ela nega as acusações.

Bolsonaro e Ana Cristina viveram no imóvel entre 2002 e 2007. A casa fica na rua Maurice Assuf, na zona Oeste da capital fluminense, e foi comprada em 22 de novembro de 2002. Morava no mesmo condomínio o ex-jogador de futebol Zico, ídolo do Flamengo. A mansão tinha dois pisos e piscina.

"Antes de formalizar a negociação, o antigo casal Bolsonaro fez uma escritura de promessa de compra e venda. Esse documento foi lavrado no 24º Ofício de Notas em 19 de agosto de 2002. Nessa escritura, ficou descrito que a venda da mansão foi negociada por um valor de R$ 500 mil. No entanto, o imóvel, à época, tinha valor de avaliação para cálculo de imposto no total de R$ 874,1 mil. Ou seja, o negócio saiu com um desconto de 43%. Segundo o acerto de Cristina e Jair com os antigos proprietários, R$ 160 mil foram quitados com um cheque, entregue no ato da compra da mansão, e outros R$ 250 mil deveriam ser pagos até o dia 19 de dezembro de 2002. O casal declarou ao cartório que havia pagado R$ 90 mil anteriormente, como sinal. Não ficou descrito no documento o modo do pagamento desse sinal. Nem foi informado posteriormente, quando a escritura de compra e venda foi formalizada após os R$ 250 mil terem sido quitados", detalha a reportagem.

Nogueira explicou que enquanto limpava a organizava o escritório na mansão, viu a escritura e se espantou com o valor, que estaria, na avaliação dele, abaixo dos padrões. Ele então comentou com Ana Cristina e ela teria respondido: "é que sempre tem um por fora, né?".

"Quando ela comprou aquela casa da Barra, na época, por R$ 500 mil na documentação.... só que foi mais. Que foi dado em dinheiro vivo, por trás', afirma o ex-funcionário.

Reportagem do UOL publicada nesta semana mostra que quase metade do patrimônio da família Bolsonaro em imóveis foi comprada com dinheiro vivo. Foram 51 imóveis pagos total ou parcialmente com dinheiro em espécie.

A prática não é ilegal e nem configura crime, mas é comumente utilizada para lavagem de dinheiro. 

Brasil 247 / Jornal do Brasil

O bolsonarismo é corrupto




Bolsonarismo está cheio de gente suja feito Jair Bolsonaro e seus filhos

Por Mariliz Pereira Jorge (foto)

O eleitor de Jair Bolsonaro não se comove com as reportagens sobre o enriquecimento da família do presidente porque não se importa com corrupção, ao contrário do que diz. Em cerca de 30 anos, o clã negociou 107 imóveis, 51 deles pagos total ou parcialmente com dinheiro vivo, segundo reportagem do UOL. Se alguém ainda acha que nesse angu não tem caroço, é porque é igual.

De todas as mentiras contadas por Jair, sempre achei a do combate à corrupção a melhor. O então deputado conseguiu convencer parte da população de que ele era um político preocupado com a má gestão dos recursos públicos. Em 2018, muita gente tampou o nariz e apertou o 17 com força, apesar do perfil autoritário, homofóbico, misógino e racista do então candidato.

É evidente que parte do eleitorado é um espelho do presidente nessas questões, mas sempre achei difícil acreditar que havia tanta gente capaz de relevar as atitudes de Bolsonaro apenas em prol da luta contra corrupção. Bem, parece claro que há uma parte não só preconceituosa mas conivente com a roubalheira.

Os esquemas de rachadinha e de compra de imóveis da família, que têm toda a pinta de lavagem de dinheiro, começaram a ser denunciados ainda antes da posse presidencial. De lá para cá, o bolsonarista viu a imagem pretensamente ilibada dos Bolsonaros ficar mais suja que estátua cagada de pombo, mas está sempre pronto para passar um pano que mal disfarça a sujeirada toda.

Embora honestidade não seja privilégio de nenhuma ideologia, o bolsonarismo é corrupto de raiz, chafurda na mesma lama que diz combater. Bolsonaro não derrete porque lavagem de dinheiro, sonegação de impostos, desvio de verba de gabinetes, fraudes no auxílio emergencial e superfaturamento de gastos são práticas de seus apoiadores. De empresários a parlamentares e cidadãos comuns, o bolsonarismo está cheio de gente suja feito Jair Bolsonaro e seus filhos.

Folha de São Paulo

Boas notícias na economia trarão votos a Bolsonaro - Editorial




Resultados positivos na inflação, emprego e crescimento terão efeito na urna - mas não se sabe quanto

Boas notícias continuam a se suceder na economia brasileira. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou nos últimos dias três indicadores positivos — inflação, desemprego e crescimento — que deverão ter impacto relevante nas eleições de outubro.

A inflação acumulada em 12 meses continua em trajetória descendente e ficou em agosto abaixo de 10% pela primeira vez em um ano (9,6%, pelo IPCA-15). Foi o segundo mês consecutivo de deflação, resultado dos malabarismos do governo Jair Bolsonaro para segurar os preços dos combustíveis e da energia. As expectativas para os preços até o fim do ano são otimistas.

O desemprego atingiu 9,1%, 4,6 pontos percentuais abaixo do patamar de um ano atrás. O contingente de ocupados chegou a 98,7 milhões, recorde na série histórica iniciada em 2012. É verdade que a informalidade continua alta (39,8%). Mas ela vem caindo, e a maior parte da alta no nível de emprego advém da criação de postos de trabalho no setor formal — sinal do êxito inequívoco da reforma trabalhista promovida em 2017 pelo governo Michel Temer.

Por fim, o PIB cresceu 1,2% no segundo trimestre. Nos últimos 12 meses, a alta acumulada foi de 2,6%, resultado da recuperação do setor de serviços, o maior gerador de empregos. Boa parte do crescimento se concentrou no primeiro semestre deste ano, cujo PIB subiu 2,5% na comparação com o mesmo período de 2021. Numa lista com 29 das principais economias do mundo, o crescimento brasileiro no trimestre ficou em sétimo lugar.

As privatizações neste ano aceleraram (o último sucesso foi a venda do aeroporto de Congonhas, em São Paulo), e há uma chance razoável de o Brasil fechar 2022 com o primeiro resultado no azul em oito anos nas contas públicas — em razão, é bom lembrar, do adiamento do pagamento de dívidas judiciais e da alquimia fiscal que permitiu ao governo federal distribuir um sem-número de benesses e auxílios de cunho eleitoral, com boa parte da conta transferida ao caixa de estados e municípios. É certo também que o refluxo da maré internacional — com indicadores pessimistas na China e na Europa — em algum momento deverá alcançar as praias brasileiras, mas por enquanto surfamos uma onda positiva.

Historicamente, bons indicadores econômicos estão associados a maior aprovação do governo, e aprovação em alta se converte em mais votos. Numa campanha eleitoral, debates, entrevistas e sabatinas são fundamentais para informar eleitores engajados, mas a decisão do eleitor médio sofre mais influência da situação econômica. É esperado, portanto, um efeito positivo dos indicadores na votação do presidente Jair Bolsonaro e de seus aliados.

A dúvida é até que ponto se dará a conversão das boas notícias econômicas em votos — e se o tempo que resta até a eleição (quatro semanas para o primeiro turno e oito para o segundo) será suficiente para Bolsonaro virar o quadro ainda desfavorável nas pesquisas. No primeiro debate entre os candidatos, ele não teve sucesso ao tentar elencar as conquistas de seu governo na economia. Enrolou-se nos números e transmitiu a sensação de estar despreparado para tratar do tema. Mas quem precisa se preocupar mais com os indicadores econômicos positivos é seu rival, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja estratégia de campanha é tirar o foco da corrupção e mudar o assunto justamente para a economia.

O Globo

Terceira via’ é diferença entre haver 2º turno ou não




Bloco dos candidatos alternativos já soma 16%, e pregação por voto útil pode ser mais intensiva até outubro

Por Vera Magalhães 

O crescimento em bloco dos candidatos do que se tentou chamar de “terceira via”, de 9% do total das intenções de votos para 16%, de acordo com o Datafolha, é o principal fator da pesquisa a apontar para a realização de um segundo turno na disputa presidencial.

O termo continua impreciso, pela distância entre Ciro Gomes, o mais bem votado dos candidatos alternativos, em relação a Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro. Com 9%, o candidato do PDT ainda não ameaça a presença do presidente, que tem 32%, no segundo turno.

Mas sua oscilação de dois pontos para cima, somada ao crescimento de três pontos percentuais de Simone Tebet (MDB), que aparece pela primeira vez com 5%, e o 1% de Soraya Thronicke (UB) e Felipe D’Ávila (Novo), é o que torna menos possível, hoje, a vitória de Lula em 2 de outubro.

Essa mesma característica pode tornar os eleitores de Ciro e Tebet, sobretudo, alvos da pregação pelo voto útil ainda mais intensiva neste mês de setembro.

Para onde vão eleitores de Simone Tebet?

Nesse caso, os votos de Ciro parecem mais destinados a desembocar em Lula, como mostram levantamentos recentes de outros institutos, mas o que esperar do eleitor de Tebet?

A senadora do MDB tem sido bem mais incisiva nas críticas a Bolsonaro que naquelas destinadas a Lula. Ainda assim, tem condenado o apoio de caciques de seu partido ao petista, e recusou um convite para dançar feito por ele no debate da Band.

O fenômeno da desidratação de candidatos alternativos aos líderes na reta final foi especialmente detectável em 2018, quando se criou a atual polarização da política entre bolsonarismo e petismo.

Naquela ocasião, a facada dada em Bolsonaro em 6 de setembro catalisou essa tendência, algo que até aqui não encontra correlato.

Mas o discurso na campanha do PT tem sido destinado sobretudo ao eleitor de Ciro, numa tentativa de atraí-lo para um voto em Lula em prol da democracia já no primeiro turno, como forma de brecar qualquer tentativa de Bolsonaro de reagir por meio dos programas sociais ou da recuperação da economia.

O Globo

A economia e a felicidade




Caminho que as eleições têm tomado, com muita raiva e ódio, não deve ajudar a economia e tende a reduzir o nível de felicidade do país

Por Armando Castelar Pinheiro* (foto)

Lilyhammer é uma de minhas séries favoritas na TV. Ambientada na Noruega, ela mostra uma cultura que conhecemos pouco, de bastante confiança entre as pessoas e nas instituições. Verdade que com muita “criminalidade” também, a parte engraçada da série, e um bocado de neve: para alguém que, como eu, não gosta de frio, nem de dias escuros, dá arrepios.

Talvez por isso, me impressione tanto a liderança dos países nórdicos no World Happiness Report publicado esta semana (worldhappi ness.report/). A Finlândia aparece mais uma vez como o país mais feliz dentre os 146 países analisados, seguida pela Dinamarca e Islândia. A Suécia e Noruega estão na sétima e na oitava posições, respectivamente. O Brasil aparece relativamente bem, na 38ª colocação.

Nesta sua décima edição, o relatório busca aprofundar uma série de questões sobre o tema da felicidade, inclusive a permanente pergunta sobre o que faz as pessoas felizes. Dois temas mais relacionados à economia me pareceram especialmente interessantes: a felicidade como alternativa ao PIB, enquanto métrica de progresso, e como foco das políticas públicas, em lugar do crescimento econômico.

Utilizei o Relatório sobre a Felicidade Mundial pela primeira vez no início de 2020, tentando entender o porquê dos protestos ocorridos em 2019 na América Latina, em especial no Chile, na Colômbia, na Bolívia e no Peru. A explicação mais comum era então a desaceleração do crescimento econômico, com o fim do super ciclo de commodities. Ocorre que os países que mais contribuíram para o PIB da região crescer menos - Argentina, Brasil e Venezuela - não eram aqueles onde havia protestos.

De fato, os países com mais manifestações vinham tendo desempenho econômico acima da média. Nos 20 anos anteriores, os PIBs per capita de Bolívia, Chile, Colômbia e Peru haviam crescido a uma média de 2,3%, 2,5%, 2,2% e 3,4% ao ano (a.a.), respectivamente, contra uma média para a América Latina e Caribe de 1,2% a.a. No decênio 2009-18, o contraste fora ainda maior: essas taxas haviam sido de 3,2%, 1,8%, 2,3% e 3,2% a.a., contra uma média regional de 0,6% a.a.

O Chile é, talvez, o melhor exemplo. O PIB per capita chileno é 61% mais alto que a média da região. O país se caracterizou nas últimas décadas pela boa gestão macroeconômica, com inflação (média de 2,7% a.a. em 2009-18), taxa de desemprego (7,3%) e déficits público (1,3% do PIB) e em conta corrente (2,5% do PIB) relativamente baixos. Ainda assim, o Chile viveu um longo período de violentos protestos, que só diminuíram com a decisão de se votar uma nova constituição (a ser submetida neste domingo a plebiscito) e uma radical mudança de governo. Mudanças políticas radicais também ocorreram na Bolívia, na Colômbia e no Peru.

A explicação que o Relatório daria, talvez, é que as pessoas nesses países não estão felizes. O Chile, apesar de uma renda per capita 65% superior à brasileira, está seis posições atrás de nós no ranking. A Colômbia tem PIB per capita um pouco superior ao nosso, mas está 28 posições atrás. A mesma explicação talvez se aplique também à polarização política em países ricos como os Estados Unidos, que ocupa a 16ª posição no ranking, apesar de ter PIB per capita superior ao de todos os dez primeiros colocados, com exceção da Suíça e de Luxemburgo.

Medir felicidade é, claro, difícil. O Relatório faz isso desde seu início por meio de pesquisas realizadas pela Gallup com habitantes de cada país; em geral, cerca de mil entrevistas por país por ano. Há um esforço de correlacionar os resultados com uma série de variáveis, concluindo-se pela importância da renda, do apoio social, da saúde (expectativa de vida), da liberdade de fazer escolhas, da ausência de corrupção e da generosidade. Assim, por exemplo, apesar da renda mais alta, os EUA têm uma expectativa de vida mais baixa que todos os dez primeiros colocados no ranking: na média, 7% menor no caso de homens, 5% no de mulheres. E nos EUA a expectativa de vida está em queda (ver on.ft.com/3B5vZrr), ao contrário da renda.

Ao aceitar a felicidade como uma métrica alternativa ao crescimento econômico, chega-se a um cardápio mais amplo de políticas públicas a serem enfatizadas. Esse não é, porém, o foco central do Relatório. Mais interessante, nesse sentido, é o esforço que a OCDE tem feito com os indicadores do Better Life (www.oecdbetterlifeindex.org/). Na lista de indicadores aí considerados estão alguns conhecidos, como renda, habitação, educação e saúde, mas também outros menos comuns, como comunidade, engajamento cívico, equilíbrio vida-trabalho e satisfação com a vida.

Esse é um menu interessante para quem está montando programas para um eventual novo governo. Nele, o Brasil vai em geral melhor em outros indicadores que não a renda per capita, exceção à segurança pública, onde também estamos comparativamente bem mal. Mas, claro, comparados à média da OCDE, ainda temos bastante espaço para melhorar em quase todas as áreas. Infelizmente, o caminho que as eleições têm tomado, com forte polarização e muita raiva e ódio, não é um bom prenúncio. Esse caminho não deve ajudar a economia, mas tende a reduzir o nível de felicidade do país.

*Armando Castelar Pinheiro é professor da FGV Direito Rio e do Instituto de Economia da UFRJ e pesquisador-associado do FGV Ibre

Valor Econômico

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