Resultados positivos na inflação, emprego e crescimento terão efeito na urna - mas não se sabe quanto
Boas notícias continuam a se suceder na economia brasileira. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou nos últimos dias três indicadores positivos — inflação, desemprego e crescimento — que deverão ter impacto relevante nas eleições de outubro.
A inflação acumulada em 12 meses continua em trajetória descendente e ficou em agosto abaixo de 10% pela primeira vez em um ano (9,6%, pelo IPCA-15). Foi o segundo mês consecutivo de deflação, resultado dos malabarismos do governo Jair Bolsonaro para segurar os preços dos combustíveis e da energia. As expectativas para os preços até o fim do ano são otimistas.
O desemprego atingiu 9,1%, 4,6 pontos percentuais abaixo do patamar de um ano atrás. O contingente de ocupados chegou a 98,7 milhões, recorde na série histórica iniciada em 2012. É verdade que a informalidade continua alta (39,8%). Mas ela vem caindo, e a maior parte da alta no nível de emprego advém da criação de postos de trabalho no setor formal — sinal do êxito inequívoco da reforma trabalhista promovida em 2017 pelo governo Michel Temer.
Por fim, o PIB cresceu 1,2% no segundo trimestre. Nos últimos 12 meses, a alta acumulada foi de 2,6%, resultado da recuperação do setor de serviços, o maior gerador de empregos. Boa parte do crescimento se concentrou no primeiro semestre deste ano, cujo PIB subiu 2,5% na comparação com o mesmo período de 2021. Numa lista com 29 das principais economias do mundo, o crescimento brasileiro no trimestre ficou em sétimo lugar.
As privatizações neste ano aceleraram (o último sucesso foi a venda do aeroporto de Congonhas, em São Paulo), e há uma chance razoável de o Brasil fechar 2022 com o primeiro resultado no azul em oito anos nas contas públicas — em razão, é bom lembrar, do adiamento do pagamento de dívidas judiciais e da alquimia fiscal que permitiu ao governo federal distribuir um sem-número de benesses e auxílios de cunho eleitoral, com boa parte da conta transferida ao caixa de estados e municípios. É certo também que o refluxo da maré internacional — com indicadores pessimistas na China e na Europa — em algum momento deverá alcançar as praias brasileiras, mas por enquanto surfamos uma onda positiva.
Historicamente, bons indicadores econômicos estão associados a maior aprovação do governo, e aprovação em alta se converte em mais votos. Numa campanha eleitoral, debates, entrevistas e sabatinas são fundamentais para informar eleitores engajados, mas a decisão do eleitor médio sofre mais influência da situação econômica. É esperado, portanto, um efeito positivo dos indicadores na votação do presidente Jair Bolsonaro e de seus aliados.
A dúvida é até que ponto se dará a conversão das boas notícias econômicas em votos — e se o tempo que resta até a eleição (quatro semanas para o primeiro turno e oito para o segundo) será suficiente para Bolsonaro virar o quadro ainda desfavorável nas pesquisas. No primeiro debate entre os candidatos, ele não teve sucesso ao tentar elencar as conquistas de seu governo na economia. Enrolou-se nos números e transmitiu a sensação de estar despreparado para tratar do tema. Mas quem precisa se preocupar mais com os indicadores econômicos positivos é seu rival, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja estratégia de campanha é tirar o foco da corrupção e mudar o assunto justamente para a economia.
O Globo