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quarta-feira, março 02, 2022

Moradores de Kiev vivem tensão e sensação de impotência




Controle nas ruas de Kiev: policiais buscam sabotadores pró-Rússia

Por Alexander Sawizkij

Habitantes da capital ucraniana enfrentam longas filas nos mercados, toques de recolher prolongados e noites dormidas no chão do metrô. Repórter da DW relata a vida na cidade no quinto dia de batalha.

É segunda-feira (28/02), quinto dia da invasão da Ucrânia por tropas da Rússia, e forças ucranianas parecem ter conseguido repelir os combatentes russos para a periferia de Kiev e procuram sabotadores dentro dos limites da capital.

Enquanto isso, os civis têm que fazer esforços cada vez maiores para sobreviver: pela primeira vez em décadas, a população de Kiev está passando por uma escassez de pão, alimentos básicos e medicamentos.

À espera da normalidade

Na manhã de segunda, havia muito mais pessoas e carros nas ruas de Kiev do que nos dias anteriores. Após um dia e meio de toque de recolher obrigatório, muitos tiveram que deixar suas casas ou abrigos antiaéreos para se reabastecer com alimentos, água potável e remédios.

A prefeitura da cidade tenta assegurar a entrega de alimentos nas lojas, mas a escassez é sentida em toda a capital. No centro de Kiev, as pessoas têm que fazer fila por mais de duas horas na frente dos supermercados.

'Filas podem ser vistas também na frente de caixas automáticos'

Os consumidores que saem das lojas dizem que não há pão, legumes e frutas, mas sim produtos lácteos com um longo prazo de validade. Dentro delas, é possível confirmar que bolos, doces e cigarros estão nas prateleiras, assim como bebidas alcoólicas, que só podem ser vendidas durante o dia.

A maioria das pessoas compreende a situação de escasez, mas está muito preocupada com o futuro do abastecimento de alimentos na metrópole de três milhões de habitantes. O mercado agrícola mais próximo já havia sido fechado após o primeiro bombardeio na periferia de Kiev, em 24 de fevereiro.

Filas menores, com 20 a 30 pessoas, podem ser vistas em frente às farmácias. Uma aposentada está visivelmente assustada. "Por que as farmácias não são consideradas instalações de infraestrutura crítica?", pergunta. Ela é diabética, e outros membros da família sofrem de pressão alta. "Minha irmã tem problemas cardíacos, e meu genro é epiléptico. Especialmente agora, as farmácias deveriam ficar abertas 24 horas por dia", diz ela.

Toque de recolher prolongado

Até agora, a administração de Kiev tem conseguido manter o funcionamento estável de serviços municipais. Com exceção dos bairros onde houve combate nas ruas, os moradores têm eletricidade, aquecimento e água quente à disposição.

As redes de fibra ótica e a internet móvel de todas as operadoras ucranianas estão funcionando de forma estável. Um problema, porém, é que o lixo da cidade não pode ser recolhido. Já o transporte público funciona apenas de forma irregular.

No quinto dia de defesa da capital, as autoridades locais, em consulta com o comandante militar, prorrogaram a duração do toque de recolher noturno. Agora, ele começa às 20 horas – em vez das 22 horas – e vai até às 8 horas do dia seguinte. Além disso, o uso das faixas destinadas ao transporte público local é estritamente proibido para veículos particulares. Apenas veículos de carga, transporte público, ambulâncias, militares e policiais podem usá-las.

"Os carros que circulam nestas faixas podem ser identificados como veículos de sabotagem e de reconhecimento [russos]", alertam as autoridades, lembrando às pessoas que a lei marcial está atualmente em vigor. Ao mesmo tempo, eles pedem para as pessoas permanecerem calmas e para não se colocarem em perigo.

A razão para o endurecimento das medidas é o perigo representado pelos esquadrões de sabotagem, mas também os casos de pilhagem – mesmo que sejam ainda muito raros. Nas redes sociais, as Forças Armadas alertam que os sabotadores se disfarçam de militares ucranianos ou usam roupas civis e, ainda, se deslocam em ambulâncias ou veículos civis com placas ucranianas. Uma lista de veículos capturados por sabotadores russos – quase 30, no total – foi publicada. Em caso de suspeita, as pessoas devem informar ao Exército e às autoridades.

Noites no subsolo

As estações de metrô estão entre os poucos lugares públicos onde as pessoas podem ficar durante o toque de recolher, sendo que quatro delas foram designadas como abrigos antiaéreos. Mas também em outras estações subterrâneas, as pessoas se deitam nas plataformas e, se não houver espaço suficiente, acomodam-se na área de entrada da estação.

'Muitos moradores de Kiev passam as noites em estações de metrô'

Adultos e crianças, alguns até com animais de estimação, chegam à noite nas estações, antes de começar o toque de recolher, para passar a noite. Outras pessoas se dirigem para seus porões ou garagens subterrâneas de suas casas. Elas levam consigo as porções necessárias de alimento e água, embora também existam fontes com água potável e banheiros nas estações de metrô. Nas profundezas do subsolo, explosões e sirenes não podem ser ouvidas.

Pela manhã, as pessoas deixam as estações e correm para suas casas para reabastecer seus suprimentos, respirar e tentar descansar um pouco. Mesmo durante o dia, há sempre alarmes de ataque aéreo, mas muitas pessoas não prestam mais atenção a eles.

"As sirenes muitas vezes tocam, mas nem sempre uma comunicação é feita. Nem sempre posso correr de um lado para o outro", diz um homem de meia-idade. Ele está brincando com seus dois filhos em um quintal de Kiev quando as sirenes começam a tocar novamente.

Deutsche Welle

Por que Putin vê a invasão da Ucrânia como uma guerra justa e sagrada




O líder russo achou nesse mundo perdido o arsenal ideológico para defender a ideia de uma 'Nova Rússia'. E aqui os extremos partilham a mesma doença: a nostalgia. Para a esquerda, a soviética; para a direita, a czarista. 

Por João Pereira Coutinho (foto)

Não é todos os dias que vemos a extrema esquerda e a extrema direita unidas pela mesma causa. Aconteceu. Vladimir Putin faz as delícias de comunistas e fascistas – e a invasão da Ucrânia sentou-os à mesma mesa. Bizarro? Não é. Os extremos partilham a mesma doença: a nostalgia. Para a esquerda, a soviética. Para a direita, a czarista.

Em doses individuais, a nostalgia produz bons romances, bons poemas, ótimos fados. Em política, é uma receita para o desastre. Mas o que terá provocado essa febre na cabeça de Vladimir Putin?

Os extremistas não têm dúvidas: a culpa é dos Estados Unidos, da União Europeia e da expansão da Otan para leste. Se os três tivessem ficado por Berlim, sem jamais avançarem um milímetro, o nosso Vladimir estaria sossegadamente em Moscou, tocando balalaica e bebendo vodca.

Podemos discutir se, após a queda do Muro de Berlim e da desagregação da União Soviética, não terão sido criadas falsas expectativas de que a Otan jamais abarcaria as ex-repúblicas soviéticas. Voltarei a esse assunto em próximas colunas. Coisa diferente, porém, é negar o direito à autodeterminação de países livres, independentes e soberanos.

A febre nostálgica não se explica com mudanças geopolíticas, mas sim com ideias. As que Putin meteu na cabeça e que o levaram até aqui.

Compreender essas ideias é a tarefa que Michel Eltchaninoff, editor da revista Philosophie, traz em "Inside the Mind of Vladimir Putin". Desconhecia o autor, mas um artigo dele para o Guardian me fez correr atrás do livro.

Apesar do título bombástico (ah, as editoras...), é um trabalho sério de arqueologia intelectual que mostra como se deu a "virada conservadora" de Putin na segunda década do século 21 ("virada reacionária" talvez fosse mais rigoroso).

Estruturalmente, e apesar de ter servido à KGB, Putin nunca foi comunista (nem marxista-leninista). Mas a União Soviética legou ao jovem Vladimir uma escola de virtudes e algumas certezas trágicas. Entre as virtudes, o patriotismo. Entre as tragédias, a dispersão do povo russo por novas repúblicas depois do colapso.

Quando chegou ao poder, na virada do milênio, Putin tentou um compromisso entre os passados recente e remoto. Até simbolicamente: o hino da Federação Russa teria a melodia da URSS, mas as palavras seriam reescritas pelo mesmo autor que escrevera o hino soviético –Sergey Mikhalkov.

Para Michel Eltchaninoff, o compromisso será abandonado no segundo mandato (a partir de 2004) – e enterrado no terceiro (a partir de 2012).

Cada vez mais influenciado pela direita tradicionalista russa da pré-revolução, três autores ressaltam Eltchaninoff: Ivan Ilyin, Konstantin Leontiev e Nikolay Danilevsky.

Não cabe aqui uma análise detalhada de cada um deles. Em resumo, Putin achou nesse mundo perdido o arsenal ideológico para defender a ideia de uma "Nova Rússia": uma civilização purgada da decadência e do niilismo das democracias ocidentais, solidamente religiosa, e capaz de congregar povos eslavos sob uma mesma batuta. Isso implica recuperar os territórios perdidos após 1991.

Como Ivan Ilyin alertara, ele que sempre foi antibolchevique (Franco e Salazar eram suas referências após um breve flerte com Hitler), o fim do regime comunista seria aproveitado pelo Ocidente para abocanhar a Ucrânia, os Estados bálticos, o Cáucaso inteiro.

Seria o desmembramento dessa realidade histórica, cultural e espiritual da Grande Rússia, o último baluarte da civilização cristã. Somente um líder iluminado – um "Guia", um "ditador democrático", nas palavras de Ilyin – seria capaz de preservar a alma da russianidade.

Escusado será dizer que Putin se vê como esse guia – e a invasão da Ucrânia, como uma guerra justa (e sagrada).

Hoje, somos todos "marxistas"; porque todos acreditamos que a economia é a explicação última do mundo. Antes fosse – a economia, pelo menos, assenta num pressuposto de racionalidade.

Infelizmente para a Ucrânia, Belarus, Geórgia e, talvez, Moldávia e os Estados bálticos, as ideias que animam Putin não podem ser vencidas pela diplomacia ou pelas sanções.

Parafraseando um sábio, nada é mais poderoso do que uma ideia perigosa que chegou no tempo errado.

Folha de São Paulo

"Terrorismo de Estado": os pontos-chave do sexto dia da invasão russa à Ucrânia




Um dia antes de uma segunda ronda de negociações entre Kiev e Moscovo, a capital ucraniana e a cidade de Kharkiv foram os principais alvos das forças russas. Ovacionado no Parlamento Europeu, Volodymyr Zelensky promete continuar a lutar mas rejeita heroísmos. Leia abaixo os principais pontos que marcaram este sexto dia da ofensiva russa na Ucrânia.

- Um ataque de míssil contra uma torre de transmissão de televisão em Kiev matou cinco pessoas e deixou feridas outras cinco, perto do memorial do Holocausto Babyn Yar, símbolo dos massacres nazis da Segunda Guerra Mundial. A ofensiva na capital da Ucrânia aconteceu depois de o Ministério da Defesa russo instar os habitantes a sair da cidade, avisando que planeava atacar pontos de informação e comunicação. Veja aqui o vídeo do momento.

- Um ataque aéreo em Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, causou pelo menos 18 mortos e dezenas de feridos. A sede do governo regional e uma zona residencial foram atingidas. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, classificou a ofensiva como um ato de "terrorismo de Estado". Veja aqui o vídeo do momento.

- Mais de 70 soldados ucranianos foram mortos num ataque russo à base militar em Okhtyrka, cidade entre Kharkiv e Kiev, de acordo com as autoridades locais.

- Intervindo por videoconferência numa sessão plenária extraordinária do Parlamento Europeu, o presidente ucraniano pediu à União Europeia que prove que está do lado da Ucrânia na luta pela sobrevivência e pela defesa da liberdade. "Sem vocês a Ucrânia fica sozinha. Provem que estão connosco, provem que não nos vão deixar sozinhos. E então a vida ganhará sobre a morte, e a luz vencerá as trevas", disse Volodymyr Zelensky, ovacionada de pé por um hemiciclo colorido de azul e amarelo.

- A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, apoiou a atribuição à Ucrânia do estatuto de candidato à União Europeia, vincando querer "enfrentar o futuro" com o país e apoiando-o "na luta pela sobrevivência".

- "Hoje, a UE e a Ucrânia estão mais próximas do que nunca", disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, referindo-se ao desejo expresso por Zelensky de aderir ao bloco europeu. "Há ainda um longo caminho a percorrer", ressalvou, indicando que é preciso pôr fim à guerra primeiro e "falar sobre os próximos passos" a seguir.

- Na sessão plenária em Bruxelas, os eurodeputados do PCP votaram contra a resolução sobre a agressão militar russa à Ucrânia adotada pelo Parlamento Europeu por entenderem que a mesma "instiga a escalada de confrontação", na qual NATO e UE "tiveram também uma responsabilidade".

- Ao fim da tarde, a partir de um bunker secreto em Kiev, Zelensky voltou a falar ao país e ao mundo, numa entrevista à CNN, para dizer que as negociações para o fim do conflito só podem continuar se as forças russas "pararem com os bombardeamentos". "Se eles não estiverem prontos, isso significa que estamos apenas a perder tempo", continuou, garantindo que "a Ucrânia vai lutar com mais força do que qualquer outro país" e recusando heroísmos. "Eu não sou icónico, a Ucrânia é que é".

- O presidente ucraniano e o homólogo norte-americano discutiram, por chamada telefónica, novas sanções contra a Rússia e o apoio à defesa da Ucrânia. "Temos de deter o agressor o mais rapidamente possível", escreveu Zelensky na publicação no Twitter onde deu contra do diálogo.

- A invasão russa já causou uma vaga de mais de 660 mil refugiados e um milhão de deslocados no interior do país, de acordo com a mais recente estimativa da ONU.

- O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov, ficou a falar sozinho na Conferência de Desarmamento, em Genebra: os diplomatas abandonaram ostensivamente a sala no início da intervenção.

- A Rússia bloqueou dois órgãos de comunicação independentes, o canal de TV Dozhd e a rádio Ekho Moskvy, por divulgação de "informações deliberadamente falsas" sobre a invasão da Ucrânia.

- Foi marcada para quarta-feira uma segunda ronda de negociações entre os dois países, segundo a agência estatal russa Tass.

Jornal de Notícias (PT)

As possíveis consequências jurídicas da invasão à Ucrânia




O procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI) anunciou que abriu uma investigação sobre a situação na Ucrânia, após denúncias de "crimes de guerra e contra a humanidade" cometidos pela Rússia.

A Corte Internacional de Justiça (CIJ), da ONU, convocou, por sua vez, audiências para os próximos dias 7 e 8 sobre as denúncias apresentadas pela Ucrânia envolvendo ações das tropas russas que invadiram aquele país.

Seguem abaixo cinco questionamentos sobre a situação jurídica após a invasão:

- A Rússia infringiu o direito internacional?:

A Rússia violou o Artigo 2 (4) da Carta das Nações Unidas, que proíbe o uso da força em nível internacional, diz Geoff Gordon, pesquisador principal do Instituto Asser de direito internacional e europeu, com sede em Haia.

"O uso da força militar russa não é desconhecido" na Ucrânia, acrescenta Philippe Sands, professor de direito internacional no Reino Unido. Mas "hoje existem regras para nos proteger de tais atos, refletidas na Carta da ONU, o que temos de mais parecido com uma Constituição internacional", destacou Sands em artigo publicado no "Financial Times". "Foram os compromissos mais importantes da Carta o que Putin menosprezou."

- Que tribunais podem julgar as questões ligadas à Ucrânia?:

A Ucrânia se apresentou à Corte Internacional de Justiça (CIJ), que realizará audiências nos próximos dias 7 e 8 para determinar suas competências jurídicas nesse caso, aponta Geoff Gordon. Além disso, os tribunais nacionais também podem julgar casos relacionados a violações do direito internacional, acrescenta.

A Rússia também poderia ter que comparecer perante o Tribunal Europeu de Direitos Humanos, ao ser acusada por Kiev de violações nessa área.

A Ucrânia não é signatária do Estatuto de Roma, tratado fundador do TPI, mas reconheceu formalmente em 2014 a jurisdição do mesmo em relação aos crimes cometidos em seu território. A Rússia, por sua vez, retirou-se do TPI, razão pela qual este não pode processar cidadãos russos em solo russo, apenas se estiverem detidos no território de um Estado que reconheça a jurisdição do tribunal.

A CIJ anunciou hoje que realizará audiências nos dias 7 e 8 em um caso apresentado pela Ucrânia, que acusa a Rússia de planejar genocídio. A juíza presidente do Tribunal, Joan Donoghue, chamou a atenção da Rússia "para a necessidade de agir de forma que qualquer decisão do Tribunal possa ter os efeitos desejados", especificou a CIJ, principal órgão judicial das Nações Unidas, com sede em Haia.

- Os indivíduos podem ser responsabilizados?

Sim. O TPI julga os acusados das piores atrocidades cometidas no mundo, que incluem genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Os indivíduos também podem ser processados por tribunais nacionais.

O TPI, no entanto, não pode julgar o crime de agressão - ataque de um Estado contra outro planejado por um líder político ou militar - se esse país não tiver ratificado o Estatuto de Roma, como é o caso da Rússia e da Ucrânia.

Philippe Sands sugeriu a criação de um tribunal penal internacional ('ad hoc') consagrado à agressão russa contra a Ucrânia.

- O que acontece agora? -

De acordo com Cecily Rose, professora assistente de direito internacional público na Universidade de Leiden (Holanda), as audiências e a decisão da CIJ poderiam acontecer em breve, em virtude da urgência.

Sobre o TPI, o mesmo poderia emitir atas de acusação se os juízes determinarem que tem jurisdição e provas suficientes, ou se um Estado-membro apresentar o caso diretamente ao tribunal.

- Quais serão os efeitos?

É difícil prever, dizem os especialistas. A CIJ, cujas sentenças têm caráter definitivo e inapelável, "não conta com um mecanismo de aplicação clássico" para fazer com que as mesmas sejam cumpridas, diz Geoff Gordon. Já o TPI não tem uma força policial própria e depende dos Estados-membros para efetuar prisões.

"Por outro lado, assistimos à mobilização de uma série de mecanismos mais ou menos coordenados, cujo objetivo é punir a Rússia por travar uma guerra ilegal", como sanções econômicas, restrições de viagens e cancelamento de eventos esportivos, explica Gordon. "Uma sentença da CIJ poderia ter um papel nessas ações no futuro", estima.

AFP / Estado de Minas

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Guerra na Ucrânia: quais são os riscos de um conflito nuclear?




A Rússia tem um enorme arsenal nuclear, incluindo o veículo subaquáatico Poseidon

Por Gordon Corera

No domingo (27/02), o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenou que seus comandantes militares colocassem suas "forças de dissuasão" - que incluem armas nucleares - em um "modo especial de dever de combate". Mas o que isso significa?

Segundo analistas ocidentais, não ficou completamente claro. Oficiais britânicos dizem que a linguagem usada por Putin não estava exatamente alinhada com seu entendimento de como funcionam os diferentes níveis de alerta para as armas nucleares russas.

Alguns acreditam que Putin estava determinando uma mudança do alerta mais baixo, "constante", para o próximo nível acima, "elevado" ("perigo militar" e "completo" são níveis ainda mais altos), mas isso não era certo. Cada mudança de nível para cima aumenta a preparação para que os armamentos sejam utilizados.

Muitos, no entanto, interpretaram o movimento de Putin como basicamente uma forma de sinalização pública, em vez de indicar uma verdadeira intenção de usar essas armas - o que o presidente russo sabe que levaria a uma retaliação nuclear do Ocidente. O secretário da Defesa do Reino Unido, Ben Wallace, indicou acreditar que o anúncio tenha sido essencialmente "retórico".

Isso não significa que não existam riscos, e a situação será provavelmente observada de perto.

Isso foi um novo aviso?

Na semana passada, Putin alertou, numa linguagem mais codificada, que, se outros países interferissem nos planos da Rússia, eles enfrentariam consequências do "tipo que eles nunca viram". Isso foi amplamente interpretado como um aviso para a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, a aliança militar ocidental) não se envolver militarmente de forma direta na Ucrânia.

A Otan sempre deixou claro que não fará isso, sabendo que isso poderia provocar um conflito direto com a Rússia, o que poderia avançar no caminho nuclear. O aviso do último domingo foi mais direto e público.

Por que o novo aviso?

Putin disse que a nova movimentação foi uma resposta contra "declarações agressivas". Na segunda-feira, o Kremlin afirmou que isso se referia a declarações feitas por oficiais ocidentais, incluindo a secretária das Relações Exteriores do Reino Unido, Liz Truss, sobre possíveis embates e confrontos com a Otan. Oficiais ocidentais também acreditam que o novo aviso foi feito porque Putin cometeu um erro de cálculo em relação à Ucrânia.

O presidente russo pode ter subestimado o tamanho da resistência que ele enfrentaria no campo de batalha na Ucrânia. Ele também teria subestimado o grau de união entre países da Otan numa dura resposta a suas ações. Isso o deixou em busca de novas opções e uma retórica mais dura. "Isso é um sinal de raiva, frustração e decepção", um general britânico que recentemente passou para a reserva disse para mim.

O poderio nuclear russo foi exibido em 2021, na celebração pela vitória na Segunda Guerra

A embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield, sugeriu que essa linguagem é parte dos esforços de Putin para justificar a guerra na Ucrânia, alegando que ele não é o agressor, mas aquele sob ameaça e buscando se defender.

Visto dessa forma, o alerta nuclear é uma forma de enfatizar essa mensagem para seu próprio povo. Uma outra forma de ver esse alerta é a ideia de que Putin está preocupado com planos de outros países para fornecer assistência militar aos ucranianos e quer alertar para que não ajudem muito.

Outra maneira ainda é a ideia de que Putin esteja preocupado que as sanções, às quais ele se referiu em seu anúncio, sejam desenhadas para provocar tumultos na Rússia e levar à queda de seu governo. A mensagem geral, porém, parece ser um alerta para a Otan de que, se a aliança se envolver diretamente, os acontecimentos podem se agravar.

Quais são os riscos?

Mesmo se a ameaça de Putin significar um aviso, em vez de sinalizar qualquer desejo de usar as armas, sempre existe o risco de um erro de cálculo se um lado interpreta o outro de forma equivocada, e os acontecimentos saem do controle.

Uma preocupação é de que Putin tenha se tornado isolado e desconectado, com poucos de seus conselheiros dispostos a dizer-lhe a verdade. Alguns temem que seu julgamento esteja se tornando errático. Alguns esperam, no entanto, que se ele realmente fosse longe demais, outros na cadeia de comando possam não estar dispostos a cumprir suas ordens.

Os riscos de um conflito nuclear podem ter aumentado um pouco, mas continuam baixos.

'Muitos no Ocidente temem que Putin tenha se isolado e não esteja ouvindo seus conselheiros'

Como o Ocidente está respondendo?

Até agora, governos ocidentais têm sido cuidadosos para não aumentar a tensão, seja na retórica ou em suas ações. As Forças Armadas dos EUA têm seu próprio nível de alerta de prontidão para defesa, conhecido como Defcon. Hoje a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, disse que não havia "motivo para mudar" seus níveis de alerta nuclear neste momento.

O Reino Unido tem submarinos nucleares armados nos oceanos, e é pouco provável que o governo britânico diga qualquer coisa publicamente. O objetivo parece ser tratar a declaração russa como puro falatório e não elevar as tensões com medidas que pareçam levar a fala a sério demais, além de não tomar atitudes que possam provocar uma resposta russa.

Segundo oficiais de segurança de países da Otan, a situação não é ainda de uma crise nuclear, mas pode se tornar uma.

Como saber o que a Rússia está fazendo?

O secretário da Defesa britânico disse à BBC que o Reino Unido não viu nenhuma mudança ainda na verdadeira postura dos armamentos nucleares da Rússia. Segundo fontes do setor de inteligência, isso será observado de perto.

Durante a Guerra Fria, um enorme aparato de inteligência foi criado para monitorar o arsenal nuclear de Moscou. Satélites, comunicações interceptadas e outras fontes eram analisadas para observar se havia quaisquer sinais de mudanças de comportamento - como preparação de armamentos ou de tripulação de bombardeiros - que ofereceriam um alerta.

Grande parte desse aparato continua em funcionamento, e as atividades russas serão monitoradas de perto para entender se haverá alguma mudança de comportamento. Até agora, nenhum sinal.

BBC Brasil

Invasão da Ucrânia: guerra pode se espalhar por outros países? A resposta a essa e outras perguntas de leitores




Tropas russas estão tentando tomar as duas maiores cidades da Ucrânia, Kiev e Kharkiv

As tropas russas estão tentando tomar as duas maiores cidades da Ucrânia, Kiev e Kharkiv, mas encontram forte resistência.

Enquanto isso, cerca de meio milhão de refugiados fugiram da Ucrânia e, na Rússia, pesadas sanções começaram a afetar o país.

À medida que o conflito se intensifica, surgem cada vez mais perguntas.

Pedimos a dois dos repórteres da BBC em campo para responder aos questionamentos mais comuns dos leitores.

A chefe dos correspondentes internacionais da BBC, Lyse Doucet, está em Kiev, capital da Ucrânia

Mark Lowen está na fronteira Polônia-Ucrânia.

'Países no leste europeu da Otan, que fazem fronteira com Ucrânia, estão preocupados'

Os países ao redor da Rússia e parte da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, aliança militar ocidental) estão seguros por quanto tempo? — Cristina Onofras, Romênia

Mark Lowen: Os países da Otan no leste europeu, que fazem fronteira com a Ucrânia, estão preocupados.

A Lituânia declarou estado de emergência. Suécia e Finlândia — embora nenhum deles seja membro da Otan — se juntou à cúpula de emergência da aliança na semana passada, e os EUA aumentaram seu número de tropas em países como a Polônia.

Alguns poloneses com quem conversei perto da fronteira estão preocupados com sua própria segurança — mas seu foco principal continua sendo ajudar amigos ou parentes ucranianos do outro lado ou aqueles que fugiram para cá.

Até quando os países da Otan vão esperar para enviar tropas para apoiar a Ucrânia? — Tim Mepham, Brighton, Reino Unido

Lyse Doucet: Os países e aliados da Otan estão observando cada movimento da Rússia, alertando que sua aliança militar fará de tudo para defender "cada centímetro" de seu território.

Eles enviaram armas e munições para a Ucrânia e treinaram soldados ucranianos nos últimos anos — na verdade, até a invasão russa.

Mas eles disseram repetidamente que não haverá "operação militar" da Otan porque a Ucrânia não é membro da Otan.

No entanto, isso muda se a Rússia invadir um país da Otan.

O artigo 5º da Carta da Otan diz que "um ataque contra um aliado é considerado um ataque contra todos os aliados".

Se isso acontecer, o mundo se move para um território desconhecido e há uma possibilidade perigosa de um confronto Otan-Rússia.

'Quando o toque de recolher termina e as sirenes de ataques aéreos silenciam, as pessoas correm nervosamente para as lojas, diz Lyse Doucet'

Quais são as chances de Putin bombardear o Reino Unido? — Becky, Weymouth, Reino Unido

Lyse Doucet: Lamento que você tenha que fazer essa pergunta terrível e aterrorizante. Gostaria de responder que não existe essa possibilidade.

Estes são tempos imprevisíveis e insondáveis, mas ainda gostaria de acreditar que a resposta é não — não ao bombardeio do Reino Unido ou de qualquer outro país. E uma esperança de que o bombardeio da Ucrânia seja rapidamente encerrado.

Como as pessoas em abrigos estão recebendo comida, água e necessidades de saneamento? Há alguma comida disponível em Kiev neste momento? — Arlene, Oregon, EUA

Lyse Doucet: Quando o toque de recolher termina e as sirenes de ataques aéreos silenciam, as pessoas correm nervosamente para as lojas — se as lojas estiverem abertas e as prateleiras ainda tiverem suprimentos.

Ouvimos de estações de metrô transformadas em refúgios que as pessoas estão se unindo para ajudar umas às outras. Mas quando o toque de recolher permanece em vigor por 36 horas, a comida e a água começam a escassear. Alguns moradores se mudaram para hotéis locais.

Eles também estão fazendo o que podem para manter as pessoas alimentadas. Há um grande espírito comunitário — todos estão contribuindo, incluindo organizações internacionais e locais. Mas a preocupação é que, se isso continuar por muito tempo, até encontrar comida será difícil.

Como e quando a ajuda militar prometida por várias nações ocidentais chegará à Ucrânia? Como as nações ocidentais poderiam acelerar a entrega dessa ajuda necessária? — Christophe Borgia, Quebec, Canadá

Mark Lowen: Alguma ajuda militar já foi enviada. A Polônia enviou munições através da fronteira, os EUA já enviaram cerca de 90 toneladas de assistência militar, a Suécia está rompendo com a sua tradição de não enviar armas a países envolvidos em conflitos armados, e agora a União Europeia, pela primeira vez, concordou em financiar a compra e entrega de armas a um país sob ataque.

Em termos de quão rápido isso será, a Polônia se ofereceu para ser um centro logístico para a implantação. As nações ocidentais estão cientes da necessidade de acelerar isso, com a Ucrânia preocupada com a falta de munição.

Os militares russos estão retendo toda a sua capacidade ou os problemas logísticos que eles estão enfrentando realmente os impedem de conquistar a Ucrânia? — John, EUA

Lyse Doucet: Sentados em Kiev, muitos pensaram que a visão das tropas russas no coração desta capital era apenas uma questão de tempo — eles contavam em horas. Mas as forças ucranianas estão resistindo, e as forças russas ainda estão a cerca de 30 km do centro da cidade.

A cada dia, mais tropas de combate e armamento pesado mobilizados ao longo das fronteiras da Ucrânia avançam em todas as direções, mas não tão rápido ou tão longe quanto muitos esperavam.

É difícil dizer se não está "indo conforme o planejado" porque ninguém sabe qual é o plano do presidente da Rússia, Vladimir Putin. Mas há relatos de comboios russos ficando sem combustível, soldados russos perdendo a vontade de lutar e ucranianos revidando — tanto soldados quanto civis, alguns armados apenas com a força do patriotismo.

Também houve intensos combates de rua a rua em áreas como a segunda maior cidade de Kharkiv. E as tropas russas têm avançado e atacado — contra a cidade de Chernihiv, no nordeste, e a cidade de Mariupol, no sul, entre muitas outras.

'Não está claro por enquanto quantos combatentes estrangeiros se juntaram à Ucrânia em resposta a apelo de presidente Zelensky'

Quantos combatentes estrangeiros se juntaram à Ucrânia em resposta ao apelo de seu presidente? — George Menachery, Kerala, Índia

Mark Lowen: Não está claro por enquanto. O presidente da Ucrânia pediu aos estrangeiros que se juntem ao que ele chamou de "brigada internacional", mas não sabemos o número daqueles que responderam.

A embaixada da Ucrânia em Israel publicou um post no Facebook pedindo aos israelenses que viajassem para a Ucrânia para lutar, mas depois foi deletado.

Se a Rússia conseguir dominar a Ucrânia, o que vem depois? — Nhlanhla, África do Sul

Lyse Doucet: Essa é uma questão existencial para a Ucrânia, um momento decisivo e perigoso para o mundo.

Primeiro, as forças russas teriam que tomar áreas muito maiores do território do segundo maior país da Europa, incluindo a capital Kiev, uma cidade de quase três milhões de pessoas conhecida por ser resolutamente pró-europeia e pró-Otan.

A história nos diz que os golpes militares e as invasões conquistaram tomando as emissoras de televisão e os palácios presidenciais. Isso não será suficiente.

Haveria um contra-ataque feroz e uma insurgência ucraniana surgiria rapidamente. O apoio viria de muitas direções, muitas fontes e de muitos tipos. É difícil imaginar que essa aquisição sobreviveria. Ficaria na história como a mais sombria das horas sombrias.

Alguém sabe por que a Rússia escolheu agora atacar/invadir a Ucrânia, em vez de fazê-lo um ano atrás ou dois anos atrás, ou no próximo ano? Houve um fator que desencadeou essa operação agora? — Anna, Havaí

Lyse Doucet: Essa é uma pergunta importante e ainda não temos todas as respostas. Essa guerra é muitas vezes chamada de guerra do presidente Putin — acredita-se amplamente que ele é quem a conduz e ninguém está claro até onde ele é capaz e está disposto a ir para tentar controlar um vizinho que ele diz que não deveria existir como país.

Muitos perguntam se ele sentiu uma fraqueza na aliança da Otan, nos Estados Unidos em particular, após o desastre da retirada das tropas do Afeganistão e a tomada do poder pelo Talebã.

Muitos também especulam sobre o estado de espírito do líder russo após o isolamento e a ansiedade da pandemia.

Algum país no mundo inteiro realmente enviou alguma de suas tropas para ajudar a Ucrânia? — Thomas Ogren, San Luis, EUA

Mark Lowen: Não oficialmente. Nenhum membro da Otan quer arriscar um confronto militar direto entre suas tropas e as da Rússia. O presidente Joe Biden, por exemplo, afirmou repetidamente que não haverá tropas americanas lutando na Ucrânia.

Mas não sabemos se há estrangeiros lá, trabalhando secretamente com o Exército ucraniano, principalmente à luz dos pedidos do presidente da Ucrânia para que os estrangeiros ajudem.

O que os ucranianos de língua russa pensam sobre a atual invasão da Ucrânia? — Man Chun Siu, Londres

Lyse Doucet: Vimos algumas cenas de celebração em áreas do leste da Ucrânia que são controladas por separatistas apoiados pela Rússia desde 2014.

Alguns evacuados desta região compartilharam com colegas da BBC sua felicidade pelo fato de a Rússia ter reconhecido Donetsk e Luhansk. Mas é difícil mensurar isso.

A vida tornou-se muito mais difícil para os moradores dessas áreas nos últimos oito anos — eles foram isolados de suas famílias, e alguns nem têm acesso a suas aposentadorias.

Falar russo não significa ser pró-Rússia. Muitos ucranianos falam as duas línguas, incluindo o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.

Por que os EUA e a UE acreditam que as sanções por si só podem deter Putin? — Aragorn, Londres

Lyse Doucet: As ameaças contra a Ucrânia e agora a guerra contra a Ucrânia sacudiram o mundo. Vimos nos últimos dias um endurecimento lento, mas evidente, de sanções, restrições, ações de países e organizações em todo o mundo que são incomparáveis.

Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, uma primeira parcela de sanções entrou em vigor uma após a outra. Essas medidas foram bem recebidas pelos ucranianos, mas também ridicularizadas como simplesmente insuficientes. E, de fato, elas não mudaram a opinião do presidente Putin.

O Ocidente está agora acordando para a determinação da Rússia de ocupar a Ucrânia. Algumas sanções levarão semanas, até meses para surtir efeito, mas algumas agora estão atingindo a moeda russa (rublo), as ações, a riqueza dos oligarcas ricos e, infelizmente, as vidas dos mais pobres.

Como os suprimentos e armamentos essenciais prometidos chegarão às linhas de frente, dada a superioridade do poder aéreo russo? — Andy Sheridan

Mark Lowen: Tudo passa pela fronteira ocidental da Ucrânia — principalmente pela Polônia. Voos militares chegaram aqui de lugares tão distantes quanto os EUA e o Canadá e, em grande parte, estão sendo conduzidos através da fronteira, em parte devido à ameaça do poder aéreo russo.

O espaço aéreo ucraniano permanece fechado para voos civis. Alguma ajuda militar está chegando aqui na Polônia de trem também, inclusive da República Tcheca.

É uma enorme operação logística para reabastecer os militares da Ucrânia.

BBC Brasil

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