Depois que foi criado o segundo turno, este, Dilma-Serra é o mais surpreendente e até rigorosamente inesperado. Na verdade foi uma eleição traumática e traumatizante, principalmente para personagens considerados como grandes lideranças, que não se reelegeram governadores ou senadores.
Essas derrotas e alguma vitórias esperadas mas não tão garantidas (excetuada a de Aécio Neves) influirão seguramente no resultado do dia 31 de outubro. Franca favorita, Dona Dilma esteve pertíssima de conquistar a Presidência, imediatamente. Não conquistou, tem 28 dias para is buscar os quase 4 por cento dos votos que não obteve agora.
Para o segundo turno o resultado é irreversível, democraticamente, eleitoralmente, politicamente. É uma nova eleição? Claro que é, embora os fatores que impulsionaram a votação de uma cidadã que jamais soube o que é uma campanha, continuem visíveis e analisáveis. Vejamos ligeiramente, já na madrugada, teremos até o dia 31 para avaliar mais seguramente o que se aproxima.
Serra tem os mesmos 28 dias para buscar os quase 16 por cento dos votos que não conseguiu agora. O governo de São Paulo, conquistado por Alckmin, era tão certo, que não significava alteração. (Alteração mesmo foi a eleição para o Senado de Aloysio Nunes Ferreira, excelente figura, ligadíssimo ao ex-governador).
A eleição de Aécio, é considerada como reforço para o ex-governador de São Paulo, muitos já dizem ou tentam interferir com a afirmação: “Aécio agora pode apoiar Serra para presidente, e fazer um acordo para 2014”. É evidente que as coisas não se resolvem assim, embora possa realmente acontecer. Duvido no entanto que Aécio se decida imediatamente ou a longo prazo.
É preciso considerar, nesse segundo turno, não apenas a capacidade do presidente Lula transferir votos, cansado, em fim de mandato, com essa nova eleição que ele sabidamente não imaginava que fosse existir ou acontecer. Admitamos que Lula transfira os mesmos 46 por cento dos votos, de onde virão os outros imprescindíveis 4 por cento?
Elementar, da grande vencedora da eleição, Marina Silva, que impediu Dilma de vencer, conseguiu a façanha de levar Serra ao segundo turno. Com o tipo de legislação eleitoral que existe no Brasil, os 20 milhões de votos dados a uma candidata, votos dela, pois sua legenda ainda tem pouca representatividade, servirão a um outro candidato.
Marina Silva tem os mesmo 28 dias para decidir o que fazer, como fazer e porque fazer. Normalmente, naturalmente, política e eleitoralmente, pode transferir parte substancial desses votos. Mas não pode acreditar que “faz e desfaz com esses 20 milhões de votos”.
Por agora, Marina é heroína de uma eleição sem vencedores, com dois candidatos que dependerão de muitos fatores e acontecimentos, mas principalmente dela. E também de senadores, deputados e governadores dos mais diversos Estados.
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PS- Como se esperava, Tiririca teve 1 milhão e 300 mil votos, o professor Chalita quase 700 mil os mesmos 700 mil Garotinho no Rio.
PS2 – A seguir, relação dos senadores que se elegeram nos principais estados. Que podem influir no segundo turno e no jogo político depois da posse.
ESTADO DO RIO
Nenhum surpresa para governador, a reeeleição trombeteada, se confirmou até com mais votos. Foi a vitória das máquinas, raramente se juntam (ainda mais num grande estado) a nacional e a estadual. Sergio Cabral é um grande jogador político, o próprio Macunaíma, o que fazer?
Vitória completa de Lula, que apoiou a reeeleição de cabralzinho, e Lindberg e Crivella para o Senado. O governador reeeleito, apoiou Picciani e Lindberg, perdeu com o primeiro, ganhou com o segundo. Na verdade, quem ganhou mesmo foi Lula, que mandou votar nos dois vencedores. Cabralzinho pegou “carona” no Lindberg, não teve prestígio ou votos para “fazer” Picciani senador. Aliás, o que Picciani faria como senador?
César Maia, como registrei sempre aqui, jogava todo o futuro na conquista do Senado. Nunca tive dúvida e proclamei: eleito, Maia será o grande líder da oposição, candidato do DEM (contra o PSDB) em 2014. Acabou, afinal, era muita irregularidade, que riqueza acumulada.
AMAZONAS
A maior derrota de Lula; a não eleição de Alfredo Nascimento, seu Ministro dos Transportes duas vezes. (Saindo em 2006 e 2010 para se desincompatibilizar). Era franco favorito, perdeu no primeiro turno. O ex-governador Eduardo Braga, se elegeu senador e garantiu o seu vice, Omar Aziz, como seu sucessor.
Artur Virgilio e Vanessa Graziotin (PCdoB), como se esperava, disputaram voto a voto a outra vaga no Senado, ela levou a melhor.
SERGIPE
Marcelo Déda (PT) vem fazendo longa carreira no estado. Duas vezes prefeito, governador reeeleito, Surpresa: a derrota de Albano Franco (PSDB) para o Senado. Já foi senador, duas vezes governador, uma das maiores fortunas do estado e da região. Se elegeram senadores Eduardo Amorim (PSC) e o ex-governador Antonio Carlos Valadares (PSB).
SANTA CATARINA
Outra grande derrota do PT e de Lula: Ideli Salvatti, líder do partido no Senado, tirou terceiro para governador. Raimundo Colombo (DEM), eleito no primeiro turno. O ex-governador Luiz Henrique (PMDB), que já tentou se presidenciável, se elegeu senador, junto com Paulo Bauer (PSDB).
ESPÍRITO SANTO
Foi o primeiro a consagrar o governador e os dois senadores. Renato Casagrande teve votação extraordinária, principalmente por ser do PSB (Partido Socialista) sem tradição eleitoral. Magno Malta (PR) se reeelege para o Senado. Ricardo Ferraço (PMDB), que era candidato a governador, fez acordo com Renato Casagrande, está eleito senador.
CEARÁ
Nenhum escândalo ou irregularidade atingiu o governador Cid Gomes (PSB). Reeleitíssimo no primeiro turno, como todos previam, diziam e sabiam. Teve ainda mais votos do que se esperava.
Eunício de Oliveira (PSDB), ex-ministro de Lula (apoiado pelo presidente e pelo governador) foi o senador mais votado. O outro, o ex-ministro José Pimentel (PT).
Quando eu disse que Tasso Jereissati “dificilmente seria reeleito”, quase me mataram. (Menos Mateus, elegantíssimo). Mas o próprio Jereissati se derrotou. E o processo contra ele, que está há 8 anos no Supremo, como ficará?
MINAS GERAIS
Aécio foi o grande vencedor, política e eleitoralmente. (um parênteses para lamentar a morte do pai, grande figura, ex-deputado federal seis vezes, entre 1963 e 1987). Além de se eleger senador, Aécio carregou Itamar Franco (PPS)e colocou como governador, o seu antigo vice, Antonio Anastasia.
Aos 50 anos, nem é preciso falar no seu futuro. Teve a frieza,a serenidade e a capacidade de escolher o caminho certo. Não quis ser vice de Serra, garanti em dezembro-janeiro: “Se Aécio for vice de Serra, podem dizer que sou o pior analista do mundo”. É lógico que nada será fácil, mas 2014 está aberto e não apenas para o PT.
BAHIA
Jaques Wagner (PT) ganhou no primeiro turno, facilmente. Nada surpreendente, se compararmos com a eleição de 2006, a sua primeira, quando o franco favorito ser ao “carlista” Paulo Souto. Wagner “vem” para o plano nacional.
Walter Pinheiro (PT), e Lidice da Mata, (PSB), são os senadores. PMDB, DEM, PSDB, PP, PCdoB, não elegeram ninguém.
RIO GRANDE DO SUL
Contei aqui, que encontrando (num restaurante) com Tarso Genro, ele me disse: “Helio, pode publicar, vou ganhar no primeiro turno”. Ganhou mesmo. Fogaça (PMDB), ex-senador e prefeito eleito e reeeleito de Porto Alegre, ficou lá no fim de tudo, sem chance.
Ana Amélia Lemos (PP), tida como fácil vencedora para o Senado, se elegeu, mas em segundo. O mais votado, Paulo Paim, do PT, mas inteiramente abandonado pelo Planalto-Alvorada. Esperava ser Ministro do Trabalho no primeiro mandato de Lula, jamais foi convidado nem mesmo para um jantar.
Germano Rigotto (PMDB), que já tentou ser presidenciável, não se elegeu senador, apesar de ter sido governador. Melancólico.
PERNAMBUCO
Antes da eleição, Jarbas Vasconcellos (PMDB) aparecia como favorito, por causa do passado. Mas quando começaram (não as pesquisas, mas a realidade), o quadro mudou completamente. E terminou antes das 8 da noite, com a votação-consagração de Eduardo Campos.
Para o Senado, era dada como certa a eleição de Marco Maciel (o grande carreirista da ditadura) e Armando Monteiro (PTB) brigando com Humberto Costa (PT), ex-ministro. Mas a partir de 15 dias começaram a rolar informes (que se transformaram em informações) sobre a derrota de MM. Humberto Costa foi o mais votado e Armando Monteiro o segundo.
(É sempre uma satisfação, MM fora da vida pública, não deixei de dizer com insistência. Até revelando que fui amicíssimo do primeiro Armando Monteiro, constituinte de 1946).
MATO GROSSO DO SUL
André Puccinelli (PMDB) teve a reeleição fácil que se esperava. Delcidio Amaral (PT), que pretendia ser governador, não conseguiu legenda, ganhou mais 8 anos no Senado. E uma boa expectativa para governar o seu estado em 2014. Waldemir Moka (PMDB) ficou com a outra vaga de senador.
PARANÁ
Beto Richa (PSDB) foi eleito governador, facilmente. Derrotou, e no primeiro turno, o fortíssimo e tradicional Osmar Dias (PDT). Portanto, é governador, mas péssimo analista. Estando na frente (como se viu), pediu que fossem suspensas as pesquisas, a Justiça concedeu.
No segundo mandato de prefeito, cumpriu apenas 15 meses, saiu para ser governador. Entusiastas dele (no PSDB), admitem que pode não completar também o novo mandato, para ser presidenciável. Apenas para registrar: é muito cedo, 2014 é outra história.
Gleisi Hofman (mulher do ministro Paulo Bernardo, mas tendo luz e vôo próprio) foi a mais votada para o Senado. Houve muita discussão, queriam que disputasse o governo pelo PT, recusou sempre.
O outro senador, o ex-governador Requião (PMDB), tido como franco favorito, ficou a apuração quase toda atrás de Gustavo Fruet (PSDB), um belo personagem. Requião se garantiu no último lance, como aconteceu em 2002, sobre Osmar Dias.
BRASÍLIA (DF)
A capital não deixa ninguém se conformar ou se tranqüilizar. Agnelo Queiroz, do PT e candidato de Lula, era tido e havido como eleito no primeiro turno. Vai para o segundo com a mulher de Roriz (PSC), mesmo com os votos no nome dele não dela.
Cristovam Buarque (PDT) e Rodrigo Rollemberg (PSB) foram eleitos por serem honestos, e pelo fato de terem aberto uma cratera na política da capital. Quem? Arruda, Paulo Otavio, o próprio Roriz candidato, que renunciou mais uma vez.
SÃO PAULO
Alckmin custou a ultrapassar os 50 por cento para vencer no primeiro turno, e repetir e mediocridade dos governos anteriores. Mas passou. Aloyzio Nunes Ferreira (PSDB), em 20 dias veio do terceiro para o primeiro lugar no Senado. E Dona Marta (PT), que desde o início estava em primeiro lugar fácil, sofreu para ganhar de Netinho de Paula (PCdoB), por 2 por cento dos votos.