Aécio fez a grande jogada da sucessão de 2010. Por enquanto, só quem manipulava tudo era Lula. Agora, o governador de Minas “emparedou” Serra, “não sou mais candidato, disputarei o Senado”. Não citou Serra, ninguém percebeu que agora, Serra desgarrou. Aécio 48 anos, Serra 68. É o trunfo.
Aécio e Serra vinham lutando nos bastidores pela indicação como candidato do PSDB. Trocavam amabilidades em público, se engalfinhavam, que palavra, nos bastidores. Convencido que Serra ainda não havia tomado a decisão definitiva, Aécio propunha e provocava com as mais diferentes soluções. Que seriam até compreensíveis se os partidos existissem.
A primeira jogada de Aécio: pedir prévias dentro do partido. E acrescentar: “quem ganhar apóia o outro, isso é a prática da democracia”. O governador de Minas ainda não sabia que o de São Paulo poderia tentar mais um mandato de 4 anos. Afinal, governar esse estado só está abaixo da presidência da República.
Fez mais duas sugestões, Serra recusou (indiretamente, ele jamais age de frente ou abertamente), Aécio se recolheu. Há mais ou menos 20 dias, um dos mais íntimos e respeitados amigos de Aécio, disse a ele, como pergunta e como revelação: “Você ainda não percebeu que o Serra não fechou a candidatura a presidente, espera o que Lula fará?”.
Surpreendido e sem compreender bem, Aécio perguntou: “Mas o que Serra pretende fazer?” E o amigo conselheiro: “Aécio, ele não quer ficar fora do jogo, se o Lula arranjar uma forma de concorrer, Serra disputa, sem adversários, um novo mandato em São Paulo”.
A partir daí, Aécio começou a insistir na definição do PSDB, e logicamente de Serra. Só tendo dois candidatos, e um sendo ele, (Aécio) não perdia oportunidade de exigir que o PSDB partisse logo para a campanha. Serra “sentia o golpe”, mas não se manifestava.
Por que o silêncio? Era o seu trunfo, a chave do futuro. Aécio então resolveu dar o xeque-mate, vir a público definir a própria situação. Que só poderia ser essa que revelou: “Não sou mais candidato a presidente, disputarei uma vaga de senador, tratarei de Minas e da minha vida”.
Lógico que é e foi uma colocação visivelmente teórica, mas muito bem arquitetada, nada a ver com desistência propriamente dita. No fim da “carta-definição”, Aécio diz que em determinadas circunstâncias, “posso vir a ser candidato do PSDB”. Não se desmente nem se confirma.
Deliberadamente não citou Serra na entrevista, ignorou seu nome, mas antes telefonou para ele. A carta, um acerto com Serra. O telefonema, defensivo e preventivo. Se alguém dissesse que “estava sendo hostil”, ele já estava preparado com os dois telefonemas. Foi o que melhor fez até agora.
E Serra? Agora tem que dormir mais tarde e por menos tempo, até que encontre a saída, onde está a saída? O silêncio não é mais solução protelatória, tem que responder à colocação feita por Aécio. Não têm a menor importância os elogios falsos e fartos, despejados copiosamente na direção de Aécio.
Agora Serra tem 3 meses e 11 dias, para se livrar do xeque-mate de Aécio. É claro que tentará protelar a decisão, jogá-la para o último prazo, ou seja, a desincompatibilização. Como tenho dito há meses, se deixar o governo em 31 de março, disputará a presidência. Se continuar no cargo, será candidato à reeeleição em São Paulo.
Mas com a entrevista de Aécio, não é apenas Serra que está sendo pressionado. A cúpula do PSDB, também foi desafiada a tomar uma posição. E a cúpula do partido, também pretende que Serra diga logo o que espera. Nenhum líder, deputado, senador ou candidato, quer ficar refém da vontade, dos interesses e da ambição de Serra.
Surpreendentemente, Aécio se libertou e aprisionou Serra. O governador de São Paulo, mais vaidoso e arrogante do que o próprio FHC, (se isso é possível) admitia e esperava preencher o vazio e o vácuo da candidatura com o silêncio presidencial. Não dá mais.
Esperemos o que fará José Serra. Agora está em desvantagem, Aécio livre e libertado por si mesmo, se desliga dos acontecimentos, embora não tenha desistido de nada, Ao contrário, é participante cada vez mais presente, mostrando que não é por acaso ou por coincidência, que é neto de Tancredo.
(Em 1980, logo no início, Tancredo me telefona, pede para eu ir ao seu apartamento na Avenida Atlântica. Era um domingo. Só eu e ele naquela vastidão. Diz logo: “Helio, você é candidato a senador, te ofereço a legenda do PP, você será nosso senador”. Conversamos horas, finalmente aceitei).
(Tancredo era presidente do PP, Magalhães Pinto, Presidente de Honra, Thales Ramalho, Secretário Geral. Fui recebido em Brasília, mais de 500 pessoas. Diziam que o PP não era “partido de oposição”. Fala resumida de Tancredo: “Quero ver quem é que agora vai dizer que o PP não é partido de oposição, se temos o jornalista que é o maior oposicionista do País?”. E eu para mim mesmo, e no discurso tocando indiretamente no assunto, “então era isso?”).
Mais ou menos um mês depois, estou em Brasília almoçando com Tancredo e o Doutor Ulisses, chega um emissário do Planalto: “O presidente Figueiredo quer conversar com os senhores dois IMEDIATAMENTE”.
Largaram tudo e foram. O “presidente” comunicava: “Os partidos acabaram, agora têm que ser fundados outros, com a sigla começando com um P”.
O PP não tinha tempo para a fundação, fez com o PMDB, o que se chamou de INCORPORAÇÃO. Lá se foi a minha candidatura pela segunda vez. Em 1966, fui cassado três dias antes da eleição, preso, proibido de escrever e de dirigir jornal. Em 1980, novamente impedido, agora a cassação branca.
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PS – De uma certa forma a jogada de Aécio tem a marca politicamente genial do avô Tancredo. Além de ter emparedado Serra, Aécio tem 48 anos, Serra vai fazer 68 anos. Isso não é diferença que se anule em cartório.
PS2 – Amanhã tratarei da sucessão de São Paulo e de Minas. Aécio, nenhum problema, tem um candidato garantido para sucedê-lo. (E para senador, a outra vaga será de Itamar Franco). Serra, se sair, terá que entregar o cargo ao stalinista Alberto Goldman, Nossa Senhora.