Bruno Boghossian
Folha
A disputa de poder mais feroz do país não se dá entre lulistas e bolsonaristas. Ela ocorre no Congresso e tem o presidente da República como espectador. A briga de parlamentares por influência, acesso aos cofres públicos e cacife eleitoral é o primeiro item da agenda política atual.
Os cardeais do Congresso têm dedicado muita energia a seu esporte favorito: acumular força para extrair benefícios de seus cargos e relações.
BLOCOS PARTIDÁRIOS – Na Câmara, a batalha se dá na formação de blocos partidários, mecanismo que pode determinar quem dará as cartas nos próximos anos. De um lado, há um consórcio mais próximo do governo — liderado por MDB e PSD, com a adesão de bolsonaristas do Republicanos. Do outro, PP e União Brasil discutem uma aliança, sob a batuta de Arthur Lira.
O jogo se dá menos em torno dos interesses do governo e mais de olho na formação de maiorias para negociar verbas, relatorias de projetos, vagas em comissões e a eleição do novo presidente da Câmara em 2025.
A queda de braço entre deputados e senadores por poder na votação de medidas provisórias tem um pano de fundo semelhante. Os grupos que saírem vitoriosos esperam ter mais vigor para apitar nas nomeações importantes e dizer para onde deve fluir a verba dos ministérios.
SEM MEDIAÇÃO – A equipe de Lula parece ter poucas ferramentas para mediar a briga. Apesar de manter aberto o balcão de negócios das emendas parlamentares, o governo não demonstra fôlego para influenciar o jogo de forças no Congresso e se vê sob risco. O arcabouço fiscal e as mudanças no marco do saneamento são alvo das ameaças de deputados e senadores.
Parlamentares têm algum conforto — e muitos incentivos — para trabalhar, em primeiro lugar, pelos próprios interesses. Se o país vai mal, é quase certo que o presidente da República será punido pelo eleitor nas urnas ou pelo próprio Congresso com um processo de impeachment.
A sobrevivência de deputados e senadores, por outro lado, depende mais da propaganda e do dinheiro que eles levam para suas bases.
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