Publicado em 26 de dezembro de 2022 por Tribuna da Internet
Carlos Newton
No último dia 15, revelamos aqui na Tribuna da Internet o plano de Jair Bolsonaro e Braga Netto (não necessariamente nesta ordem), para provocar o caos em Brasília, invocar o artigo 142, para colocar as tropas nas ruas, a pretexto de garantir a ordem, e decretar estado de sítio, para fechar Judiciário e Legislativo, conforme prevê a Constituição (artigos 141 e seguinte).
E como recordar é viver, vamos republicar agora o que escrevemos no dia 14, para ser postado na manhã seguinte, com a mesma ilustração.
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“NOVO QUEBRA-QUEBRA EM BRASÍLIA, ANTES
DA POSSE, PODE SER A SENHA PARA O GOLPE”
A guerra de desinformação está fortíssima e aproxima-se do clímax, a partir do quebra-quebra ocorrido em Brasília nesta segunda-feira. Como no filme “Casablanca”, os suspeitos de sempre são os fanáticos bolsonaristas que continuam acampados diante do Quartel-General do Exército, apelidado de Forte Apache e que desde a fundação de Brasília, em 1960, jamais tinha sido tão desmoralizado.
Mas os bolsonaristas culpam os black blocs, como se esse tipo de desordeiros pudesse estar sendo usado para levantar a opinião pública contra os manifestantes. E a revista Forum, uma espécie de porta-voz do petismo, responde publicando uma entrevista de um anônimo funcionário do Planalto, que atribui o levante a uma armação do Gabinete de Segurança Institucional, comandado pelo general Augusto Heleno.
VERDADES E MENTIRAS – Em meio a essas batalhas de narrativas e versões, é preciso buscar o que mais tenha contornos de verdade. Por exemplo, já era de se esperar que ocorressem atos de violência, pois nos incidentes dos caminhoneiros uma concessionária e caminhões foram incendiados e houve até tiros disparados nos protestos.
Também é verdade que a Polícia Militar de Brasília, a Polícia Federal e o próprio Exército estão sendo coniventes com essas manifestações, a pretexto de defender o direito de expressão e o direito de ir e vir. Por que ninguém foi preso? Experimentem tentar sair incendiando veículos e depredando postos de combustíveis em qualquer cidade grande, sem haver repressão policial…
Os dois lados se culpam, mas nenhum deles pode negar essas verdades que estamos apontando, pois são inquestionáveis. Diante disso, é preciso saber o que vem pela frente.
INSEGURANÇA TOTAL – Imagine-se o que estão pensando os moradores de Brasília. De agora em diante, qualquer pessoa pode ser parada na rua e ter seu automóvel incendiado por arruaceiros, e não acontece nada, rigorosamente nada. O pior é que grande maioria dos seguros não cobre tumultos generalizados e não adianta cobrar indenização à seguradora.
A esse respeito, publicamos aqui na Tribuna da Internet um artigo assustador de José Antonio Perez, revelando que no acampamento do Forte Apache a informação é de que são aguardadas em Brasília levas e mais levas de manifestantes que ainda estão diante de unidades militares em outros Estados.
Tudo indica que essa notícia vai se confirmar. É o exemplo clássico da tragédia anunciada. E nenhuma providência concreta está sendo tomada. Pelo contrário, as autoridades não demonstram a menor preocupação, nem tocam no assunto.
MUITO ESTRANHO – É um quadro preocupante, no qual se encaixa, à perfeição, aquele conluio de os comandantes militares se demitirem em conjunto, antes do Natal. É uma possibilidade estranha e inquietante, sem a menor dúvida, e que ainda não está totalmente descartada.
Existem semelhanças aterradoras com 1964, mas há uma diferença brutal – naquela época, sabia-se da conspiração, mas o golpe foi de surpresa. Agora, pelo contrário, é tudo escancarado. E até as pilastras do Palácio do Planalto sabem que Bolsonaro está preparando alguma coisa para o dia da posse.
Se as hordas de manifestantes realmente invadirem Brasília no final do ano, o golpe militar pode ocorrer dentro das quatro linhas. Ou seja. Bolsonaro recorre ao artigo 142, contra a desordem nas ruas, e bota a tropa na rua. Não interessa se a desordem está sendo causada pelo próprio presidente. E daí em diante, ninguém sabe o que pode acontecer.
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P.S. 1 – Há uma diferença absurda em relação ao golpe de 64. Naquela época, o presidente João Goulart preferiu não resistir, para evitar uma guerra civil e derramamento de sangue. Agora, Jair Bolsonaro faz o contrário, ao incentivar seus apoiadores a provocarem o confronto. Não lhe interessa se haverá mortos e feridos. Aliás, ele já teve oportunidade de expressar o que pensa a respeito: “Não sou coveiro”, disse ele, sobre o crescimento das mortes na pandemia. Muita gente já esqueceu esse episódio, mas aqui na Tribuna da Internet todos sabem que recordar é viver. (C.N.)