![](https://www.jornalopoder.com.br/arqConteudo/arqNoticia/IMG20221219WA0106.jpg)
José Nivaldo Junior
Toda serpente um dia já foi ovo.
Vamos recorrer a Amah Vet para, em exercício de cultura pouco útil, explicar a reprodução das serpentes no seu ambiente natural.
Existem as ovíparas e as vivíparas.
Serpentes ovíparas são aquelas que depois da cópula terão ovos fecundados. Após alguns dias, esses ovos serão expelidos e o desenvolvimento fetal ocorrerá dentro do ovo e fora da mãe. Serpentes Vivíparas são aquelas que após a fecundação, seus embriões são desenvolvidos em ovos que eclodem dentro do ventre da mãe, resultando no nascimento dos filhotes vivos e prontos. Esse mecanismo é utilizado em algumas serpentes peçonhentas e não peçonhentas.
VENENO
No mundo da política, só existem serpentes peçonhentas. Ovíparas e Vivíporas. E existem formas mais variadas de fecundar ovos e fazer eclodir novas serpentes. Perigosas, sempre. A essência do poder é autoritária. Absolutista. Sem caráter, sem ética, sem vergonha, sem limites. A democracia, a liberdade, o respeito à cidadania e às diferenças, são conquistas. Não constituem dádivas nem algo natural. Conquistas, a serem vigiadas, zeladas, preservadas.
SEPARAÇÃO DE PODERES
Durante vários milênios da chamada Civilização, o exercício do poder foi quase sempre absoluto. Em 1748, Charles de Secondat, Barão de Montesquieu, publicou sua obra prima "Do Espírito das Leis". Nela, defendia a teoria da separação dos poderes do Estado - Executivo, Legislativo e Judiciário, independentes e harmônicos. Cada qual no seu quadrado, o que supostamente é a garantia das pessoas comuns contra as serpentes parceiras do Leviatan, o monstro bíblico que Thomas Hobbes utilizou para simbolizar o Estado autoritário. A teoria de Montesquieu acabou adotada nas democracias ocidentais contemporâneas. Garante a minha, a sua, a nossa liberdade.
DESCONSTRUÇÃO DE MONTESQUIEU
O Brasil de hoje, vivendo uma democracia conquistada a duras penas, está desconstruindo a separação dos poderes. Violações que já vêm de longe, numa crescente escalada de invasões e atos arbitrários. Dia a dia, noite a noite, como aconteceu esta madrugada, os agentes dos três poderes esticam cada vez mais a corda na direção do arbítrio e do autoritarismo. Um processo que precisa ser encarado e interrompido, antes que o ovo da grande serpente seja definitivamente fertilizado. Podemos transigir com tudo. Menos com a Democracia, atrelada ao respeito às liberdades e direitos individuais e coletivos.
CULPADOS?
Não adianta buscá-los pois não há inocentes nesse jogo. Quem cede espaço no jogo do poder está fazendo uma concessão definitiva. Ninguém por vontade própria abre mão de atribuições que conquistou ou lhe foram concedidas. Quando um partido renúncia à sua participação no jogo da política e, como menino mimado, recorre ao titio poderoso do Judiciário, está empoderando aquele poder para além de suas atribuições. O Executivo não tem ajudado. O Legislativo não exerce plenamente os seus direitos, logo os vai perdendo. Os Três Poderes e seus anexos e penduricalhos entraram em guerra barulhenta, pouco republicana, nada democrática. Cada qual tirando sua casquinha, buscando mais vantagens pessoais ou mais autoridade para contemplar egos carentes.
HÁ ESPERANÇA?
Alguém tem que dar um basta. O segmento da sociedade que se mobilizou o fez com pauta tão equivocada quanto. Erro não se corrige com erro. Nem com inércia. A maioria está, como soe acontecer, cuidando da vida. O que fazer?
As esperanças ficam para o Ano Novo. Novo governo. Novo Congresso. Velhos partidos, velho STF.
A dialética indica que o novo vence o velho. Vamos torcer.
Feliz Natal e um Ano Novo com poucas novas serpentes. Nenhuma, de preferência.
NR - A foto mostra o nascimento de serpentes.
https://www.jornalopoder.com.br/noticias/10236/os-ovos-das-serpentes-ninguem-e-inocente-na-invasao-dos-poderes