Reação internacional se desloca para as sanções econômicas
Por Pedro do Coutto
O presidente Vladimir Putin concretizou na tarde de segunda-feira a invasão planejada para a Ucrânia ao reconhecer como russas as repúblicas separatistas do governo de Kiev. Além de reconhecer a independência de áreas ucranianas, Putin deslocou mais tropas para as fronteiras e anunciou ter destruído tanques e matado cinco ucranianos.
Ameaçou também medidas violentas caso haja resistência do país que foi uma antiga república soviética, mas que conquistou a independência quando da reforma política que Moscou teve que aceitar. Portanto, não pode haver prova mais concreta de uma invasão que se tornou completa no plano político e parcial na área militar. Mas mesmo assim, apresentando consequências destrutivas e mortais, como inclusive anunciou, o governo de Moscou.
SANÇÕES – As reações dos Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha estão se deslocando para o plano de sanções econômicas e não para um confronto militar, cujos efeitos arrasadores tornam-se imprevisíveis em face dos armamentos existentes, principalmente na Rússia que tem um exército de 850 mil homens. A Ucrânia, de 200 mil.
O Brasil no Conselho de Segurança da ONU, já na noite de segunda-feira, havia condenado a invasão, faltando agora um pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro, uma vez que se pronunciaram o presidente dos Estados Unidos, o primeiro-ministro alemão, o primeiro-ministro do Reino Unido e o presidente da França.
Conforme escrevi anteriormente, o ato de força desfechado por Putin contra a Ucrânia vai refletir em matéria de votos contra Jair Bolsonaro nas urnas de outubro. Para as correntes da direita, Putin, um ditador de fato, pode não ser comunista, já que o comunismo transformou-se nas últimas décadas em um tigre de papel. Mas está longe de ser anticomunista.
PANORAMA – A reportagem na Folha de S. Paulo, excelente, é do enviado especial em Moscou, Igor Gielow. No O Globo, é de Filipe Barini e André Duchiade. As repúblicas proclamadas independentes de forma unilateral por Putin são as de Luhansk e Donetsk, separatistas do Leste da Ucrânia, portanto, em fronteiras com o território russo. A Folha de S.Paulo publica o mapa e focaliza de forma bastante clara e larga o panorama geográfico do conflito.
O presidente Putin revolta-se contra o fato de a Ucrânia ter pertencido à antiga União Soviética antes de se tornar um estado independente, o que ocorreu em 1999. Putin chegou ao ponto de condenar até Lênin que comandou a revolução e criou a URSS.
Daqui para frente, uma nova realidade de confronto entre a Rússia e o Ocidente se projeta. O desgaste internacional de Putin é muito grande na opinião pública. Porém, militarmente, apesar de discordâncias de ministros de seu país, ele realizou um avanço irreversível e abriu as cortinas do teatro universal, como diziam os correspondentes da Segunda Guerra para uma operação de resultados absolutamente imprevisíveis, uma vez que a política não vive de fatos isolados e sim de processos sucessivos.
PESQUISA DO MDA – A Folha de S. Paulo publicou na sua edição de ontem o resultado de uma pesquisa do Instituto MDA feita por encomenda pela Confederação Nacional dos Transportes, apontando liderança de Lula com 42,2%, seguido de Bolsonaro com 28%, Ciro com 6,7% e Sergio Moro com 6,4%.
O governador João Doria registrou somente 1,8%. Os demais candidatos tiveram pontuações mínimas na escala de 1% nas intenções de voto. Simone Tebet registrou, lamentavelmente, apenas de 0,6% para o MDA. O instituto comparou a pesquisa de agora com a de dezembro, concluindo que Lula desceu de 42,8% para 42,2%.
PERSPECTIVAS – Bolsonaro subiu de 25.6% para 28%. Os números do MDA certamente serão confrontados com os que vierem a ser divulgados pelo Datafolha e pelo Ipec. A mim parece surpreendente o avanço de 2,5 pontos de Jair Bolsonaro. Os fatos não indicam essas perspectivas. Em todo o caso, conforme dizia meu amigo Nelson Rodrigues em tom de ironia, pior para os fatos. Vamos ver e conferir.
As próximas pesquisas do Datafolha e do Ipec, como é lógico, devem incluir os reflexos da viagem de Bolsonaro a Moscou e o apoio formal que manifestou à Rússia já no meio da tensão internacional, porém antes da invasão política no entardecer da segunda-feira.
HACKERS – Reportagem de Carolina Nalin, O Globo, revela que hackers invadiram na terça-feira o site das Lojas Americanas, causando prejuízo avaliado em R$ 100 milhões por dia. As ações da empresa caíram 6,6% na Bovespa. Mas a invasão é avaliada em R$ 220 milhões pela repórter Daniele Madureira, Folha de S. Paulo, acentuando que o ataque estendeu-se às empresas do grupo, Submarino e Shoptime, custando uma perda de R$ 2 bilhões em valor de mercado para as Americanas.
A matéria do O Globo acrescenta também um componente no grupo, o site Sou Barato. Mais um fato, portanto, de grande impacto que revela a vulnerabilidade do sistema e a incapacidade de blindagem dos direitos financeiros por parte do Banco Central. Os episódios de invasão se repetem no universo dos negócios e nos últimos dias tivemos a farsa das criptomoedas.
A impressão que fica, recorrendo a uma imagem do futebol, é que a defesa do Bacen marca pessimamente os ataques do time dos ladrões. Além disso, há o vazamento constante de dados de titulares de contas no sistema bancário e também em financeiras que anunciam perspectivas de lucro que se chocam com a atuação dos grandes bancos, como é o caso do Itaú, do Bradesco, do Santander, do Banco do Brasil e do Safra, neste caso, patrocinador de publicidade com a atriz Marina Ruy Barbosa. Quando alguém oferece lucros extraordinários para aplicações isso é mais um motivo para não aderirmos a tais promessas.
Tribuna da Internet