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quinta-feira, fevereiro 24, 2022

Invasão redesenha mapa geopolítico do Pós-Guerra Fria - Editorial

 




A entrada de tropas russas em território ucraniano, depois do discurso agressivo em que Vladimir Putin contestou a própria existência da Ucrânia como país independente da Rússia, pôs em marcha um conflito de desdobramentos ainda imprevisíveis no curto prazo. Já houve escalada da mera diplomacia ao endurecimento de sanções, por parte tanto dos americanos quanto dos europeus. A Alemanha suspendeu a licença para um novo gasoduto que traria energia russa à Europa Ocidental.

Analistas se debruçam agora sobre cenários de invasão que vão desde a anexação das duas províncias ucranianas de maioria étnica russa — que a Rússia reconheceu como independentes — até a ocupação de toda a Ucrânia, com ataques aéreos e o avanço dos 190 mil soldados mobilizados por Putin. Independentemente do dano que qualquer conflito venha a causar à região e do choque inevitável na economia global — cujo primeiro sinal é a nova alta na cotação do petróleo —, estão no médio e longo prazos as consequências mais preocupantes.

A maior delas é o redesenho do mapa estratégico do planeta em vigor desde o fim da União Soviética. Na Europa, isso se traduz no ressurgimento da Rússia como potência militar com uma esfera de influência estendida às fronteiras dos países da Europa Oriental que integram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan): Polônia, Hungria, Romênia, Eslováquia, Lituânia, Letônia e Estônia. A agressão russa põe a Otan diante de uma questão crítica: até que ponto empenhar armas e contingentes militares para defender essas fronteiras? Só esse dilema já representaria uma vitória estratégica para Putin, cuja disposição para correr riscos e perseguir seus objetivos tem superado em muito a do Ocidente.

No outro extremo do planeta, tudo dependerá da reação do ator mais importante a emergir no novo mapa geopolítico: a China. A tibieza americana para defender a Ucrânia e os aliados do Leste de investidas russas seria inevitavelmente interpretada pelos chineses como medida de até onde os Estados Unidos estariam dispostos a ir para defender outra área em disputa: a ilha de Taiwan, que a China também considera parte de seu território. Se Moscou obtiver sucesso na invasão da Ucrânia, a questão óbvia passará a ser: que fará Pequim em relação a Taiwan?

Não é acaso, portanto, que os movimentos militares de Putin tenham sido precedidos do anúncio de uma aliança com o líder chinês, Xi Jinping. A China lhe traz fôlego para resistir a sanções de toda sorte. Interessa a Xi uma parceria estratégica para enfraquecer as pretensões americanas na Europa ou em qualquer lugar, de modo a ampliar seu poder. A disputa que até agora se restringe ao campo econômico poderia adquirir um caráter bélico.

Para o Ocidente, o momento não poderia ser menos propício a aventuras militares. O mundo ainda não se recuperou da pior pandemia em mais de um século, a inflação ressurgiu com força nos países ricos, e o ânimo isolacionista e nativista toma conta dos debates em todas as democracias. Em contraste com o ímpeto agressivo de Putin, a atitude dos líderes ocidentais tem sido apostar no apaziguamento por meio de sanções, nas instituições e nos caminhos de uma ordem global que se revela ineficaz e caduca. A maior prova do fracasso da estratégia adotada depois da Guerra Fria é que hoje é Putin quem dita o passo desse jogo.

O Globo

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