Casa Branca teme que encontro entre presidente brasileiro e Putin previsto para meados de fevereiro transmita mensagem de que o Brasil apoia Moscou na crise envolvendo a Ucrânia. Itamaraty defende solução diplomática.
Em meio às tensões envolvendo temores de uma invasão da Ucrânia pela Rússia, o governo dos Estados Unidos tem intercedido junto ao brasileiro para que seja cancelada a viagem do presidente Jair Bolsonaro a Moscou programada para meados deste mês, segundo noticiaram veículos da imprensa brasileira.
De acordo com o jornal O Globo, representantes da Casa Branca argumentaram que o momento não é adequado para o encontro entre Bolsonaro e o presidente russo, Vladimir Putin, pois poderia ser interpretado como a tomada de um lado na crise Rússia-Ucrânia pelo Brasil.
Ao jornal, uma fonte do governo brasileiro afirmou que essa não será a mensagem da visita. "Desejamos o entendimento diplomático entre Rússia e Ucrânia, dois países com os quais temos ótimas relações", disse.
De acordo apuração da Folha de S.Paulo e do Poder360, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, manifestou preocupações quanto a essa possível mensagem simbólica da visita de Bolsonaro em conversa telefônica com o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Carlos França, no último domingo (30/01).
Segundo o Poder360, França informou a Blinken que a viagem de Bolsonaro está mantida e que o Brasil segue a favor de solução diplomática duradoura para as tensões.
Em 10 de janeiro – dias depois de o Brasil assumir uma vaga rotativa no Conselho de Segurança da ONU, com mandato de dois anos –, Blinken havia pedido ao governo Bolsonaro uma reposta "forte e unida" contra as "novas agressões da Rússia” à Ucrânia.
No telefonema deste domingo, além de manifestar apreensão em relação à ida de Bolsonaro a Moscou, Blinken teria pedido que o Brasil votasse nesta segunda a favor da realização de uma reunião no Conselho de Segurança da ONU sobre a situação da Ucrânia – o que o Brasil acabou fazendo.
Na reunião, Ronaldo Costa Filho, embaixador do Brasil na ONU, tentou manter uma posição neutra e apelou ao diálogo entre as partes envolvidas nas atuais tensões em torno da Ucrânia.
"A proibição do uso da força e a resolução pacífica de disputas e o princípio de soberania e integridade territorial e a proteção de direitos humanos são pilares do nosso sistema coletivo de segurança", afirmou.
À Folha, a embaixada americana em Brasília afirmou que "EUA, Brasil e outras nações democráticas têm a responsabilidade de defender os princípios democráticos e proteger a ordem baseada em regras, além de reforçar essa mensagem à Rússia em toda oportunidade".
A viagem de Bolsonaro
Bolsonaro confirmou na última quinta-feira sua viagem a Moscou. Segundo o Palácio do Planalto, a data ainda não está definida, mas a previsão é que o presidente embarque para a Rússia por volta do dia 12 de fevereiro.
De acordo com Bolsonaro, o convite para o encontro veio de Putin, e o objetivo é estreitar os laços e melhorar as relações comerciais entre os dois países. Questionado por um apoiador se o líder russo seria conservador e "gente da gente", Bolsonaro respondeu que ele "é conservador, sim".
A viagem à Rússia deverá ser seguida de uma visita à Hungria, onde Bolsonaro deverá se encontrar com o primeiro-ministro Viktor Orbán, de ultradireita. Nesta terça-feira, Orbán se reunirá com Putin.
A crise Rússia-Ucrânia
Os Estados Unidos e a Otan afirmam que cerca de 100 mil soldados russos estão estacionados junto à fronteira com a Ucrânia, o que gerou temores de uma invasão por Moscou. O Kremlin nega estar planejando uma investida contra o país vizinho e acusa o Ocidente de criar uma "histeria".
O governo do presidente americano, Joe Biden, e países aliados vêm tentando evitar a temida invasão por meio da diplomacia e ameaçaram impor sanções econômicas à Rússia, inclusive diretamente contra Putin.
Apesar das negociações em andamento, Rússia e EUA não conseguiram chegar a nenhum acordo nas últimas semanas para aliviar as tensões.
Embora Moscou afirme que não tenha planos de invadir a Ucrânia, exige que a Otan prometa que não vai permitir a adesão de Kiev à Aliança Atlântica e que reduza sua presença militar na Europa Oriental. Tanto a Casa Branca quanto a Otan recusaram os pedidos, chamando as exigências de "impossíveis".
Nesta terça-feira, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, deve viajar para Kiev para conversar com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, que acusa o Ocidente de criar "pânico" e prejudicar a economia de seu país com conversas sobre guerra.
Deutsche Welle