Certificado Lei geral de proteção de dados

Certificado Lei geral de proteção de dados
Certificado Lei geral de proteção de dados

sábado, fevereiro 26, 2022

Delírio de grandeza: Putin quer ser o czar Pedro, o Grande e irá até o fim

 




No caminho sem volta, incluem-se a submissão das forças ucranianas, a instalação de um governo fantoche e e o uso do gás para chantagear Europa.

Por Vilma Gryzinski

Passar 22 anos no poder e não precisar se preocupar em como continuar nele certamente influenciaram o modo de agir de Vladimir Putin. Os efeitos de uma das drogas mais poderosas que existem estão sendo vistos por um mundo estarrecido diante da invasão de um país que não fez nada para receber a mais avassaladora das violências.

As próximas etapas da invasão são, infelizmente, quase obrigatórias. As forças russas não podem deixar a Ucrânia sem obter, em primeiro lugar, a vitória incontestável que a superioridade bélica garante.

Ele próprio disse isso ao anunciar a “operação militar especial”.

“A Rússia não pode se sentir segura, desenvolver-se e existir com uma ameaça constante emanando do território da Ucrânia moderna”, disse Putin, colocando o agredido como agressor e vice-versa, segundo a ótica invertida em que a verdade é mentira e a mentira é verdade.

Se a Rússia considera a Ucrânia tal como existe hoje uma ameaça existencial, só pode deixá-la depois da submissão total de qualquer forma de resistência. Ele até deu a dica de como seguir este roteiro ao se dirigir nos seguintes termos aos ucranianos mobilizados nas Forças Armadas:

“Estimados camaradas, seus pais, avós e bisavós não combateram os nazistas, defendendo nossa pátria comum, para que os neonazistas de hoje tomassem o poder na Ucrânia. Vocês prestaram juramento ao povo da Ucrânia, não à junta que saqueia a Ucrânia e zomba desse povo”.

“Não sigam suas ordens criminosas. Deponham armas imediatamente e voltem para casa. Todas as tropas do exército ucraniano que sigam esta instrução serão liberadas para deixar o campo de combate e retornar às suas famílias”.

Tradução: quem não seguir o comando, está perdido.

Além da vitória militar, preferencialmente rápida e avassaladora, Putin vai precisar de um governo fantoche para manter as aparências de legitimidade. Parece incrível, mas provavelmente não faltarão candidatos a fazer a encenação e não apenas entre ucranianos de etnia russa. O poder fala alto – e o dinheiro também.

O presidente Volodimir Zelenski sabe que é “o alvo número um”, como disse. As opções provavelmente são o exílio ou um lugar obscuro e fechado.

Também tem voz forte o maior instrumento comercial de chantagem à disposição de Putin, as reservas de gás que iluminam e aquecem a Europa, fornecendo 40% do abastecimento dessa matriz estratégica. A pertinente atitude do governo alemão ao interromper, a longo prazo, o gasoduto Nord Stream 2 é importante, mas não muda o quadro geral. O Nord Stream, que liga diretamente pelo mar Rússia e Alemanha, tinha a função primordial de evitar a Ucrânia, por onde passam os gasodutos em operação. Com a Ucrânia sob controle russo, deixou de ser tão importante.

“Políticos dos dois lados do Atlântico podem ser unânimes em manifestar indignação, mas não vai demorar para que sua unanimidade seja corroída pela realidade alterada e por seus interesses fundamentalmente divergentes. Os Estados Unidos não precisam do gás natural da Rússia. A Europa, pelo menos a curto prazo, precisa”, escreveu o historiador Niall Ferguson na Spectator.

Fergusson se inclui entre os analistas que veem em Putin o desejo de reconstruir não a União Soviética, mas o império czarista.

“Pedro, o Grande é o seu herói, muito mais do que Josef Stálin”, diz ele, lembrando que Putin tem em seu gabinete uma escultura do czar cujo reinado avançou até 1725, com um ímpeto modernizador que incluiu desde grandes reformas estruturais até detalhes como a proibição das barbas compridas historicamente associadas aos russos (com exceções para o clero ortodoxo e o campesinato, ainda submetido ao regime de servidão, só abolido em 1861).

“É Putin meramente um fantasista que se imagina como herdeiro de Pedro?”, pergunta Fergusson.

Por mais repúdio que a invasão da Ucrânia mereça, é fato que ele reconstruiu a Rússia depois da derrocada deixada pelos escombros do comunismo.

Agora, pela lei das consequências indesejadas, em vez da restauração da grandeza imperial, ele pode ter excluído a Rússia da comunidade das nações entre as quais Pedro, o Grande queria cavar um lugar de igual para igual para seus domínios.

Esta lei foi particularmente cruel com os Estados Unidos: George Bush filho invadiu o Iraque em 2003 para buscar armas químicas que não existiam, acreditando que uma onda democrática se propagaria a partir daí pelo Oriente Médio e assim amortizaria o fundamentalismo muçulmano. Acabou, indiretamente, reforçando os xiitas locais, e do regime iraniano, e os sunitas que deram origem ao Estado Islâmico, todos inimigos mortais dos americanos.

Supremamente poderoso, com dois terços de seu exército mobilizados para subjugar a Ucrânia, Putin parece invencível.

É nessa hora que os delírios atacam.

Revista Veja

Em destaque

Relatório robusto da PF comprova que golpismo bolsonarista desabou

Publicado em 28 de novembro de 2024 por Tribuna da Internet Facebook Twitter WhatsApp Email Charge do Nando Motta (brasil247.com) Pedro do C...

Mais visitadas