Publicado em 3 de fevereiro de 2022 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
Em pronunciamento na tarde de terça-feira transmitido pela Globo News e focalizado em reportagem de Mariana Muniz e André de Souza, O Globo de quarta-feira, o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, acusou diretamente o presidente Jair Bolsonaro de fornecer informações para facilitar ataques de hackers e invasões do site do TSE, além de outros comportamentos delituosos auxiliando milícias digitais e hackers de todo o mundo.
A acusação de Luís Roberto Barroso constitui um fato tão inédito quanto o comportamento de Bolsonaro, que também protagonizou um lance de ineditismo na história brasileira ao ser acusado pela Polícia Federal, órgão subordinado ao Ministério da Justiça de investida contra o universo legal do país.
REFORÇO DA SEGURANÇA – Luís Roberto Barroso acrescentou que teve que tomar uma série de providências para reforçar a segurança cibernética e acentuou: “Faltam adjetivos para qualificar a atitude deliberada do presidente de facilitar a exposição do processo eleitoral brasileiro para ataques criminosos. O TSE pediu uma investigação e na semana passada o presidente Bolsonaro faltou ao depoimento marcado para que prestasse esclarecimentos”.
Após ressaltar, mais uma vez, que as urnas eletrônicas não são vulneráveis à fraudes, porque não estão conectadas a rede alguma, Luís Roberto Barroso referiu-se positivamente ao desfecho das eleições portuguesas quando os derrotados aceitaram o resultado e cumprimentaram os vitoriosos.
Também na terça-feira, ao reabrir as atividades do Judiciário, o presidente do STF, ministro Luiz Fux, afirmou que não há mais lugar para investidas contra a democracia brasileira. Foi um dia, portanto, acentuo, ruim para a candidatura de Bolsonaro, sobretudo porque dificilmente ele poderá responder ao ministro Barroso e o seu silêncio funcionará com um lance extremamente prejudicial à sua campanha, pois Barroso o acusou de ações propositais para desacreditar o processo eleitoral, as eleições, atingindo a própria democracia brasileira.
CRÍTICAS – O episódio ficará para sempre registrado na história do país. Ao anunciar a reabertura dos trabalhos judiciários, o ministro Luiz Fux criticou também o presidente pela violência contra as instituições públicas do país.
A crise envolvendo novamente Jair Bolsonaro, Alexandre de Moraes e o próprio Supremo Tribunal Federal, revelam Jussara Soares e Gustavo Schmidt, O Globo, que articuladores do governo estão acionando novamente a intervenção do ex-presidente Michel Temer para apagar as chamas da nova ofensiva de Jair Bolsonaro contra Alexandre de Moraes, o que, na minha opinião, significa um descontrole político acentuado no Palácio do Planalto.
Como frisou Luiz Fux, a política do “nós contra eles” é uma ameaça à democracia. No episódio registrado, Bolsonaro só pode ter perdido votos.
PROPOSTA DE GUEDES – Manuel Ventura, no O Globo, e Idiana Tomazelli e Fábio Pupo, na Folha de S. Paulo, publicaram excelentes reportagens focalizando o novo projeto do ministro Paulo Guedes de reduzir o imposto sobre produtos industrializados, abrangendo todos os setores para conter a projeção inflacionária.
Segundo Guedes, por extensão, a iniciativa levaria os estados a reduzirem o ICMS. Como se constata à luz da lógica, trata-se de uma contradição de grande porte. O governo diminuiria a sua própria receita para favorecer as empresas numa jornada visando assegurar a inflação no país.
O governo Bolsonaro, assim, estaria estatizando uma parte da contenção de preços e com isso deixaria exposto que a contenção dos índices inflacionários exclui o setor privado e transfere aparentemente essa responsabilidade para o governo e, portanto, para o poder público. Quer dizer: os salários não podem subir, os impostos têm que baixar, mas os preços estão liberados em seu caminho. Este caminho é o da concentração de renda.
ELEIÇÕES EM PORTUGAL – Na edição de terça-feira da Folha de S. Paulo, Giuliana Miranda analisa os resultados finais das eleições em Portugal e conclui que a vitória dos socialistas decorreu do voto útil que motivou a esquerda. As pesquisas apontavam um equilíbrio na reta de chegada que não se confirmou nas urnas.
Os socialistas avançaram nas últimas horas que antecederam as urnas e obtiveram uma vitória surpreendente. A matéria é bastante ampla e apresenta o resultado final em termos de cadeiras conquistadas no Parlamento.
O Partido Socialista arrebatou 117 das 230 cadeiras, o Partido Social Democrata ficou com 76 e o Chega, da extrema-direita, tornou-se a terceira força, mas com apenas 12 assentos. Foi bonita a frase de António Costa, primeiro-ministro confirmado, sobre a maioria absoluta conquistada. Disse ele que isso não significa poder absoluto. Foi uma bela afirmação.
DESLOCAMENTO – Alguns professores de Ciência Política da Universidade de Lisboa, como Francisco Pereira Coutinho, interpretaram o desfecho como um deslocamento de legendas. Mas o motivo desse deslocamento deve-se também ao desempenho pessoal das lideranças, uma vez que o processo político eleitoral não é resultado somente da soma parcial de uma legenda em um sentido ou em outro.
É preciso considerar a emoção, o caráter humano dos choques das facções. Analisar friamente a soma ou a diminuição de um partido não implica em não considerar as razões emocionais que caracterizam o processo político.
LIDERANÇA – Ontem, quarta-feira, O Globo publicou em página inteira, o resultado de uma pesquisa sobre circulação das edições impressas e dos acessos online pela internet. Em matéria de edição impressa, o jornal alcançou uma circulação diária de 373 mil exemplares.
A Folha de S.Paulo ficou em segundo com 366 mil. O Estado de S. Paulo em terceiro com 225 mil. Como sempre observo, cada exemplar é lido em média por três pessoas, talvez até um pouco mais. E há pessoas que leem os três jornais, assim conforme eu faço. Mas essa é outra questão.
A Globo aponta também a sua liderança nos acessos pela internet. Somou uma média de 27,8 milhões de acessos únicos a cada mês. No mesmo período, a Folha de S. Paulo teve média de 22,2 milhões, e o Estado de S. Paulo, de 10,3 milhões.