Filipe Vidon
O Globo
Minutos após o Instituto Igarapé publicar uma nota técnica com críticas aos decretos que flexibilizam as regras de posse e porte de armas no Brasil, Jair Bolsonaro bloqueou a cientista política e especialista em segurança pública Ilona Szabó.
Ela atua como diretora-executiva do instituto, que estuda questões de segurança e desenvolvimento, e informou pelo Twitter que o presidente foi “rápido no gatilho”. Ilona comparou a atitude de Bolsonaro com a liberdade de expressão e abertura de diálogo “como na Venezuela”.
DITADURAS – Em outra postagem, Ilona Szabó criticou o bloqueio de contestações à narrativa oficial e afirmou que “isso só acontece em ditaduras”. Ao responder a comentários de seguidores sobre o bloqueio recebido da conta oficial do presidente, a especialista declarou que “esse comportamento vai reelegê-lo” e que o país está “cansado dessa polarização tóxica que só vê dois lados”.
Em nota divulgada à imprensa, o Instituto Igarapé afirma que os decretos assinados pelo presidente mostram que é “prioridade continuar com o desmonte da já combalida política de controle de armas e munições do Brasil”.
EFEITOS COLATERAIS – Segundo a avaliação do Igarapé, o aumento na circulação de armas de fogo tem efeitos colaterais para o aumento da violência e “reforça possíveis ameaças à democracia”. Entre as medidas determinadas pelos decretos está a ampliação de quatro para seis no limite de armas que cada cidadão pode ter.
Também foram alteradas diversas regras envolvendo o grupo de colecionadores, atiradores e caçadores (CACs), incluindo o limite de armas que cada pessoa pode comprar e a desclassificação de uma série de itens da lista de Produtos Controlados pelo Exército (PCEs). Parlamentares do PSOL e PCdoB já informaram que vão contestar as medidas no Supremo Tribunal Federal (STF).
MODUS OPERANDI – Esta não é a primeira vez que o presidente Jair Bolsonaro bloqueia opositores no Twitter, rede social utilizada por ele como plataforma para anúncios e declarações oficiais da maior autoridade do país. Em outubro de 2020, O Globo publicou um levantamento que localizou ao menos 15 perfis com mais de dez mil seguidores bloqueados pelo presidente.
Entre as personalidades sem acesso ao perfil oficial de Bolsonaro estão políticos, jornalistas, pesquisadores, influenciadores tanto do campo da esquerda quanto da direita, e um youtuber.
Nos Estados Unidos, quando ainda governado por Donald Trump, a mesma atitude foi considerada uma prática inconstitucional. A corte que analisou o caso contra Trump entendeu que, como o ex-presidente usava o Twitter para anunciar decisões relacionadas ao governo, não pode impedir cidadãos de terem acesso às suas mensagens.