Fábio Pupo
Folha
O presidente Jair Bolsonaro contestou neste sábado (21) durante a cúpula do G20 o debate sobre racismo no país, dizendo que há quem queira alimentar o conflito e o ódio entre a população. “O Brasil tem uma cultura diversa, única entre as nações. Somos um povo miscigenado”, afirmou.
“Foi a essência desse povo que conquistou a simpatia do mundo. Contudo, há quem queira destruí-la, e colocar em seu lugar o conflito, o ressentimento, o ódio e a divisão entre raças, sempre mascarados de ‘luta por igualdade’ ou ‘justiça social’. Tudo em busca de poder.”
POVO VULNERÁVEL – Ele disse que há interesses para se criar tensões no país e que um povo dividido fica enfraquecido. “Um povo vulnerável pode ser mais facilmente controlado e subjugado. Nossa liberdade é inegociável.”
“Enxergo todos com as mesmas cores, verde e amarelo. Não existe uma cor de pele melhor do que as outras. O que existem são homens bons e homens maus, e são as nossas escolhas e valores que determinarão qual dos dois nós seremos”, afirmou.
O presidente disse ainda que há “tentativas de importar para o nosso território tensões alheias à nossa história” e que “aqueles que instigam o povo à discórdia, fabricando e promovendo conflitos, atentam não somente contra a nação, mas contra nossa própria história”.
CASO CARREFOUR – As declarações foram dadas um dia após protestos pela morte de um homem negro por seguranças de um supermercado Carrefour em Porto Alegre. João Alberto Silveira Freitas, 40, foi espancado e morto na noite de quinta-feira (19) diante de testemunhas.
Sem citar a morte, o presidente havia falado sobre o “povo miscigenado” na sexta (20) em suas redes sociais e usado algumas das expressões que repetiu na conferência.
Na reunião, Bolsonaro ainda defendeu reformas na OMC (Organização Mundial do Comércio) que sigam três eixos: negociações, solução de controvérsias e monitoramento e transparência. Segundo ele, o governo também espera que o órgão de apelação da OMC possa voltar à plena operação o mais rápido possível.
SUBSÍDIOS DA OMC – “Na reforma da Organização, queremos que a ambição de reduzir os subsídios para bens agrícolas conte com a mesma vontade com que alguns países buscam promover o comércio de bens industriais”, afirmou.
Bolsonaro disse também que espera que o processo de reforma da OMC contemple o estímulo aos investimentos e a criação de condições justas e equilibradas para o comércio internacional, não só de bens, mas também de serviços.
Apesar da possibilidade de uma nova onda do coronavírus no país, Bolsonaro buscou ressaltar a visão de uma recuperação na economia brasileira.
SUPERAÇÃO – “À medida que a pandemia é superada no Brasil, a vida das pessoas retorna à normalidade e as perspectivas para a retomada econômica se tornam mais positivas e concretas.”
Mais cedo, Bolsonaro afirmou em vídeo de apresentação para a cúpula do G20, que o governo estava certo em seu entendimento sobre a pandemia do coronavírus. “Desde o início, ressaltamos que era preciso cuidar da saúde e da economia simultaneamente. O tempo vem provando que estávamos certos”, disse no vídeo, gravado e divulgado antes da reunião entre os líderes.
O presidente disse que o governo apoia o acesso universal, equitativo e a preços acessíveis aos tratamentos disponíveis. “É com esse objetivo que participamos de diferentes iniciativas voltadas ao combate à doença.”
VACINAS OPCIONAIS – Bolsonaro defendeu, no entanto, que as vacinas contra a Covid-19 sejam opcionais. “Defendemos a liberdade de cada indivíduo para decidir se deve ou não tomar a vacina. A pandemia não pode servir de justificativa para ataques às liberdades individuais.”
No vídeo deste sábado, o presidente afirmou que a cooperação no âmbito do G20 é essencial para superar a pandemia e retomar o caminho da recuperação econômica e social.
“Neste ano, enfrentamos desafios sem precedentes na história recente”, disse. “Devemos manter o firme compromisso de trabalhar pelo crescimento econômico, pela liberdade de nossos povos e a prosperidade do mundo.”
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A matéria, que é bastante extensa, registra que Bolsonaro não acredita na segunda onda da covid, que está acontecendo em muitos países, simultaneamente. Na semana passada, por exemplo, chamou a possibilidade de uma nova onda do coronavírus de “conversinha”. Mas na realidade a segunda onda já começa a se registrar no Brasil. (C.N.)