Antonio Rocha
Quanto aos 80 tiros em uma família da periferia, podemos tentar refletir sobre um dos motivos: as elites sofrem de pobrefobia aguda. Ao longo de décadas, programas humorísticos nas TVs estimularam o preconceito contra a pobreza, contra os que moram longe do Centro da Cidade e badalação da Zona Sul, RJ. Até hoje existem o bordões “rico ri à toa” e “quero que os pobres se explodam”. Mas, e se não existirem mais os pobres, como é que as elites vão viver ?
Quem vai consertar os carrões deles? Quem vai lavar as roupas deles? quem vai limpar as mansões deles? Quem vai atendê-los nos supermercados, dirigir os ônibus que eles fabricam etc., a lista é grande.
DIZIA BUDA – Essa situação é de uma total insanidade. Lembremos um dos primeiros ensinamentos do filósofo Buda; “todos estamos interligados”.
E, por fim, quem serão os eleitores pobres que irão votar nos parlamentares ricos (das Esquerdas, Direitas e Centros)? Quem serão os fiéis pobres que irão sustentar as igrejas ricas?
Tudo isso, infelizmente influenciou o comportamento das forças de segurança que culminou nos 80 tiros no carro de um músico negro da periferia. Aliás, circula nas redes sociais que foram encontrados mais de 100 fuzis em um condomínio nobre das elites e não foi dado um só tiro, que diferença…
LEMBRANDO MARX – O pensador Karl Marx embasou sua teoria na classe operária do seu tempo, claro. O que ele não poderia imaginar é que, ao longo das décadas, a classe operária fosse se aburguesando/acomodando, como bem disse o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica: “Formamos consumidores…”
Hoje, no Brasil, grande parte da classe trabalhadora frequenta as igrejas neopentecostais em busca de um lugar no céu. Essa mesma grande parte da população ajudou a eleger o atual presidente e o Congresso que está aí, idem Assembleias estaduais e Câmaras municipais. O que esperar desse quadro? Sejamos realistas, os políticos não vão legislar para os pobres que almejam um bom lugar no Paraíso.
Esse povão, essa massa percebe que os eleitos, que se dizem de Esquerda são ricos, semelhantes aos seus pares da Direita e do Centro, elites parlamentares, ganham bem, moram em boas casas e pensam muito naquilo: as suas reeleições…
DANDO ADEUS – Por isso, o velho companheiro Karl Marx pode pendurar as chuteiras, com suas teorias ficando só como referência para trabalhos acadêmicos, mas os militantes (que em muitos casos são… limitantes) não querem aceitar a atualidade.
Solução para nós, brasileiro? A meu ver, na melhor das hipóteses, a Social Democracia e o Trabalhismo do PDT, mas indo aos poucos, tipo passo de tartaruga…