Carlos Newton
O ministro Alexandre de Moraes já deveria ter recuado desde o momento em que tomou conhecimento de que o juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Luiz Antonio Bonat, já tinha encaminhado à procuradora-geral da República, Raquel Dodge, na sexta-feira (dia 12) comunicação sobre os e-mails do empresário Marcelo Odebrecht que citam o ministro Dias Toffoli , que preside o Supremo Tribunal Federal (STF), com o suposto codinome “amigo do amigo de meu pai”. Também no último dia 12, o juiz, que sucedeu na Lava-Jato o ministro Sergio Moro, determinou também que fossem retiradas dos autos da primeira instância as informações que mencionassem autoridades com foro privilegiado, como era o caso de Toffoli.
Recorde-se que, ao ordenar que fossem retiradas do ar as reportagens da revista Crusoé e do site O Antagonista, também no dia 12, o ministro Moraes se baseou justamente no fato de a procuradora Raquel Dodge desconhecer o assunto. E definiu a informação como “fake news”.
ERA VERDADE – Acontece que a informação sobre o “amigo do amigo de meu pai” era rigorosamente verdadeira, como desde o início estava comprovado, porque a revista Crusoé publicara o “fac-símile” do documento que transcrevia a frase de Marcelo Odebrecht.
No afã de proteger o presidente Dias Toffoli, o ministro Moraes desprezou este fato concreto de que existia uma imagem, circunstância que há 2,5 mil anos Confúcio definiu que vale mais do que mil palavras. E assim o relator enveredou por caminhos obscuros.
Sem se dar ao trabalho de pedir à sua extensa assessoria jurídico-funcional que apurasse o fato junto à redação da revista, o relator do inusitado inquérito foi logo classificando a matéria como “fake news”. E com essa alegação justificou o ato de censura e o prosseguimento do inquérito, embora a forte reação dos juristas já demonstrasse que se tratava de uma inconstitucionalidade.
E AGORA, JOSÉ? – Moraes e Toffoli entraram num inferno astral, mais perigoso do que as ondas gigantes de Maya Gabeira. De repente, o próprio Moraes teve de admitir que a mensagem existe, é verdadeira e se refere a um e-mail de 13 de julho de 2007, quando Toffoli era o então Advogado Geral da União (AGU) no governo do presidente Lula da Silva.
Na mensagem, Marcelo Odebrecht fala sobre tratativas da empreiteira com a AGU sobre temas que envolviam as hidrelétricas do Rio Madeira. E revela que o termo o “amigo do amigo de meu pai” era José Antonio Dias Toffoli. Depois, se soube que Toffoli também era conhecido na Odebrecht como “T”.
Enfim, o ministro Alexandre de Moraes teve um mínimo de “bom senso”, como disse o vice-presidente Mourão, e levantou a censura à Crusoé e a O Antagonista. Deveria aproveitar a deixa para seguir também a determinação da procuradora Raquel Dodge e pôr fim a esse inquérito ilegal que jamais deveria ter sido iniciado.
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P.S. – O mais interessante nisso tudo é a unanimidade, que Nelson Rodrigues tanto perseguia. Até agora ninguém – mas ninguém mesmo – saiu em defesa de Moraes e Toffoli, que se tornaram dois estranhos no ninho do Supremo. Nem mesmo Gilmar Mendes, que é o mentor dessa trapalhada toda, teve coragem de defendê-los. (C.N.)
P.S. – O mais interessante nisso tudo é a unanimidade, que Nelson Rodrigues tanto perseguia. Até agora ninguém – mas ninguém mesmo – saiu em defesa de Moraes e Toffoli, que se tornaram dois estranhos no ninho do Supremo. Nem mesmo Gilmar Mendes, que é o mentor dessa trapalhada toda, teve coragem de defendê-los. (C.N.)