Guga ChacraO Globo
Não existe candidato mais perfeito para a direita israelense do que Benjamin Netanyahu. Ninguém teria a capacidade de garantir o crescimento econômico e a segurança de Israel sem a necessidade de fazer a mínima concessão aos palestinos. Netanyahu é mais sofisticado do que outros líderes de direita populistas. O premier israelense é um dos maiores gênios políticos do planeta e ultrassofisticado intelectualmente. Nem mesmo os múltiplos escândalos de corrupção e um adversário impecável, como o ex-comandante das Forças Armadas de Israel Benny Gantz, foram capazes de derrotá-lo.
Netanyahu, ao longo dos últimos dez anos, comandou uma transformação da sociedade israelense em um processo iniciado desde o fracasso das negociações de paz com os palestinos, em 2000, e a eclosão da Segunda Intifada, no começo deste século.
HERÓIS MILITARES – A esquerda de Israel fracassou mesmo sob o comando de heróis militares como Yitzhak Rabin, assassinado por um extremista de direita, e Ehud Barak. Na visão israelense, os palestinos não estariam interessados na paz. Netanyahu surgiu e provou ser possível ter segurança e prosperidade expandindo a ocupação e os assentamentos da Cisjordânia e o bloqueio à Faixa de Gaza. O país se tornou sinônimo de startups e avanços tecnológicos.
No campo externo, Netanyahu conseguiu conquistar o apoio incondicional de Donald Trump. Sem pedir nada em troca, o presidente americano transferiu a embaixada de Tel Aviv para Jerusalém, retirou os EUA do acordo nuclear com o Irã e reconheceu a anexação das Colinas do Golã, um território sírio ocupado por Israel há mais de 50 anos. Netanyahu também conseguiu estabelecer uma aliança geopolítica contra o regime de Teerã ao se aproximar de países árabes do Golfo, como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, além de manter sólida sua relação com Vladimir Putin, da Rússia.
DIREITA FORTE – Se as primeiras três décadas do país após a independência foram dominadas pela esquerda, hoje a direita está mais forte do que nunca. Os trabalhistas se tornaram um partido nanico na Knesset (Parlamento de Israel). E mesmo o candidato derrotado, Benny Gantz, está longe de ser esquerdista. Seria centro-direita. Netanyahu deve comandar agora uma coalizão da direita com a extrema direita.
Este Israel de Netanyahu, no entanto, terá dois problemas. Basicamente, a possibilidade de um Estado palestino independente deixou de existir. Não será possível a solução de dois Estados e, portanto, de Israel ser judaico e democrático.
AS OPÇÕES – O premier, que já indicou pretender anexar toda a Cisjordânia, terá de escolher entre 1) conceder cidadania a milhões de palestinos, eliminando o caráter judaico do país e 2) deixar os palestinos como apátridas, no que para muitos críticos significaria um apartheid.
Nos EUA, Trump não será eterno. Talvez se reeleja. Mas dois dos candidatos que mais têm inspirado os democratas, Beto O’Rourke e Pete Buttiggieg, criticam abertamente Netanyahu, chegando a chamá-lo de racista — uma visão comum entre jovens americanos, inclusive os judeus, que votam em massa no Partido Democrata e repudiam o premier israelense.