Assis MoreiraO Globo
O ministro da Justiça, Sergio Moro, rejeitou nesta terça-feira eventual percepção de que o governo Jair Bolsonaro pode fazer populismo sobre corrupção e defendeu um pacto empresarial no Brasil contra subornos. Em sua primeira participação no Fórum de Davos, na sessão sobre como empresas, governos e sociedade civil podem restaurar a integridade e confiança nas lideranças, Moro foi incisivo ao criticar a cultura da corrupção no Brasil.
No debate, o professor suíço Mark Pieth, que participa de ações da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) contra suborno, disse que sentia um certo desconforto com governos populistas que acenam com a bandeira de combate à corrupção e, uma vez eleitos, não fazem nada contra, decepcionando os eleitores. Ele citou como exemplo Silvio Berlusconi, da Itália.
SÓ DISCURSO… – A representante de Transparência Internacional, Delia Ferreira Rubio, acrescentou que “‘populistas tomam a narrativa da corrupção, mas não tem uma agenda real, só o discurso contra a corrupção”. No debate, Moro observou que a situação com Berlusconi era diferente, porque ele sequer respeitava a separação de poderes e estava envolvido em muitos casos.
Mais tarde, ao ser indagado sobre o risco de o governo Bolsonaro ser afetado por investigações em torno de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flavio Bolsonaro, o ministro foi incisivo.
— O governo tem discurso forte contra a corrupção e vem adotando práticas sobre algo que não foi feito em 30 anos no Brasil, que é não vender posições ministeriais na barganha pelo poder. E nomeou pessoas técnicas. O compromisso do governo é forte contra a corrupção— disse Moro.
SEM COMENTÁRIOS – Sobre o caso Queiroz, Moro retrucou: “Não me cabe comentar sobre isso, mas as instituições estão funcionando.”
Em sua participação no debate, Moro destacou que o Brasil é um bom exemplo de como a corrupção generalizada mina a confiança. Ele relatou que pagar propinas tinha se tornado um comportamento normal e que os envolvidos costumavam dizer que era a “regra do jogo”. Moro destacou também que o Brasil tem tradição de impunidade contra corrupção. Mas algo mudou no Brasil, segundo ele. “Mas precisamos de uma reforma geral para reduzir incentivos à corrupção”.
Segundo o ministro, setor privado precisa se unir para evitar irregularidades. “A corrupção generalizada foi ruim não apenas para a confiança pública, como também minou a competição leal no mercado” — apontou o ministro. “Empresas pagaram propina para obter vantagens em contratos públicos. O setor público tem grande responsabilidade nisso. E o setor privado deve também se unir para censurar os que tomam passos errados”— afirmou.
ANTIMÁFIA – Moro mencionou iniciativa na Sicília quando um grupo de empresas se uniu para recusar pagamentos à Máfia. “Talvez algo assim poderia funcionar no Brasil, para assegurar concorrência leal” — disse.
Indagado se apresentaria algo nesse sentido, Moro confirmou o interesse em impulsionar “um pacto empresarial contra a corrupção”. Ele ressalvou que pode estimular, pelo discurso, mas não há plano concreto ainda sobre como o governo pode levar a iniciativa adiante.
Participantes do debate em Davos destacaram a importância da tecnologia para denunciar subornos. O sentimento geral é de que a transparência nos setores público e privado é essencial na luta contra a corrupção.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Moro quase não se mexia na cadeira. Visivelmente, estava de saia justa... (C.N.)
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Moro quase não se mexia na cadeira. Visivelmente, estava de saia justa... (C.N.)