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domingo, janeiro 27, 2019

Todas as políticas sociais desde o governo FHC estão voltadas para fomentar a miséria


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Aleluia estuda os efeitos da internet na sociedade
José Nêumanne
O jornalista baiano-carioca Hildeberto Aleluia, que atualmente se dedica em tempo integral a ler e escrever sobre o fenômeno da cibernética, que abalou o mercado e, em especial, as empresas de comunicação, diz que no último quarto de século os políticos brasileiros nos têm governado “com a cabeça e os olhos voltados para trás”, porque eles não perceberam a mudança. Segundo Aleluia, “todas as políticas sociais desde o governo FHC estão voltadas para fomentar a miséria.”
E dá um exemplo trágico: “Tanto o governo federal quanto os estaduais e os municipais incentivaram e incentivam a natalidade, achando estar apoiando os mais pobres. Estavam e estão criando miseráveis. O bebê de hoje é o arrimo da família pobre”. Para ele, “por formação e conveniências políticas, eles se esqueceram de criar uma nação jovem, preparada e desenvolvida. Aparelharam o principal instrumento para isso: as escolas e a universidade. Enquanto o mundo civilizado está medindo seu PIB em bytes, nossos governos trabalharam pensando na década de 1950, buscando soluções para uma infraestrutura tanto política quanto industrial que não existe mais.”
O senhor costuma dizer e escrever que “a revolução na internet não para nem vai parar tão cedo”. Se nos últimos 20 anos avançamos, e avançamos muito, como o senhor prevê que serão os próximos dois anos?Os próximos dois anos serão de crescimento exponencial. Muito pouca coisa será como antes na internet. A vida vai se tornar mais prática. Haverá aplicativos para todas as áreas do nosso conhecimento. Sem contar a internet das coisas. Na área médica, em que a internet avançou pouco até aqui, teremos aplicativos inimagináveis para o corpo humano. Enfim, veremos uma nova revolução. Isso vai implicar também governos cada vez mais preparados para controlar e intervir na internet e, mais ainda, estaremos cada vez mais expostos a esse controle. Não há como ter privacidade na rede.
O que precisamos fazer no Brasil para nos atualizarmos, superando os decênios de atrasos da desgraça que nos têm imposto todos os desgovernos que nos arrastam para o precipício? Temos ou teremos infraestrutura e inteligência política para acompanhar esse avanço na velocidade exigida?Essa pergunta exige uma resposta múltipla. Desgraçadamente, os nossos governos dos últimos 25 anos governaram com os olhos e a cabeça voltados para trás. Por formação e conveniências políticas, eles se esqueceram de criar uma nação jovem, preparada e desenvolvida. Aparelharam o principal instrumento para isso: as escolas e a universidade. Enquanto o mundo civilizado está medindo seu PIB em bytes, nossos governos trabalharam pensando na década de 1950, buscando soluções para uma infraestrutura tanto política quanto industrial que não existe mais. Eles não perceberam as mudanças. Nossos economistas pensaram com a cabeça para o mundo de pós-guerra.
E o que resultou foi trágico…Os grupos econômicos ganharam muito dinheiro, concentraram o conhecimento e a renda, e o que poderia ser um imenso mercado consumidor se tornou numa legião de pobreza. Só como exemplo, cito a nossa política de incentivo à natalidade. Tanto o governo federal quanto os estaduais e os municipais incentivaram e incentivam a natalidade, achando estar apoiando os mais pobres. Estavam e estão criando miseráveis. O bebê de hoje é o arrimo da família pobre. Temos taxa de natalidade no topo da pirâmide social brasileira comparadas à da Noruega. Na base da pirâmide social temos taxa de natalidade comparável à da Etiópia e do Burúndi. Nossas meninas pobres são mães com 13, 15 anos de idade. Essa mesma menina vai ser avó com 30 anos e aos 45 anos, bisavó. Seus filhos já nascem condenados, não terão a menor chance no novo mundo. Até o nascimento os governos dão tudo, depois que nascem são esquecidos. O resultado disso são nossos centros urbanos: caóticos, desordenados e inabitáveis. O topo da pirâmide fica fora desse horror. Mas é aqui que eles vão viver. Todas as políticas sociais desde o governo FHC estão voltadas para fomentar a miséria.
Hoje temos 12,5 milhões de desempregados e, certamente, esta revolução tecnológica em nada nos ajudará a enfrentar essa tragédia social e econômica, que atinge já agora dimensões ciclópicas. Que esforços poderão ser feitos pelo Estado e pela sociedade para enfrentar esse quadro trágico, neste panorama terrível em que políticos, burocratas de alto coturno e nossa elite econômica só olham para o próprio barrigão, privilegiando suas castas e deixando o cidadão e contribuinte ao deus-dará?Na minha opinião, não existe no globo terrestre nenhum modelo econômico, em nenhum país, que seja capaz de absorver 13 milhões de pessoas desqualificadas para a nova economia. Para ser motorista de ônibus e de caminhão, nos dias de hoje, é necessário ter uma qualificação, uma formação técnica exemplar. Até o caixa de supermercado está desaparecendo. Será substituído pelas novas tecnologias. Não é só o desemprego que estimula a informalidade. A falta de formação adequada, também. Acredito que só haveria uma forma de minimizar esse sofrimento: um gigantesco e arrojado programa de infraestrutura. A construção de infraestrutura é uma grande absorvedora de mão de obra desqualificada. Isso amenizaria o problema por uma década. Mas aí você vai à raiz dos problemas brasileiros e encontra um Estado falido e com ojeriza à democratização do capital nos investimentos. Todo investimento do Estado é viciado em concentração, em cartéis, em monopólios, até mesmo incentivados pela política de leilões em bolsa. Porque o cidadão não pode investir sua poupança de R$ 2 mil num programa de privatização? Isso não interessa aos políticos, eles preferem o modelo chinês, cubano, venezuelano. Há um sopro de renovação ocasionado pelas eleições passadas, mas o grosso do Congresso Nacional está se lixando.
O senhor pode se orgulhar de ter enxergado antes de muita gente metida a sebo a dimensão real e potencial do capitão e deputado federal Jair Bolsonaro na espetacular conquista da Presidência da República, pelo voto direto do cidadão que não suporta mais ter de arcar com os prejuízos econômicos e éticos da política antiga. A seu ver, na Presidência da República, ele se imporá aos preconceitos de uma oposição vil e rasteira ou poderá cair na tentação dos vícios da velha política, amém?Os riscos existem. As barreiras interpostas ao novo governo são imensuráveis. Os grupos de interesses são diversos, estratificados e não quantificados. Isso se dá em função do improviso do governo. Agora é que o governo vai se assenhorear da situação. Isso levará um tempo. A vitória chegou de repente e entrou na sala sem bater à porta. Quanto mais rápido o governo identificar e se mobilizar diante dessas barreiras, mais chances de triunfo terá. Normalmente os grupos políticos se aglutinam em torno de um candidato bem antes das eleições. Isso proporciona ao candidato a possibilidade de se estruturar para governar em caso de vitória. Não foi o que aconteceu com Bolsonaro. Ele marchou sozinho.
A campanha foi impressionante.
Por onde andou acenava para os diversos grupos clamando por apoio e companhia. Poucos acreditavam. E ele venceu sob condições inacreditáveis. Sofreu atentado, campanhas difamatórias, e não tinha dinheiro nem mídia convencional. Observe que no dia do atentado havia uma multidão o seguindo e ele estava sozinho. Sozinho como fez em toda a sua campanha. A partir da vitória é que vem a estruturação. Vamos levar um tempo para poder aferir. Ele tem de se impor à esquerda em todos os segmentos. Mas não se iludam. Ele chegou sozinho em termos de grupos políticos. A massa, mais da metade dos eleitores, está com ele. Outro fenômeno a ser analisado e levado em consideração pelo governo foi a perda dos 10 milhões de votos entre o primeiro e o segundo turno das eleições. Num pequeno prazo de 20 dias, 10 milhões de votos se foram diante da atuação maciça da esquerda. Esse fato não pode ser desprezado.
Que papel será desempenhado neste futuro próximo pela esquerda e pelos partidos tradicionais, derrotados fragorosamente na última eleição e relegados por sua própria decisão a uma resistência histérica e estéril?A esquerda não morreu, nem morrerá, mas será minoria nos próximos anos. Permanecerá viva e atuante. Precisamos esperar para ver como será o comportamento do Congresso Nacional. A partir da atuação dos congressistas poderemos firmar um argumento. A esquerda tem a pauta nacional e está incrustada em todos os segmentos da sociedade brasileira. O único segmento social em que a esquerda não atua é o dos negócios, do agro à padaria da esquina. Eles não sabem como se meter numa área em que a livre-iniciativa, a vontade pessoal e o riscos são os ingredientes principais. O resto, toda a pauta é da esquerda. Vai do meio ambiente,  passando por presidiários, ensino, artes e cultura, música e cinema, feminismo, sexualidade e outras tantas. O novo governo impôs sua promessa de dominar essas pautas com novos projetos, com novas abordagens e novos sonhos. Assim venceu nas urnas. A esquerda vocifera pela mídia. Ela domina os canais da velha mídia. Vai fazer muito barulho, sem, porém, ter mais o apoio da sociedade como tinha outrora. É nessa lacuna que o governo deve entrar e se consolidar.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Como a entrevista de Aleluia ao Blog do Nêumanne é muito extensa, vamos publicar a segunda parte amanhã, e o assunto é a derrocada da mídia. (C.N.)

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