Carlos Chagas
Resta saber quais as sanções que nas próximas horas os Estados Unidos proporão contra o Irã, no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Pelo jeito serão econômicas e militares, na medida de uma suposta iniciativa contra o Banco Central do país dos aiatolás, mais restrições a exportações e importações, incluindo também o assalto e a fiscalização forçada de navios de qualquer bandeira com destino aos portos iranianos. O motivo será saber se transportam material capaz de servir a atividades nucleares, confiscando-os.
Apesar de a Secretária de Estado, Hillary Clinton, haver anunciado o apoio da China e da Rússia, junto com França e Inglaterra, para as sanções, o governo de Pequim ressalvou que não concordará com iniciativas capazes de prejudicar o povo iraniano. A declaração presta-se a variadas interpretações, restando aguardar a reunião do Conselho de Segurança.
De qualquer forma, ficou claro que as potências nucleares deram de ombros para o acordo firmado entre os presidentes do Brasil e do Irã, mais o primeiro-ministro da Turquia. Foi como se eles não se tivessem encontrado, uma demonstração a mais de que o mundo continua dividido entre os que agem e os que conversam. E agem e conversam por irônica singularidade: porque uns possuem bombas atômicas e outros estão proibidos de possuir…
Caindo na real
Durou pouco a euforia do chanceler Celso Amorim diante do acordo de Teerã. Mais uma vez o planeta não se curvou diante do Brasil. Sequer valeu a informação do ministro de que os chanceleres da Rússia e da China haviam elogiado os entendimentos com o presidente Ahmadinejah. Primeiro, porque não foram eles que se dirigiram ao colega brasileiro, mas este quem tomou a iniciativa telefônica de procurá-los. Depois, porque, mesmo com ressalvas, aqueles dois países apóiam as sanções contra o Irã. Ainda não foi dessa vez que o espírito do Barão do Rio Branco baixou no ministério das Relações Exteriores.
Acresce que não terá o menor valor a carta que Amorim pretende mandar aos integrantes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, exigindo que interrompam suas reuniões em Nova York, por conta do acordo com o Irã.
Quanto ao “ministro do B”, Marco Aurélio Garcia, continuou em seus devaneios, imaginando nosso ingresso no grupo G-5 + 1. Assim como em certos clubes fechados, nesse grupo não se pede para entrar: é preciso ser convidado.
Nessa novela de sucessivos capítulos, só o presidente Lula parece manter o bom-senso. Chamado a se pronunciar sobre a iminência de o Conselho de Segurança anunciar sanções contra o Irã, pediu tempo para maturar as notícias, primeiro.
Rescaldos perigosos
Estando o Irã na ordem do dia, vale contar por enquanto a metade de uma historinha que, felizmente, não se transformou em episódio explosivo. Meses atrás, quando o presidente Ahmadinejah estava para chegar ao Brasil, um general da ativa exasperou-se e começou a consultar juristas. Obteve de um deles, ministro de um tribunal superior, a opinião de que o visitante poderia ser preso assim que pisasse o território nacional. Conforme o direito internacional, ele seria réu confesso de crime contra a Humanidade, ao anunciar a disposição de varrer Israel do mapa. Bastaria encontrar um juiz que lavrasse a sentença.
O referido general chegou a estabelecer contacto com o responsável por uma unidade militar, capaz de executar a missão ainda no aeroporto de Brasília. O coronel parece que saltou de banda e comunicou a estranha sondagem a seus superiores. Coincidência ou não, foi para o espaço a singular operação…
Reincidência calculada
Pela terceira vez o Tribunal Superior Eleitoral multou o presidente Lula, por fazer campanha eleitoral antecipada. E nem entrou em pauta, ainda, a representação do PSDB contra o recente programa de propaganda partidária gratuita, onde ficou explícita a postura presidencial favorável à candidatura Dilma Rousseff.
Pelo jeito, as transgressões e as multas se sucederão como as ondas que batem na praia. É perigosa a impressão que o presidente Lula pode estar dando, de reincidir na prática ilegal. Melhor pagar a multa e continuar fazendo campanha? Até porque, quem paga é o PT?
Nos juízos singulares e nos tribunais superiores as sentenças são acrescidas quando se trata de reincidência. No caso de crime eleitoral, a justiça se limitaria a aumentar o valor da multa? Ou poderia aplicar outras penalidades?
Fonte: Tribuna da Imprensa