Janio Lopo - Editor de Política
A transferência do deputado Marcelo Nilo, presidente da Assembleia Legislativa, para o PSB é fato consumado. Ela se dará tão logo seja criada a tal da “janela” pela Justiça Eleitoral que permita a troca de legenda sem correr o risco de ser penalizado por infidelidade partidária. Nilo vai encerrar uma trajetória de mais de 20 anos entre os tucanos baianos. No derradeiro capítulo de sua história no PSDB ele vai deixar escrito na sua lápide política algo como aqui jaz aquele que se negou a fechar alianças com seus tradicionais adversários. O deputado deixa a sigla e um provável barril de pólvora capaz de explodi-la tão logo formalize sua passagem para o campo socialista. Dentro do próprio tucanato há quem preveja uma debandada geral com a atitude de Nilo. São políticos que não admitem a união com o Democratas de Paulo Souto e ACM Neto, embora, como estes, apoiem a candidatura do governador de São Paulo, José Serra, à Presidência da República.
Tucanos de largas e longas asas como Marcelo Duarte, ex-vice-prefeito de Salvador, e o professor Roberto Santos, ex-governador e ex-ministro estariam com os dois pés fora do PSDB. Só em pensar em conviver com fantasmas do passado lhes dá dores de cabeça. Outros quadros de peso podem saltar do barco, a depender do rumo a quem for levada a embarcação. Há de se ressaltar a existência de uma tendência de Nestor e Márcio Duarte, filhos de Marcelo, procurarem também outras alternativas políticas. Sabe-se, a princípio, que o ex-deputado Arnando Lessa continuará rezando pela cartilha dos sociais democratas, mas, neste instante, é impossível dizer até quando. Em comum com seus demais companheiros de partido (ou ex?) é a votação em Serra. O presidente da Assembleia, nesse sentido, está com o PT e não abre. Seu voto é de Dilma Roussef e seu governador Jaques Wagner, a quem já declarou prestar todo o apoio.
Aliás, graças a Wagner, Nilo foi por duas vezes alçado ao comando da AL. Chegou até a pensar em filiar-se ao PT, mas como dizem alguns mais próximos, Nilo tomou juízo e decidiu se escapar de confusão, optando por PSB onde terá menos aporrinhação. Mas tão somente porque os socialistas baianos são deste tamanhozinho assim. Se há barulho no PT, proporcionalmente no PSB a zoadeira é infinitamente maior. Ou era. Afinal, os incomodados com (dês)comandos de Lídice da Mata e Domingos Leonelli optaram por jogar-se ao mar, mesmo correndo o risco de serem “uma farta boia” para os tubarões. Dizem que é preferível uma boa morte a ter que passar pelos que consideram decisões isoladas “dos do PSB no Estado”.
Já no PSDB, apesar da resistência de Nilo e de outros dos seus camaradas, o comando local – Jutahy Magalhães e Antonio Imbassahy – acham que 2010 pode representar o retorno de Paulo Souto ao governo. E já selaram o compromisso de marcharem juntos, inclusive sintonizados com a direção nacional de ambos os partidos que têm levado, antecipadamente, os loros da vitória a Serra ante a derrocada, vista como inexorável da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).
Falar em Imbassahy, corre-se aos quatro cantos do planeta que Nilo não o quer ver nem que a vaca voe. Por mais de uma vez – é o que corre na boca do povo – Nilo tentou tratar com Imbassahy sobre questões partidárias e de sua decisão de tirar o time de campo. Mesmo marcado e sacramento dia e horário, Nilo teria batido com a cara na porta ao chegar à sede do PSDB, no Centro Empresarial Iguatemi. Para quem não sabe, Imbassahy é presidente regional dos tucanos, que tem um general de cinco estrelas a fiscalizá-lo: o nobre deputado Jutahy Jr..
O fracionamento peesedebista pode, de alguma forma, favorecer o PMDB. Quem não vai votar no PT baiano – a maioria – irá para que lado? Ou Souto ou Geddel. Claro. Ambos conhecem as pedras que têm no caminho. São bastante adultos para removê-las e conquistar os preciosos votos da ala antipetista. Ou não?
Fonte: Tribuna da Bahia
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