Evandro Matos
O saldo da mobilização realizada ontem pela União dos Municípios da Bahia (UPB) para protestar contra a queda na arrecadação das prefeituras baianas dividiu prefeitos e governistas. O Palácio de Ondina voltou a contabilizar os ganhos obtidos pelos prefeitos nas últimas semanas, com as garantias do presidente Lula de repor os prejuízos provocados pela queda do FPM,sem contar com o empenho pessoal do governador Jaques Wagner nas discussões para a solução do problema. De acordo com a lista fornecida pela UPB, cerca de 260 prefeitos compareceram ao evento. Com a maioria das prefeituras fechadas, o movimento foi engordado também com as presenças de vereadores, presidentes de Câmaras e secretários municipais. Em torno da sede da UPB, no Centro Administrativo, foram colocadas várias faixas em apoio ao movimento.
Além da queda na arrecadação do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), no documento entregue na Governadoria e na Assembleia Legislativa ontem os prefeitos reclamam também ajuda do governo estadual no transporte escolar para os alunos do segundo grau, o custeio das despesas com segurança pública, nomeação dos delegados concursados e o aumento do valor repassado pelo Programa de Saúde da Família (PSF).
Todos os pontos reivindicados pelos prefeitos foram rebatidos pelos secretários Rui Costa, das Relações Institucionais, e Walter Pinheiro,do Planejamento, que os receberam na Governadoria.
Desde as 9h já era grande a concentração de prefeitos em frente a sede da UPB, que armou uma grande estrutura para recepcioná-los. Vieram prefeitos de quase todos os partidos: PMDB, DEM PP, PR, PSDB, PRP, PSB e PTN. Apenas do PT e PCdoB não foi registrada a presença de qualquer representante
Quase toda a bancada da oposição prestigiou o movimento dos prefeitos: Heraldo Rocha, Gildásio Penedo, Gaban, Rogério Andrade, Clovis Ferraz, José Nunes, Junior Magalhães, Misael Neto (DEM), Sandro Regis (PR), Arthur Maia (PMDB) e João Carlos Bacelar (PTN). Entre os prefeitos, destacaram-se João Henrique (PMDB-Salvador), Tarcizio Pimenta (DEM-Feira de Santana), Euvaldo Rosa (DEM-Santo Antonio de Jesus), Maria Maia (PMDB-Candeias), Rubinho (PSB-Tucano), Antonio Araújo (PMDB-Ourolândia), Orlando Nunes Xavier (PR-Casa Nova), Renato Souza (PP-Conceição do Coité), Fátima Nunes (DEM-Euclides da Cunha), Arcenio Neto (PSDB-Canudos), Ramiro Queiroz (PP-Valença) e Vagner Freitas (PTB-Jussiape).
Antes da marcha, os prefeitos se concentraram no auditório Prefeito Lomanto Júnior para ouvir os rápidos discursos do presidente da UPB, Roberto Maia, do prefeito de Salvador João Henrique, do senador e presidente do PR, César Borges, e do presidente da Confederação Nacional dos Municipios (CNM), Paulo Ziulkoski. Roberto Maia fez um relato da situação em que as prefeituras baianas vem passando e cobrou uma resposta do governo estadual sobre a pauta de reivindicações encaminhada ao governador Jaques Wagner (PT). "Hoje faz 30 fias que estive com o governador com toda a diretoria da UPB para entregar as nossas reivindicações".
Rui Costa: "Vejo apenas 30 prefeitos na minha frente"
Depois dos discursos na UPB, os prefeitos partiram rumo à Governadoria. Com um minitrio puxando a "caminhada histórica", o locutor anunciava as principais reivindicações dos prefeitos: "Hoje é um dia para entrar na história. O Brasil inteiro está vendo isso. Os prefeitos pedem ajuda para os seus municípios". À frente, o presidente Roberto Maia ajudava a segurar uma imensa faixa com os dizeres "os municípios pedem socorro". No percurso se via também várias faixas de municípios que fizeram questão de registrar a presença. "Viva o municipalismo", dizia uma faixa de Ipiaú.
A comitiva dos prefeitos foi recebida em frente ao prédio da Governadoria pelos secretários Rui Costa (Relações Institucionais) e Walter Pinheiro (Planejamento). Acompanhado pela diretoria da UPB, vários prefeitos e o presidente da CNJ, Paulo Ziulkoski, Roberto Maia entregou o documento de reivindicações dos prefeitos aos dois secretários. "Reitero que este movimento não é partidário. Esperamos a resposta das nossas solicitações", colocou Maia. Cercados pelos prefeitos, os dois secretários receberam o documento e prometeram entregá-lo ao governador para avaliação.
Questionado por que os prefeitos não foram recebidos na Governadoria, Rui Costa fez questão de mostrar para a imprensa as cadeiras disponibilizadas para a solenidade. "Eles é que não quiseram entrar. Nós reservamos um local para isso, vocês podem ver", defendeu-se. Além de contestar o presidente da UPB sobre a falta de resposta do governo em relação às reivindicações dos prefeitos, Rui Costa criticou a sua administração, mostrando-se incomodado com o movimento. "No mesmo dia ele teve a resposta do governador sobre as reivindicações. Esse impasse é uma questão de método, a diferença da gestão de Orlando Santiago, do DEM, e essa de agora", comparou Rui.
Já sem a presença dos prefeitos, Rui Costa minimizou o movimento. "Vejo apenas 30 prefeitos na minha frente", declarou. "Vocês vão ver é no próximo ano", declarou um manifestante mostrando uma bandeira da UGT (União Geral dos Trabalhadores). "Em 2010, eles vão ver a força dos trinta prefeitos", reforçou Vagner Freitas (PTB), prefeito de Jussiape, que tem dito publicamente que não assume as despesas com o transporte dos alunos da rede estadual.
Depois de passar na Gover-nadoria, os prefeitos se dirigiram para a Assembleia Legislativa, onde entregaram uma cópia do documento reivindicatório ao deputado Marcelo Nilo (PSDB), presidente da Casa. "O movimento foi supra-partidário. Aqui tinha prefeitos de quase todos os partidos, inclusive da base governista, que também se veem sufocados com a queda e concentração das receitas. Foi equivoco o governo querer parti-darizar o movimento", declarou o deputado Gildásio Penedo (DEM).
João Henrique prestigiou a marcha
Embora um pouco cauteloso nas suas declarações, o prefeito João Henrique fez um discurso inflamado e, como Roberto Maia, também foi bastante aplaudido. O peemedebista criticou o modelo de distribuição de receita entre a União, estados e municípios e defendeu o pleito dos prefeitos. "A população vai nos cobrar os compromissos feitos na campanha. Então, diante dessa realidade, como vamos cumprir isso?", questionou João Henrique, procurando agradar aos outros prefeitos.
Antes de discursar, o prefeito de Salvador foi bastante procurado pela imprensa, quando falou sobre diversos assuntos. Além de comentar os prejuízos que as chuvas deixaram na cidade, ele criticou as intervenções da Embasa que, segundo ele, "quebra as avenidas recuperadas". Ao comentar sobre os efeitos da crise econômica nos municípios, ele falou sobre a situação de Salvador. "Não temos nem como fazer frente às despesas. Fizemos a reforma administrativa, reduzimos o número de secretarias para enxugar a máquina, mas logo depois veio a crise e a queda nas receitas", lamentou.
Contudo, mesmo com a crise, João Henrique disse que pode haver suspensão de investimentos na cidade, "mas as obras de conservação não vão parar". Mesmo sem querer falar de politica, o prefeito disse que o ato promovido pela UPB era justo e que não era contra ninguém. "Mas como foi que o PT cresceu, não foi fazendo essas coisas? Por que agora os prefeitos não podem reivindicar nada?", questionou. O peemedebista também comentou a pesquisa do Ipespe divulgada anteontem que lhe dá o 4º lugar no cenário em que seu nome foi incluído.
Fonte: Tribuna da Bahia
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