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segunda-feira, abril 27, 2009

Deputado usa cota aérea com time do Ceará

Leonardo Souza e Eduardo Scolese
O deputado Eugênio Rabelo (PP-CE) bancou com dinheiro da Câmara 77 passagens para 27 jogadores, dois técnicos e três dirigentes do Ceará Sporting Club, além de parentes e amigos dos atletas e radialistas encarregados de cobrir os jogos do time de futebol.
Os bilhetes são de 2007 e foram emitidos no período em que o parlamentar presidiu o clube paralelamente ao exercício do mandato no Congresso.
O Ceará tem a segunda maior torcida do Estado, ao lado de Fortaleza e Corinthians, e atrás do Flamengo, conforme pesquisa Datafolha de 2007.
Segundo registros das companhias de aviação aos quais a Folha teve acesso, Rabelo gastou ao menos R$ 31,2 mil da cota aérea com esses bilhetes.
Em pelo menos dois casos, os bilhetes coincidem em data e destino com partidas do Ceará, atualmente na Série B do Campeonato Brasileiro.
Há passagens do dia 4 de agosto de 2007, no trecho Fortaleza-Brasília-Fortaleza. Naquele dia, o Ceará jogou contra o Brasiliense, tendo perdido de 3 a 2. Também há bilhetes no mesmo trecho nos dias 2 e 3 de outubro daquele ano.
No dia 3, o Ceará jogou em Brasília contra o Gama. Mais uma vez perdeu, por 4 a 2.
"Teve alguns jogadores que eram meus amigos na época, que eu dei passagens a eles", admitiu o deputado cearense.
Entre os beneficiários dos bilhetes, estão o apoiador Barbieri, o volante Felipe, o atacante Warlley Moreira e o meia Thiago Almeida. Esses jogadores não estão mais no Ceará. A Folha entrou em contato com três assessores do clube, mas nenhum dirigente ligou de volta. A reportagem não conseguiu localizar os atletas.
Outro que viajou com passagem da cota de Rabelo é Marcelo Vilar, na época técnico do time e hoje no comando do Treze, de Campina Grande (PB). Ele disse à Folha que não sabia tratar-se de bilhete pago pela Câmara. Marinheiro de primeira viagem no Congresso, Rabelo se elegeu em 2006. Ele presidiu o Ceará por dois anos e dois meses, entre janeiro de 2006 e março de 2008.
Após uma sucessão de derrotas, ele deixou a presidência do clube sob ameaças. "Não havia mais como aguentar essa pressão. Estou sendo muito humilhado. Na última sexta-feira, chamei meu filho para assistir ao jogo do Ceará e ele me falou que não ia, pois não queria ver ninguém me xingando", disse ele, chorando, em uma entrevista à TV Diário, no dia 12 de março do ano passado.
O episódio envolvendo Rabelo é semelhante ao do deputado Fábio Faria (PMN-RN), que bancou várias passagens de sua cota para a apresentadora Adriane Galisteu e outros três atores. Na época, Galisteu era sua namorada. Ela e outros artistas disseram desconhecer a origem dos bilhetes e afirmaram que, se soubessem, não teriam aceitado.
Nos casos dos dois deputados, as passagens não guardaram nenhuma relação com o exercício do mandato e representaram vantagem pessoal para o congressista. Depois do escândalo, Faria devolveu R$ 21,3 mil à União.
Além de bilhetes para jogadores, Rabelo também bancou com dinheiro da Câmara, somente em 2007, 77 passagens para mulher, filho, filha, genro e nora, ao custo de R$ 30,3 mil.
De sua cota também saíram 24 passagens para o exterior em nome de terceiros, para destinos como Londres, Miami e Buenos Aires. O deputado diz não reconhecer essas viagens nem os beneficiários.
Fonte: Folha de S.Paulo (SP)

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