Certificado Lei geral de proteção de dados

Certificado Lei geral de proteção de dados
Certificado Lei geral de proteção de dados

terça-feira, fevereiro 03, 2009

O presidente Lula em sinuca

Por; Carlos Chagas

BRASÍLIA – Pode o presidente Lula confiar na promessa do senador José Sarney de que apóia a candidatura de Dilma Rousseff ao palácio do Planalto? Afinal, além de jurar que não seria candidato, o novo presidente do Senado e do Congresso também mandou dizer ao governador José Serra não haver-se definido diante da sucessão presidencial, até porque é cedo demais para compromissos. Na presidência da Câmara, o deputado Michel Temer nada tem avançado sobre o tema, lembrando apenas que o PMDB integra a base parlamentar do governo, mas deixando as conclusões para quem quiser.
Vale virar o jogo e lembrar, ao menos para raciocínio teórico, a hipótese de Dilma não decolar como candidata e o presidente Lula ver-se obrigado a ceder ao apelo dos companheiros, contrariando declarações anteriores e aceitando concorrer ao terceiro mandato. Controlado agora pelo PMDB, o Congresso aprovaria a respectiva emenda constitucional tão placidamente quanto aprovou, em 1996, o direito de Fernando Henrique Cardoso disputar o segundo período, quando foi eleito apenas para o primeiro? Pode ser que não, ou, ao menos, o preço se elevará tanto quanto os atuais índices de desemprego.
Numa palavra, apesar da ebulição, das incertezas e das baixarias das últimas semanas, as eleições de ontem para as presidências da Câmara e do Senado deixaram o presidente Lula em sinuca. Quem admitiu foi o ministro da Coordenação Política, José Múcio, para quem sequelas acontecerão na base oficial.
Sarney e Temer são do ramo, provavelmente hoje à tarde, se não tiver sido de madrugada, entoarão cantos de louvor ao presidente Lula. Faltam quase dois anos para a sucessão e nenhum dos dois arriscaria arranhar as relações do partido, detentor de seis ministérios e de centenas de altas funções no governo.
O fundamental, nesse episódio encerrado ontem, envolveu traições, recuos, espertezas e falsos-testemunhos, é que ficam para os próximos meses dúvidas, desconfianças, manobras e até lambanças. Aliás, de parte a parte, porque competência política o presidente Lula possui, e muita. Logo estará recebendo em seu gabinete os novos presidentes da Câmara e do Senado, e tudo serão sorrisos, abraços e apertos de mão.
Acresce continuar o PMDB sendo uma federação de divergências explícitas, não parecendo difícil a qualquer governo entrar em suas bancadas como faca na manteiga. Criará problemas inevitáveis a definição de quem será o peemedebista escolhido pelo Planalto para companheiro de chapa de Dilma. Geddel Vieira Lima? Edison Lobão? Nelson Jobim? Roberto Requião? Sarney e Temer falarão a mesma linguagem na hora da definição? Mesmo no caso da improvável, mas possível reeleição do presidente Lula, será oferecida a vice-presidência ao PMDB?
Em suma, mesmo caracterizado o Congresso como entidade meio amorfa e sujeita a pressões, e não sendo o PMDB propriamente um partido, a sinuca está posta para o chefe do governo.
Que maravilha de crise
Acaba de ser divulgado o lucro do Bradesco: mais de um bilhão de reais em 2008. Menos do que os dois bilhões e picos em 2007, mas, convenhamos, é lucro para ninguém botar defeito. O banco fez o papel dele, dentro das regras financeiras em vigência. Não há que protestar a não ser diante do Banco Central, que permite spreads, taxas sobre qualquer movimentação bancária e juros abusivos sobre empréstimos pessoais, cheque especial e cartões de crédito. Se botam o filet mignon na boca do leão, não haverá como protestarem se ele engole tudo de uma vez.
Terapia administrativa
Tem gente achando não haver sido por coincidência, mas tanto faz. O presidente Lula convocou reunião ministerial para há mesma hora em que Câmara e Senado preparavam-se para eleger seus novos presidentes. O resultado foi os ministros debaterem a crise econômica, o PAC, as contenções e os investimentos enquanto deputados e senadores vibravam-se mutuamente os últimos golpes de tacape e borduna.
Como é proibido participar de reuniões do ministério com os celulares ligados, os ministros mantinham um olho no presidente Lula e na ministra Dilma Rousseff e outro em seus auxiliares, que a todo momento entravam no barracão da Granja do Torto a pretexto de entregar papéis e relatórios, mas, na verdade, informavam sobre o andamento das duas eleições.
Lições de Heródoto
Heródoto, o pai da História, passou anos afastado de Atenas, viajando pelo mundo àquela época conhecido. Deslumbrou-se com o Egito, verificando que dois mil anos o separavam da construção das pirâmides, assim como hoje mais de dois mil anos nos separam dele. O mais singular relato de Heródoto sobre a civilização egípcia, porém, não se referiu à organização social erigida em torno da religião, nem aos fantásticos monumentos que visitou. Ele escreveu para os gregos ressaltando as imensas diferenças culturais que “levavam os homens a fazer pipi sentados, e as mulheres, em pé”...
Com todo o respeito ao tema, conta-se esse capítulo das viagens do historiador a propósito da crise econômica atual. As megaempresas deveriam estar cuidando de retomar a produção, mas apegam-se aos governos de seus países como se tivessem a obrigação de repassar-lhes recursos públicos, enquanto demitem em massa seus trabalhadores. E os governos, que deveriam estar enquadrando as megaempresas, evitando demissões, abrem seus cofres sem fazer quaisquer exigências. Trata-se, realmente, de uma inversão contrária à lógica da cultura atual.
Fonte: Tribuna da Imprensa

Em destaque

Abono extraordinário dos precatórios para professores da rede estadual é sancionado

                                             Foto Divulgação - SINDEDUCAÇÃO : Abono extraordinário dos precatórios para professores da rede ...

Mais visitadas