O esporte do momento em Brasília é torcer pela queda do ministro da Justiça, Tarso Genro. Os boatos de que ele está deixando o governo são diários e, em boa parte, vêm de gente interessada em que a profecia se confirmasse. O ministro tem um enorme talento para comprar brigas. Sua lista de desafetos é ecumênica. Vai da oposição a gabinetes importantes do governo. Tarso é um político que incomoda e um ministro que muita gente gostaria de ver pelas costas. Mas ele não dá demonstrações de que pretenda mudar seu estilo e aposta no respaldo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Desta vez, a principal frente de combate está no PMDB. A bancada do partido no Senado lança olhares cobiçosos para o Ministério da Justiça. Os senadores já emitiram sinais de que aceitariam ceder ao PT a Presidência do Senado, cargo mais importante em disputa no momento, desde que Lula entregasse ao partido a Justiça. Os senadores não perdoam Tarso por ter coordenado a negociação que levou para a base de sustentação de Lula a bancada do PMDB na Câmara. Deputados e senadores disputam o comando do partido. Ao aderir ao governo, a Câmara foi anabolizada com ministérios e cargos de segundo escalão. Mas há outras razões.
O senador José Sarney (PMDB-AP) ficou furioso com a ação da Polícia Federal (PF) que investiga seu filho Fernando. Vê nela uma manobra política do PT, seu adversário na política do Maranhão. E suspeita de participação de Tarso, o ministro petista que comanda a PF. Outro cacique do partido, Renan Calheiros (PMDB-AL), até hoje acredita que Tarso Genro conspirou para afastá-lo da Presidência do Senado, quando foi acusado de ligação com um lobista.
A pressão do PMDB chega num momento em que o ministro já tem brigas suficientes para administrar. Inclusive dentro do governo. Ele entrou em choque com a Advocacia-Geral da União ao contestar um parecer em que o órgão defende que a Lei da Anistia se aplique aos torturadores do regime militar. Tarso discordou publicamente da posição e abriu um debate que dividiu o governo e provocou reações iradas entre os militares.
Ao mesmo tempo, administra a complicada relação entre a PF e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Os policiais federais investigam a participação de arapongas da Abin na Operação Satiagraha, que prendeu o banqueiro Daniel Dantas. Dentro dessa investigação, apreenderam documentos classificados como secretos pela agência de inteligência. O movimento irritou o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Felix, a quem a Abin é subordinada. Os dois ministros tiveram de costurar um acordo, pelo qual os arapongas acompanharão a abertura dos documentos pela PF e poderão retirar do inquérito os papéis que considerarem sigilosos.
Polícia - As operações da PF estão na raiz de boa parte das brigas do ministro. Políticos da oposição e mesmo do governo referem-se a ela como “a polícia de Tarso”, numa tentativa de carimbar as ações como partidárias. Ele nega. “A PF cumpre seu dever institucional e não é subordinada partidariamente a ninguém”, define. Apontado pelos adversários como o homem que controlaria de seu gabinete as operações policiais e usaria a PF como arma, ele garante que não recebe informações reservadas sobre inquéritos em andamento.
Na semana passada, apesar das pressões, Tarso estava tranqüilo. Dava pouco crédito aos esforços para afastá-lo do governo. Apesar das confusões, o presidente sempre deu demonstrações de prestígio a Tarso. Num país em que os políticos se engalfinham por um ministério, Tarso já ganhou quatro de Lula. Primeiro criou e comandou o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Depois, foi ministro da Educação. Saiu da pasta para, a pedido de Lula, assumir a presidência nacional do PT. O partido vivia um momento dramático, atingido pelo escândalo do mensalão.
Tarso assumiu com um discurso duro, propondo a refundação do PT. A passagem pela direção partidária lhe rendeu um de seus mais duros inimigos: o ex-ministro José Dirceu. A briga foi tão dura que, ao deixar o comando do PT, Tarso passou algum tempo refugiado no Rio Grande do Sul. Voltaria a Brasília fortalecido, como ministro de Relações Institucionais e coordenador político do governo. Montou a coalizão de apoio a Lula no Congresso e transferiu-se para o Ministério da Justiça.
Em todo esse tempo, nunca fugiu das brigas. Um de seus segredos é que boa parte delas foi comprada a pedido de Lula. Tarso funciona como escudo e pára-raios do presidente. Tudo isso faz dele um ministro muito difícil de derrubar.
Fonte: Jornal Pequeno
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