Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Até agora são cinco as investigações programadas para saber se a Abin grampeou os telefones e o ambiente do gabinete do presidente do Supremo Tribunal Federal: a primeira, da própria Abin. A segunda, do serviço de segurança do Supremo. Outra, do Ministério da Justiça. Mais uma, da Polícia Federal. Além do Congresso, capaz de instalar uma CPI mista para apurar o escândalo.
A superposição de funções, no Brasil, tem sido uma constante, mas essa baterá os recordes. O grave é que cada instituição trabalhará isoladamente. Uma não saberá o que outra descobriu, mesmo diante da evidência de haver só uma vítima, no caso, o ministro Gilmar Mendes. Passando da teoria à prática, terá a Abin condições de entrar pelo Supremo a dentro, atrás de microfones a essa altura já retirados? O serviço de segurança do Supremo e a Polícia Federal serão admitidos nas instalações da Abin?
O ministério da Justiça utilizará equipes próprias de investigação ou se valerá da Polícia Federal, que por sua vez abrirá suas portas para agentes da Abin? Deputados e senadores porventura designados para a CPI terão acesso aos intestinos do Executivo ou se limitarão a convocar arapongas, agentes, diretores e chefes da Abin e da Polícia Federal? Vão ouvir Gilmar Mendes e integrantes de seu gabinete?
Está prevista para esta semana uma audiência entre o presidente da mais alta corte nacional de justiça e o presidente da República. A queixa, já feita pelo telefone acontecerá ao vivo, parecendo óbvio que Gilmar Mendes protestará com educação, e, mais certo ainda, que o Lula afirmará não ter sabido de nada. Não deu ordens para escutas telefônicas clandestinas, não foi comunicado e estará igualmente indignado. Quer a apuração completa e prometerá punição implacável para supostos culpados. Mais uma vez, sairá incólume.
Do episódio emerge apenas um beneficiário: o banqueiro Daniel Dantas, preso pela Polícia Federal, libertado pelo presidente do Supremo e pivô de toda a confusão, porque terá sido em função dele que os grampos foram instalados e tudo aconteceu. Deve estar esfregando as mãos de felicidade, deixando claro que mexer com ele dá essa lambança toda...
Embolou o meio-campo
Bem que o presidente Lula tentou ajudar quando, dias atrás, convocou o deputado Michel Temer ao seu gabinete para reafirmar apoio à candidatura dele à presidência da Câmara, para o biênio 2009-2010. Claro que, com isso, o presidente garantiria para o PT a presidência do Senado. Haveria a inversão de posições, quer dizer, o PMDB que hoje preside o Senado, com Garibaldi Alves, passaria a presidir a Câmara, com Michel Temer, e o PT, que preside a Câmara, com Arlindo Chinaglia, presidiriam o Senado, com Tião Viana ou outro senador.
O problema é que Michel vem sendo contestado dentro e fora do PMDB, que ele preside. Rita Camata e Osmar Serraglio colocaram seus nomes à disposição do partido e mostram-se dispostos à disputa, que deverá acontecer no âmbito interno antes de fevereiro do ano que vem, quando a Câmara elegerá seu novo presidente. Só que Ciro Nogueira, do PP, em nome do baixo clero imagina seguir os passos de Severino Cavalcanti e quebrar o acordo dos grandes partidos da base oficial.
Abre-se um enigma no meio de um mistério, porém, com a sucessão de Michel Temer na presidência do PMDB. Bem que ele gostaria de imitar o dr. Ulysses e tornar-se bi-presidente, assumindo a Câmara sem deixar o partido. A hipótese parece impossível, e o próprio Michel comprometeu-se com o ex-deputado e presidente de honra, Paes de Andrade, para tornar-se o novo presidente de fato.
Só que outros candidatos existem, como a vice-presidente, Íris Resende, e o deputado Eliseu Padilha, da seção gaúcha. Michel não quer desagradar ninguém, pois precisa de todos para disputar a Câmara. Sua primeira intenção era, dois dias depois de eleito presidente da Câmara, convocar uma convenção extraordinária do PMDB para a indicação do novo presidente. Agora já fala em deixar para dois ou três meses depois de sua posse na Câmara a escolha no partido. Isso cria dúvidas e animosidades, a começar por Paes de Andrade, sem esquecer os outros dois.
Há mais complicadores: a bancada do PMDB no Senado, amplamente majoritária, não anda satisfeita com a possibilidade de entregar a presidência da casa ao PT, minoritário, pouco se importando muitos senadores peemedebistas com o acordo do troca-troca com a Câmara.
Acresce que Tião Viana não conta com a unanimidade de seus companheiros. Talvez nem com o apoio integral do presidente Lula, que poderia preferir Aloísio Mercadante. Nessa hora, quem se prejudica é Michel Temer, na Câmara, porque em represália o PT poderia votar em Ciro Nogueira ou outro. Em suma, a trapalhada parece instalar-se na ante-sala da nova sessão legislativa.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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