Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Há quem sustente que sempre foi assim, isto é, que a corrupção constitui presença permanente na História do Brasil. Apenas, tanto nos períodos de autoritarismo quanto nos de liberdade, a imprensa deixava de denunciar os escândalos como deveria. Outros, porém, preferem identificar de ano para ano, ou de governo para governo, o avanço da transformação da coisa pública em coisa privada, ou seja, da sofisticação da roubalheira como conseqüência natural da impunidade e do avanço da tecnologia, tanto quanto da perda de valores morais por um número cada vez maior de cidadãos empenhados em levar vantagem em tudo. Se os outros fazem, por que todos deixarão de fazer?
Importa menos, porque a verdade é que jamais se teve notícia de tanta corrupção no País como agora. Não se passa um dia sem que novas denúncias cheguem à opinião pública, envolvendo práticas criminosas no setor privado, no setor público e, geralmente, entre os dois. Geograficamente, vemos gente roubando do Rio Grande do Sul à Amazônia, do Ceará ao Mato Grosso, do Rio de Janeiro a São Paulo.
As elites e as camadas menos favorecidas aplicam golpes de toda espécie, maiores e menores, tanto pela esperteza quanto pela violência. Não há um setor capaz de escapar à avidez dos corruptos, da educação à saúde, dos transportes às obras públicas, das comunicações ao comércio, à indústria e aos serviços. Do Legislativo ao Executivo e ao Judiciário, também.
Entre políticos e governantes, empresários e funcionários públicos, dos bem-nascidos aos miseráveis, a palavra de ordem parece uma só: promover e intermediar negócios escusos, corromper, assaltar, traficar, sonegar e, em maior ou menor grau, enriquecer. Sempre à custa dos cofres públicos e da sociedade.
É bom tomar cuidado, porque a corrupção se institucionaliza a passos rápidos. Quem não rouba, quem não se envolve em maracutaias, quem não aproveita a oportunidade de burlar a lei, passa a ser considerado anacrônico. Será que um dia assistiremos à rebelião dos trouxas, dos que não roubam? Mas, existirão eles em número suficiente para explodir as atuais estruturas postas em frangalhos?
O círculo se fecha
Significativa foi a reação de Aécio Neves em entrevista à televisão, no fim de semana. Ele parece haver chegado ao limite de sua boa vontade e de sua tolerância diante do governo e do PT. Mesmo preservando relacionamento amável com o presidente Lula, o governador mineiro chegou ao limite.
Não dá para aceitar a postura dos companheiros, que apenas admitem alianças com outros partidos se for para serem apoiados, jamais para apoiar. A armação imaginada em torno da Prefeitura de Belo Horizonte faz água por todos os lados, tornando-se difícil o entendimento entre PSDB e PT, mesmo sob o compromisso de o partido do presidente da República indicar o candidato ao governo de Minas, em 2010.
Transferir-se para o PMDB é hipótese cada vez mais remota, para Aécio Neves. Ainda que tivesse garantida sua candidatura presidencial pelo partido que o avô ajudou a fundar, só por milagre assistiria o presidente Lula e o PT fechando com ele. Ainda que sabendo de antemão da derrota de um candidato ou candidata do partido oficial, eles não abrem mão do sonho. Ou estariam, desde já, envolvidos no pesadelo do terceiro mandato?
Tanto faz, porque, do jeito que as coisas vão, sobrará para Aécio Neves uma única alternativa, ironicamente em condições de selar por antecipação o retorno dos tucanos ao poder: compor-se com José Serra e aceitar a vice-presidência na chapa encabeçada pelo governador paulista. Uma aliança entre Minas e São Paulo, nessa possível dobradinha puro-sangue, deixaria os companheiros desesperados...
Fonte: Tribuna da Imprensa
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