BELO HORIZONTE - Em um desdobramento da Operação Pasárgada, a Polícia Federal (PF) prendeu novamente ontem o prefeito de Juiz de Fora (MG), Carlos Alberto Bejani (PTB), e outras 12 pessoas suspeitas de integrar um esquema de liberação irregular de verba do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). A nova ação da PF, batizada de Operação De Volta para Pasárgada, é resultante da análise do material apreendido em abril, quando foram presas 50 pessoas, entre elas o próprio Bejani, outros 16 prefeitos e um juiz federal.
O suposto esquema teria provocado um rombo nos cofres públicos estimado em mais de R$ 200 milhões nos últimos três anos. Os mandados de prisão - sete de preventiva e sete de temporária - foram expedidos pelo Tribunal Regional da 1ª Região e cumpridos nas cidades de Belo Horizonte e Juiz de Fora.
Um dos mandados referia-se ao ex-gerente da Caixa Econômica Federal (CEF) Francisco de Fátima Sampaio, que já havia sido preso preventivamente no final de maio. Foram expedidos também 47 mandados de busca e apreensão, além do arresto de vários veículos de luxo e imóveis na capital mineira, em Juiz de Fora e Cabo Frio, no Rio.
Segundo o delegado regional de Combate ao Crime Organizado, Alessandro Moretti, as novas prisões atingiram o "núcleo central da Operação Pasárgada". Além de Bejani, foi preso preventivamente também Paulo Sobrinho de Sá Cruz, apontado pela PF como principal lobista do esquema.
Sá Cruz também foi preso na primeira operação e é alvo de duas denúncias do Ministério Público Federal (MPF). A nova fase da Pasárgada apura relações entre a prefeitura de Juiz de Fora e de outros municípios com empresas prestadoras de serviços contratadas sem licitação.
Numa empresa investigada, em Belo Horizonte, os policiais apreenderam US$ 700 mil em ações ao portador de empresas sediadas no Uruguai (offshores), cuja autenticidade ainda será comprovada, segundo a PF. Até o final da tarde, haviam sido apreendidos também 10 veículos e aproximadamente R$ 230 mil em espécie.
Dinheiro
Bejani foi preso em casa, por volta de 6h. Segundo Moretti, as investigações colheram indícios da procedência ilícita do montante de R$ 1,120 milhão em espécie encontrado na residência do prefeito quando de sua primeira prisão. A PF encontrou indícios de fraude na versão apresentada por ele, que alegou que os recursos eram provenientes da venda da Fazenda Liberdade, no município vizinho de Ewbank da Câmara.
De acordo com Bejani, a propriedade (de 92,41 hectares) foi vendida por R$ 1,2 milhão ao advogado Marcelo Abdalla da Silva. Em depoimento na PF, Abdalla da Silva confirmou o negócio, mas não reconheceu o dinheiro apreendido na casa do prefeito e foi indiciado.
Posteriormente, o advogado deu entrevista à imprensa local afirmando que estava recebendo ameaças para não divulgar à PF informações sobre o esquema. "Ele (o prefeito) alegou que era um contrato de compra e venda de uma propriedade. Nós obtivemos indícios, provas, de que não foi esse contrato que deu origem àquele dinheiro", disse o delegado.
"Nós desconsideramos essa alegação. Por enquanto, ao nosso ver, esse dinheiro não tem procedência comprovada. Ou seja, ele pode ser produto de ilícito". A Câmara Municipal de Juiz de Fora já instalou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o prefeito pelas suspeitas de liberação indevida de recursos do FPM, desvio de verba pública e enriquecimento ilícito.
TCE
Cerca de 200 agentes federais participaram da operação em Minas. Em Belo Horizonte, a PF cumpriu diligência na sede do Tribunal de Contas do Estado (TCE). A participação no esquema de um funcionário graduado do tribunal está sendo investigada. Segundo Moretti, a diligência tinha por objetivo "buscar novos elementos".
A assessoria de imprensa do TCE informou que os agentes, tiveram acesso às dependências da sede, "leram documentos e foram embora". Segundo a assessoria, os policiais já estiveram "por várias vezes" no tribunal, que desconhece qualquer eventual irregularidade praticada por algum funcionário, mas vai colaborar com a investigação da PF, que corre sob sigilo.
Contatado, o advogado Marcelo Leonardo, que representa o prefeito de Juiz de Fora, disse que não podia falar. Leonardo Isaac Yarochewsky, que representa Sá Cruz, disse que não havia tido acesso ao teor do mandado expedido contra seu cliente. O advogado, no entanto, considerou que não havia razão para que Sá Cruz fosse preso preventivamente.
"Ele compareceu todas as vezes que foi intimado, não demonstrou nenhuma rebeldia, não está atrapalhando a investigação, tem residência fixa, tanto que foi preso em casa", argumentou, observando que estuda um recurso. O advogado do ex-gerente da CEF não foi localizado.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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