Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Pelas preliminares verificadas até agora, surpresas poderão acontecer nas eleições municipais de outubro, com ênfase para as prefeituras das capitais. Porque prevalece a máxima de que o povo não é bobo. As lambanças feitas pelos chamados grandes partidos, aqueles que se julgam os reis da cocada preta, começam a sugerir inusitados. Imaginando-se acima do sentimento popular inebriado uns pela popularidade de Lula, outros, ironicamente, pelas perspectivas da sucessão de 2010, governistas e oposicionistas arriscam-se a profundas frustrações.
Tome-se Belo Horizonte. Procurando cimentar sua candidatura presidencial, o governador Aécio Neves, do PSDB, ofereceu sua própria sucessão ao PT, na pessoa do prefeito Fernando Pimentel, desde que os companheiros aceitassem Márcio Lacerda, do PSB, para a prefeitura da capital do estado. No mesmo balaio, caranguejos, gatos, urubus e minhocas. Não podia dar certo, como não está dando.
O PT nacional rejeitou o acordo, os tucanos paulistas torceram o nariz e o PMDB sente-se alijado. O presidente Lula apóia os caciques de seu partido às segundas, quartas e sextas, mas, nas terças, quintas e sábados, estimula o governador mineiro. Domingo, fica pensando na trapalhada em que se meteu.
No Rio, de tanto buscar a conciliação, o governador Sérgio Cabral acaba de mudar de candidato em plena subida do morro. Troca Alessandro Molon por Eduardo Paes. O PT se insurge, o PMDB salta de banda, os pequenos partidos insistem em Jandira Feghali, enquanto Fernando Gabeira joga para o alto um competente mandato de deputado.
Pior fica a confusão a partir do ninho dos tucanos, em São Paulo. José Serra insiste na reeleição de Gilberto Kassab, do Democrata, pensando na aliança de 2010. Para isso, despreza a pole-position que Geraldo Alckmin ostentava para unir o PSDB, coisa que favorece Martha Suplicy, do PT.
Cuidado com Paulo Maluf, capaz de levar vantagem, enquanto Aldo Rebello mede a distância do pulo nada impossível.Com uma ou outra exceção, é o que acontece na maioria das capitais estaduais. Confusão. Estamos em junho, falta menos de quatro meses para as eleições, e poderão emergir das urnas resultadas em condições de frustrar todo mundo. Até os eleitores.
Semana quente
A mais recente denúncia de escândalo entrará em ebulição na semana que começa amanhã. A venda da Varig por 24 milhões de dólares, há dois anos, repassada agora por 320 milhões, faria corar um frade de pedra, se eles ainda existissem. As acusações visam atingir a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, na alça de mira do País inteiro, na medida em que sua candidatura presidencial é sabotada no próprio PT. Tem até um chinês na história, mais para satânico "Dr. No" do que para detetive Charlie Chan.
Quarta-feira, no Senado, os principais personagens dessa trapalhada começarão a depor, inclusive o advogado-compadre do presidente Lula, que desmente haver recebido cinco milhões de dólares para defender os interesses do grupo americano comprador da outrora maior empresa nacional de aviação.
A gente fica pensando se sempre foi assim ou se, apenas, estamos desmemoriados, porque toda semana explode uma nova acusação de corrupção na periferia ou até no âmago do governo. A sorte do deputado Paulo Pereira da Silva também se decide esta semana, com a formalização do processo de sua cassação no Conselho de Ética da Câmara. A CPI dos Cartões Corporativos foi sepultada sem sequer tomar conhecimento do tal dossiê sobre gastos do ex-presidente Fernando Henrique, mas, nos pastos da Amazônia, bois estarão sendo caçados e laçados a pedido do ministro Carlos Minc.
Desequilíbrios
Senadores do governo procuraram o líder do PSDB, Arthur Virgílio, para convencê-lo de que a ex-diretora da Anac, Denise Abreu, é desequilibrada e não merece ser ouvida no Senado sobre as denúncias de escândalo na venda da Varig. O parlamentar amazonense quase desmaiou, imaginando estar o Brasil próximo da dissolução como país organizado. Por quê?
Porque, como retrucou, se a cidadã é desequilibrada, como foi nomeada e permaneceu anos na direção da Agência Nacional de Aviação Civil, por decisão do governo Lula? Tiveram coragem de nomear uma desequilibrada para cuidar do tráfego aéreo, quer dizer, da vida de milhões de passageiros voando todos os dias pelo céu?
Fonte: Tribuna da Imprensa
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