Por coincidência ou não, foram publicadas nos últimos dias na imprensa baiana referências ao governador Jaques Wagner que significariam um certo alheamento em relação ao exercício do poder, permitindo que fatos ocorressem à sua revelia. Comparado ao longínquo Pôncio Pilatos e ao bem mais próximo Waldir Pires, que depois de uma vitória histórica em 1986 acabou contribuindo para a volta do carlismo, Wagner estaria abrindo mão da prerrogativa de influenciar e decidir como supremo magistrado do Estado. Na Assembléia Legislativa, poucos falam abertamente na questão, mas os que preferem o anonimato, certamente temerosos de despertar a fúria do leão, entendem que Wagner está em meio a um processo de isolamento que poderá pôr em risco sua reeleição ou qualquer grande projeto político que alimente. “Com um ano e pouco de governo”, disse um experiente deputado da base governista, “já se forma uma romaria atrás do ex-governador Paulo Souto, e o ministro Geddel recebe toda segunda-feira, na sede da Codevasf, prefeitos e vereadores de todo o interior”. Segundo esse parlamentar, o governo “atua pouco na área administrativa e não faz política com os municípios”, acreditando que teses nacionais é que prevalecerão na próxima eleição. Além de não estar recebendo prefeitos para conhecer e discutir seus problemas, Wagner estaria permitindo que as eventuais ações governamentais no interior se dêem através de associações, sindicatos e mesmo células da Igreja Católica, instâncias que, em última análise, têm forte ligação com o PT. “Nunca vi uma eleição municipal como essa, em que ser ou não ser governo não faz a menor diferença”, disse outro parlamentar da base aliada, também de muitos mandatos, que por conta própria reportou-se ao governo Waldir Pires. O PMDB, partido de Waldir na época, disse, “tinha profundo enraizamento municipal e ele fracassou. Hoje, nos 417 municípios, o PT não disputará com chances de vitória em mais de 30. É um erro de avaliação de Wagner pensar que vai ganhar sem ter prefeitos”. Confrontado com o fato de que o atual governador foi eleito praticamente sem o apoio de prefeituras, o parlamentar argumenta: “A eleição dele foi atípica e decorreu da fadiga do carlismo e do efeito Lula. Esses fatores deixaram de existir”. (Por Luis Augusto Gomes )
À espera de “autorizações”
Entre os deputados que assumem suas declarações, Aderbal Caldas (PP), a menos de uma hora de levar pela primeira vez um grupo de dez prefeitos a uma audiência com Wagner, na última terça-feira, disse à Tribuna que está sendo “bem tratado”, embora “nada ainda tenha se produzido em termos de obras”, situação que espera reverter daqui para a frente. Gilberto Brito (PR) garante que também recebe boa assistência do governo. “Se me queixasse, estaria mentindo”, sintetizou. João Bonfim, que é do DEM mas faz parte da base do governo, informa que seus pleitos “estão sendo acatados e analisados”, sendo grande sua “expectativa” em torno da concretização. Citou projetos a cargo da Conder, cuja presidente, Maria Del Carmen, o havia recebido na última segunda-feira, e disse que “a sinalização é positiva” para a “fase de autorização” em que ingressarão. Sua única reclamação prende-se à segunda etapa da Barragem da Cristalândia, no Rio das Contas, em Brumado, que já dispõe de R$ 8 milhões na Caixa Econômica mas ainda não teve a licitação realizada depois que o contrato com a construtora foi suspenso. Ele não acredita em motivação política para o impasse, apesar de seu candidato à reeleição, o prefeito Eduardo Vasconcelos (PSDB), ser adversário da possível candidata Marizete Pereira (PMDB), deputada estadual e mulher do vice-governador, Edmundo Pereira. Outro parlamentar que prefere falar reservadamente critica o secretário das Relações Institucionais, Rui Costa, que seria o articulador político de Wagner. “Ele pega um avião e vai sozinho a cidades da região do sisal, como Valente, Serrinha e Quijingue, não leva um deputado, não diz nada ao prefeito. Às vezes faz uma comunicação pró-forma, mas nós não participamos. Dizem que ele está preparando uma candidatura ao Senado em 2010”. Com relação a obras, a região, que tem um milhão de habitantes, estaria também desassistida, segundo afirma o parlamentar. “Até agora, as reivindicações não saíram do papel. Temos prédios inacabados de escolas em Queimadas, São Domingos e Santaluz, enquanto as escolas em funcionamento continuam superlotadas”. (Por Luis Augusto Gomes )
O risco nas “bolas divididas”
O rosário de desilusões se desfia na bancada de apoio ao governo. “A base é frágil, e a ausência de política cria um vazio de poder inacreditável”, afiança outro integrante da maioria, que vê uma “divisão profunda” no PT e não acredita que o PMDB faça menos de 150 prefeitos em outubro. “Numa bola dividida com o PMDB, PP e PR unidos, o governo não vai ganhar uma na Assembléia, como aconteceu há pouco com a Controladoria”, disse, referindo-se à retirada de pauta de um projeto do governador que instituiria a Controladoria Geral do Estado. Para esse deputado, a polarização PT-PMDB ditará as eleições municipais, mas com uma peculiaridade: enquanto o partido de Wagner não cresceu no Estado, o PMDB arregimentou seus novos quadros dando-se ao luxo de, mediante pesquisas, selecionar os mais fortes e populares. “Temos ainda o caso de Salvador, que vai dar muita dor-de-cabeça ao governador, e, logo depois, a eleição da mesa da Assembléia”. Em 2007, Wagner bancou o nome do tucano Marcelo Nilo, mas em 2009 precisará de muita competência para ter na presidência da Casa um nome que seja 100% afinado com ele. “Fazer política” é a palavra de ordem, na opinião do deputado. E isso significa “receber prefeitos, ver as injunções de cada um, dizer que vai dar pouco, mas vai dar, enfim, viver a vida da cidade”. Sugerindo o que pode acontecer se as coisas continuarem como estão, acrescenta: “Política é mostrar solidariedade, não é ignorar a pessoa e esperar que ela seja solidária no futuro. Aliás, isso é da vida, não é só da política”.
Quadro faz gosto à oposição
A oposição se delicia diante das aparentes dificuldades do governo com a fidelidade de sua base. “É impressionante”, ataca o deputado Rogério Andrade (DEM). “Nos governos passados, essa situação só aconteceu na fase final de 16 anos de poder, quando houve um desgaste natural. Antes, as questões e disputas internas eram conduzidas de forma muito hábil. Agora, os problemas começaram a correr já no primeiro ano do governo”. O governador, segundo Rogério, foi recentemente a Santo Antônio de Jesus e quem assumiu a festa foi o prefeito Euvaldo Rosa, pois “os partidos aliados dele – PT, PCdoB, PV, PSDB e PMDB – estavam inteiramente desarticulados”. O prefeito teria até mudado a programação e dito, em discurso, que, apesar de serem de partidos adversários, “Santo Antônio estaria de braços abertos” para Wagner, “desde que levasse benefícios para o município”. O deputado disse que há “casos semelhantes” em diversos municípios. Integrante do DEM, mas, como se comenta na Assembléia, alinhado ao PMDB, onde já se encontra seu pai, o prefeito Misael Aguilar, de Juazeiro, o deputado Misael Neto preferiu a ironia ao ser indagado sobre a atenção dispensada aos parlamentares da base governista: “Estão sendo tão bem tratados que dia após dia estão aí defendendo o governo”.
Fonte: Tribuna da Bahia
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