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domingo, dezembro 02, 2007

Entrevista - Charles Saba, instrutor da SWAT americana

Felipe Sáles
Armado com colete de titânio, óculos à prova de balas e algemas cor de rosa para melhorar a visibilidade do preso, o coronel Charles Saba - diretor da US Police Istructor Team e instrutor oficial da Swat (a polícia de elite norte-americana) - esteve esta semana no Rio participando da primeira etapa de uma convenção que poderá redefinir a situação dos presídios brasileiros. Além de treinar a elite dos EUA, ele é membro do Comitê Permanente da América Latina, órgão da ONU criado para atualizar as regras mínimas de tratamento de prisioneiros, criadas em 1955. A novidade começou a ser discutida na última semana e, segundo Charles, poderá acarretar até em sanções econômicas ao Brasil. Esse norte-americano de 53 anos, que fala cinco línguas e conhece boa parte dos batalhões da América Latina, diz sem titubear que a polícia do Rio é uma das melhores das Américas. Saba sabe o que fala: ele é um dos instrutores do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Em entrevista exclusiva ao JB, o coronel defende a oficialização dos bicos para combater a corrupção e rasga elogias à tropa de elite da PM carioca: "Se você tem medo, chama a polícia; se a polícia tem medo, chama o Bope".
Quais os objetivos do congresso no Rio?
Definir as regras mínimas para o tratamento do preso, como direito à defesa, visitas. Como se fosse uma constituição que rege a vida deles enquanto estão condicionados. Hoje em dia os EUA torturam presos em Guantánamo, e isso vai ser muito ruim para as próximas gerações. Vai perdurar por bastante tempo.
E nas cadeias brasileiras: as torturas são as condições às quais os presos são submetidos?
Aqui existe outro tipo de maus tratos, celas para 20 presos concentram 50, uma garota que é presa junto a homens...um tipo de evento que, se continuar, poderá acarretar em sanções. Estamos atualizando as regras mínimas, que datam de 1955. Começamos a tratar disso agora e esse processo termina mais ou menos em 2009. Em 2010, haverá a reunião das Nações Unidas em Salvador, na Bahia. Vamos definir as condições mínimas como todo preso ter direito a um ambiente iluminado, mas tendo de ressarcir a vítima. Deveres, obrigações e direitos.
Quais poderão ser as sanções?
De diversos tipos, sem excluir as econômicas. Mas as regras mínimas serão definidas de acordo com a realidade de cada país. O Haiti, por exemplo, não tem as condições que a Finlândia teria. As regras mínimas sofrerão um pouco de alterações em relação às pessoas e ao país. Mas o preso terá de ter atendimento médico, acesso a especialistas...
Haverá prazo para os governos se adequarem?
Sim, mas curto, menos de um ano. No caso de um preso que fica numa cela durante 24 horas sem iluminação, é muito fácil consertar isso: basta colocar uma lâmpada. Não estou falando de reestruturar a área de execução penal de cada país, apenas que cada país tem de se adequar. O preso terá obrigações e deveres.
Mas como fica, por exemplo, a superlotação nas penitenciárias, já que não daria para construir novas celas em tão pouco tempo?
É um problema que está sendo tratado no congresso também, debatido. Desde levar o preso ao tribunal até as celas superlotadas. Nesses casos, o prazo poderá ser estendido a dois anos. A superpopulação é algo que existe em muitos países como EUA e França. A ONU dará mais tempo. Braceletes eletrônicos também são soluções que poderão se tornar uma realidade amanhã.
Como foi sua experiência como instrutor do Bope?
O Bope tem muito o que ensinar e pouco o que aprender. O Bope é uma força policial das mais avançadas em progressão em áreas de risco. O que o Bope faz eu conheço e poucas polícias fazem do jeito que eles fazem. E eles fazem muito bem. Agora, fazem muito com pouco, enquanto o norte-americano faz pouco com muito. O Bope trava combates quase que diariamente. Um policial nos EUA passa 30 anos e nunca saca a arma para atirar. Em Orlando, estamos há dois anos e dois meses sem que um policial dê um tiro.
Nas polícias de elite da Europa e dos EUA, os batalhões têm cerca de 100 policiais. No Bope são mais de 400. Com tanta gente é possível ser uma tropa de elite?
Sim. Lembre-se de que a demanda é diferente nos países. Na Europa não há um morro com traficantes fortemente armados. Um assaltante em Orlando, por exemplo, só tem 180 segundos para sair do local do crime porque em três minutos a polícia vai estar lá. E a pena por porte de arma ilegal é muito rígida. Se você rouba só anunciando o assalto, são seis anos de reclusão; se atira, mais 20; se acerta, é prisão perpétua.
Quer dizer que a eficiência policial depende das instituições de cada país?
Depende do apoio da população. A polícia nada mais é do que homens fardados e pagos para fazer o dever de todos nós. A polícia é só uma parte de nosso desejo como sociedade.
Nos EUA, como aqui, a polícia recebe treinamento do Exército?
Não, a polícia é treinada pela polícia. O treinamento do Exército é específico para o combate da defesa da nação, já o policial é na defesa do cidadão. No Rio a polícia é treinada por várias entidades, incluindo o Exército. Qualquer treinamento é bom, desde que haja algum valor policial. Você viu no filme "Tropa de Elite", em que o capitão joga a comida para o policial comer? Eu não vejo nenhum valor naquele treinamento.
Mas acha necessário o treinamento militar no Rio?
Não, eu não acho nem desacho. O que requer esse tipo de treinamento é a realidade de cada local. Daquele tipo de crime que está ocorrendo. Então, certas situações nos EUA, no passado, houve a Guarda Nacional, uma guarda militar que entrou nas ruas para ajudar a polícia, onde ela não consegue atuar. O Bope tem a função de... tipo assim: se você tem medo, chama a polícia; se a polícia tem medo, chama o Bope. Então, é mais ou menos uma conseqüência do grau de periculosidade que existe naquele local.
O que o Senhor acha do blindado da PM, o caveirão?
Em Orlando, que está há 26 meses sem ouvir um tiro, tem caveirão. Não só um, mas vários. O caveirão é mais uma ferramenta que a polícia tem. Há situações onde você precisa usar uma viatura blindada para evitar mortes. Confesso que esses homens têm uma coragem que eu não teria todo dia. Então, o caveirão é usado em situações de alto risco, sim, e deve continuar sendo. O custo de um homem bem treinado é alto e quando você perde um homem bem treinado, perde um homem que custou muito para a sociedade.
Há uma idéia de seita em torno dos soldados que tentam entrar para o Bope?
No Bope existe uma cultura do moderno guerreiro, e eles são guerreiros modernos. Eles são aqueles que trazem luz aos cantos escuros da sociedade. Onde eu e você não temos coragem de ir. Eles vão onde nós não vamos. Eles são o desejo da sociedade de levar luz aos cantos obscuros da cidade.
Como diminuir a corrupção policial no Rio?
(Profundo respiro...) Esse é um tema um pouco mais difícil de trabalhar. Há várias coisas que podem acabar com uma boa parcela da corrupção. Não vai eliminar, claro. Uma coisa que se pode fazer é aumentar o salário do policial. Aumentar não necessariamente dos cofres públicos, mas deixar ele fazer o bico, desde que esteja fardado, representando o Estado. Ele coloca mais dinheiro no bolso, quase um bico oficial e, como está fardado, a população vê mais polícia na rua. Aumenta a sensação de segurança. É assim que fazemos o bico nos EUA. Dê condições para o policial do Brasil trabalhar e garanto que ele será um dos melhores.
Fonte: JB Online

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