Publicado em 7 de janeiro de 2023 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
O presidente Lula reuniu ontem os seus 37 ministros para traçar as linhas básicas de ação e recomendar a observância de um programa de governo que não inclua divergências de pensamento entre os integrantes da equipe. A reunião foi importante, mas assinala principalmente que presidente da República não é para arbitrar divergências que surjam, pois assim perderia um tempo enorme em tal atividade.
Não é função do presidente da República tal sobrecarga. Pode haver arbitragem na proposição de projetos, isso sim. Inclusive porque a grande maioria desses projetos teria que passar pelo Congresso Nacional, onde inevitavelmente recebe emendas de todo o tipo, refletindo interesses diversos numa etapa cuja importância o presidente Lula realçou ao recomendar aos integrantes da equipe ministerial toda atenção possível aos deputados e senadores.
APOIO – Chegou até mesmo a dizer – como a GloboNews transmitiu – que o governo depende mais de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco do que Pacheco e Lira dependem do Planalto. Com isso, indiretamente, revelou o seu apoio aos atuais presidentes das duas Casas do Legislativo. Problemas surgiram na véspera da reunião, como as declarações do ministro Carlos Lupi sobre a Previdência Social e as reportagens publicadas na imprensa sobre a ministra do Turismo, Daniela Carneiro.
Lupi, ao meu ver, concretamente, não anunciou projeto de governo para alterar a reforma da Previdência Social. Ele manifestou a sua opinião e talvez o fato que mais tenha incomodado os setores empresariais e administrativos foi a afirmação que o INSS não possui déficit como sempre ressaltam os setores conservadores.
A questão primordial está no projeto global de governo que precisa ser traçado sobretudo para que os ministros e ministras possam segui-lo e cumprirem as suas metas. O presidente da República deve traçar o projeto integral de seu governo dividindo-o em etapas cuja classificação decorrerá da prioridade atribuída a cada um. O combate à fome, por exemplo, é a prioridade máxima do governo vitorioso nas urnas e que teve esse tema como a sua principal bandeira. Aliás, a centralização das decisões por parte do governo é focalizada em reportagens de Felipe Frazão e Weslley Galzo, edição desta sexta-feira de o Estado de S. Paulo.
PREÇOS DOS ALIMENTOS – Destacando que a inflação encontrada pelo IBGE ao longo dos últimos quatro anos não refletiu a realidade, conforme já escrevi, reportagem de Mauro Zafalon, Folha de S. Paulo, com base em dados da FIPE, Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, assinala um aumento de 57% no preço dos alimentos, item fundamental da despesa da população brasileira. Portanto, por exemplo, o índice de 5,4% encontrado em 2022 é muito pequeno comparado à verdade dos fatos.
A Diretoria do IBGE foi exonerada. A nova administração deve efetuar pesquisas diretamente vinculadas ao consumo popular e não se prender apenas aos preços mínimos dos supermercados para produtos iguais. Para praticar os preços mínimos é preciso ir a três ou quatro supermercados por dia. Os pesquisadores podem fazer isso, já que é o seu trabalho. Mas os consumidores, em 90% dos casos, não poderão fazê-lo. E comparar os preços mínimos contribui para reduzir a realidade refletida nos preços em geral.
REDUÇÃO ARTIFICIAL – Além disso, a redução artificial do preço da gasolina e do diesel entrou para pressionar para baixo a inflação, mas o IBGE não levou em conta o preço dos aluguéis e os preços dos remédios nas farmácias e drogarias.
A matéria publica uma relação mostrando o aumento de preços em cerca de 40% produtos do consumo alimentar. Tenho a impressão de que essa relação deve ser lida pelos ex-dirigentes do IBGE, além, é claro, de todos os leitores, sobretudo os que lutam para alimentar a si e suas famílias.
SAQUES NA POUPANÇA – Excelentes reportagens de O Globo e da Folha de S. Paulo, com base em dados do Banco Central, revelam que em 2022 os saques nas cadernetas de poupança superaram os depósitos na escala de R$ 103 bilhões. Foi o recorde que percentualmente superou o início da série comparativa a partir de 1995. No O Globo, a matéria é de Renan Monteiro. Na Folha, de Vinicius Torres Freire
Os motivos principais, é claro, decorrem da incidência inflacionária e do endividamento das famílias, uma vez que os juros sobre os endividamentos é infinitamente maior que o rendimento das cadernetas. Outro fator assinalado por Renan Monteiro está no fato de a poupança ter rendido no ano passado em 12 meses a taxa referencial de 7,9%, enquanto o índice de aplicação nos títulos do Tesouro pela Selic rende no mesmo período 13,75%.