Publicado em 19 de março de 2024 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
A reportagem exibida no último domingo no Fantástico, na TV Globo, sobre a situação de calamidade em que se encontram os hospitais federais no Rio de Janeiro revela a necessidade de uma revisão permanente na situação das unidades de Saúde, pois o que foi demonstrado é inacreditável, consequência da irresponsabilidade e da omissão de setores responsáveis pela manutenção de equipamentos que salvam vidas humanas.
O Fantástico teve acesso com exclusividade aos seis hospitais da rede federal do Rio de Janeiro e constatou uma série de precariedades estruturais, materiais médicos vencidos e milhares de pacientes esperando por atendimento. Por trás desse cenário, uma longa lista de denúncias sobre loteamento nesses hospitais.
DISPUTA – Há décadas, cargos cobiçados na direção das unidades são disputados por grupos políticos, que indicam nomes para funções sem o devido critério técnico. Em muitos casos, esses apadrinhados estão sendo investigados por denúncias sobre ineficiência, negligência e corrupção.
Impressionante o enorme problema que vem se estendendo há muito tempo e que agora a ministra da Saúde, Nísia Trindade, tem pela frente. A situação calamitosa nos hospitais exibidos, vale repetir, vem de um processo lento e gradual. São descalabros em série envolvendo vidas e que faz lembrar que a situação exibida não é um fato isolado, pois pode estar atingindo vários outros setores da administração pública federal.
A ministra garantiu ainda que não haverá qualquer tipo de influência na gestão dessas unidades. “Hoje, não há grupo político dono desses hospitais, do ponto de vista da sua gestão. Isso posso dizer com toda a clareza”. O Tribunal de Contas da União, que fiscaliza as atividades dos hospitais federais no Rio de Janeiro, vai acompanhar de perto a mudança na gestão das unidades. “A má gestão desses hospitais é crônica, eu posso te dizer que ela é crônica, por isso vamos avaliar. Deve ter muita gente incomodada, mas é necessário dar esse passo”, disse Vital do Rêgo, ministro do TCU.
NA FILA – Referências no atendimento de alta complexidade, os hospitais federais do Rio realizam procedimentos como tratamentos de câncer, cardiologia e transplantes. Para 2024, o orçamento passa de R$ 862 milhões. Ainda assim, mais de 18 mil pacientes aguardam algum tipo de procedimento cirúrgico. Em muitos setores dos hospitais, os aparelhos médicos estão quebrados e caixas de materiais vencidos ou danificados — como utensílios cirúrgicos e próteses ortopédicas, cujo valor passa dos R$ 20 milhões.
É preciso montar equipes permanentes capazes de fiscalizar e apontar a real situação dos serviços voltados para a população, sobretudo a de menor rendimento. Nas condições verificadas, o panorama revelou condições calamitosas, e isso precisa ser revisto e combatido com a máxima urgência. É preciso que novas normas sejam traçadas na atual administração, determinando ações efetivas e de máximo rigor em suas apurações.