William Waack
Estadão
Aos cem dias está faltando ainda um governo de frente ampla. O que Lula parece estar fazendo até aqui é contestar aspectos amplos do que encontrou ao assumir para o terceiro mandato. O ponto de contestação mais recente é o do Marco Legal do Saneamento, que tem como pano de fundo o notório desconforto do presidente com qualquer tipo de privatização.
Outros aspectos contestados (a lista não é exaustiva) têm a ver com educação, formação de preços no setor de energia, relações capital trabalho e uso de estatais como moeda de troca nas relações políticas.
ALINHAMENTO EXTERNO – Outro ponto que merece destaque é a inserção do Brasil nas relações internacionais a partir do que Lula percebe como equidistância a ser mantida pelo “global south” frente aos grandes focos de poder mundiais – na prática, significa alinhar o Brasil à China e à Rússia.
Aqui não cabe entrar no mérito de cada uma dessas questões, que têm extraordinária abrangência. Mas, sim, perguntar se o presidente tem as forças políticas adequadas para atacar em tantas frentes ao mesmo tempo.
Aparentemente, não. A escolha de temas tão relevantes e, ao mesmo tempo, distantes entre si sugere que o presidente não estabeleceu uma lista de prioridades.
FALTA DE OBJETIVOS – Lula dedica-se ao que vem surgindo pela frente, preso à narrativa de que é necessário desfazer o que encontrou.
Curioso nesse processo de “seleção” de objetivos (na verdade, na falta de) é o desapego ao que se poderia chamar de “avaliação” das próprias forças. Isto fica mais evidente quanto mais se aproxima o momento de testar as próprias capacidades – como a votação de MPs de interesse imediato do governo.
O principal risco no momento está associado à dificuldade de Lula de dizer com qual time vai entrar em campo para disputar qual tipo de votação.