Réu confesso foi beneficiado por decisão da segunda turma do STF
Por Rodrigo Vilela
O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral deixou a prisão nesta segunda-feira (19) após ser beneficiado por uma decisão da segunda turma do Supremo Tribunal Federal. Réu confesso, Cabral ficou detido por seis anos no Rio de Janeiro e vai cumprir prisão domiciliar.
O ex-governador deixou a cadeia sem falar com a imprensa e vai seguir para o regime domiciliar, em um apartamento em Copacabana.
O imóvel tem 80 metros quadrados e vista para o mar. Na cadeia, a cela do ex-governador era bem mais modesta e contava com apenas 8 metros quadrados.
Cabral foi preso em 2016 pela operação Lava Jato acusado de fraudar licitações e cobrar propina de empreiteiras em contratos públicos.
Sob vaias e gritos de “ladrão”, o ex-governador deixou a Unidade Prisional da Polícia Militar, em Niterói, acompanhado por advogados e pelo filho Marco Antônio Cabral.
O filho do ex-governador chegou a ser condenado por improbidade administrativa, no início do ano, por utilizar o cargo na Câmara dos Deputados para fazer visitas irregulares ao pai no presídio de Bangu 8. Marco Antônio, que era deputado federal, visitou Sérgio Cabral por 23 vezes em dias e horários não permitidos.
Diário do Poder
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Vendo o sol nascer redondo
De frente ao mar, ex-governador poderá curtir seu legado de corrupção
Por Alvaro Costa e Silva
No Rio toda criança em idade escolar —mesmo que no momento não esteja estudando por falta de vagas no ensino público— já decorou a lição extracurricular de história recente: nos últimos seis anos, seis governadores ou ex-governadores foram presos ou afastados do mandato. Eles ficam um tempo (que pode ser curto ou longo) atrás das grades, recorrem das condenações e respondem a elas em liberdade. Enquanto isso, o esquema de corrupção que os levou ao cárcere segue em moto-contínuo.
Último dos moicanos ainda vivendo em regime fechado em decorrência das apurações da Lava Jato, Sérgio Cabral conseguiu a revogação da prisão preventiva por 3 votos a 2 no STF —o voto de desempate foi dado pelo ministro Gilmar Mendes ressaltando que a decisão não significa absolvição.
Condenado a 436 anos e depois de passar mais de 2.200 dias na cadeia, ele vai morar num apart-hotel com vista para o mar, entre Copacabana e o Arpoador. Longe dali, na zona norte, ergue-se um monumento à corrupção legado por Cabral à cidade: o horroroso novo Maracanã, construído para a Copa de 2014 ao preço superfaturado de 1,2 bilhão, sem contar as propinas. O ex-governador costumava cobrar 5% do valor de cada contrato, percentual que ficou conhecido como "taxa de oxigênio".
Homem disposto a tudo para enriquecer, a ascensão de Sérgio Cabral é um retrato da prática política no Brasil: ganância, estupidez e soberba mescladas a uma enorme vaidade e à certeza de ficar impune no futuro. Sua primeira eleição a governador em 2006 —quando suas relações indecentes eram sabidas até pelos postes da rua da Mercado— se revestiu de uma rede impensável de cumplicidade com a velha máquina do MDB fluminense ao lado de tucanos, petistas, brizolistas, comunistas, evangélicos e setores da imprensa.
Um movimento orquestrado que em tudo lembra o apoio eleitoral a Cláudio Castro, atual governador ainda em liberdade.
Folha de São Paulo