Publicado em 24 de fevereiro de 2022 por Tribuna da Internet
Bruno Boghossian
Folha
Jair Bolsonaro se sente abandonado. Depois de contar com o apoio de investidores e empresários para chegar ao Planalto, o presidente se queixa da apatia desses grupos com sua campanha à reeleição. No evento de um banco, esta semana, ele se irritou com aqueles que consideram certa uma vitória de Lula nas urnas: “Dá para deixar rolar tudo numa boa? Quem chegar chegou? Tudo bem?”.
O presidente tenta usar a seu favor a liderança do petista nas pesquisas e aplica uma tonalidade renovada à campanha do medo da volta de Lula. Nos últimos dias, ele agitou diante dos conservadores um perigo iminente da liberação do aborto e lançou maus agouros aos endinheirados que já fazem projeções econômicas para um futuro governo do PT.
O RISCO DE LULA – Na conferência do banco, Bolsonaro falou como se a plateia tivesse deixado de acreditar nele. Disse que Lula representa riscos para as reformas dos últimos anos e cobrou apoio para espantar o velho fantasma vermelho.
“Isso não significa nada para a classe pensante do Brasil? Acham que podemos flertar com o comunismo?”, perguntou, aos gritos.
O discurso da ameaça petista ganha tração graças à vantagem de Lula nesta etapa da campanha. O presidente aproveita o cenário para buscar faíscas de antipetismo, começando por aqueles que receberam atenção especial de seu governo – ainda que sua incompetência tenha limitado os ganhos desses grupos.
AOS RICOS E POBRES – Com Lula na frente, Bolsonaro busca credibilidade para sensibilizar os mais ricos com o perigo de reversão da agenda econômica. Para atingir os mais pobres, que ainda sofrem com a crise, ele procura canais adicionais e alega que o possível retorno do PT significará a liberação das drogas e do aborto no país.
Para mudar o retrato das pesquisas, o presidente Jair Bolsonaro precisa do pessoal da base da pirâmide, mas a turma do alto também pode lhe ser útil.
Além de reverter a sensação de tranquilidade com uma possível vitória de Lula, a tal “classe pensante” costuma ser essencial para líderes que ensaiam manobras autoritárias.