Líder dos verdes pode ser a primeira mulher e a mais jovem ministra das Relações Exteriores da Alemanha. Ela defende questões ambientais alinhadas com a diplomacia e os direitos humanos, é pró-UE e rechaça extremismos.
Por Christoph Hasselbach e Ben Knight
No sistema de governo alemão, é preciso formar uma coalizão majoritária para que o chanceler federal seja finalmente empossado. Após meses de negociações desde a vitória do Partido Social-Democrata (SPD) na eleição de setembro, foi oficializada nesta semana uma aliança da legenda com o Partido Liberal Democrático (FDP) e o Partido Verde. Em seguida, é comum que ocorram divisões de ministérios entre os partidos membros da coalizão de governo. E a pasta das Relações Exteriores, uma das mais importantes do país, deverá ser chefiada pela verde Annalena Baerbock.
Vale lembrar: a última vez que os verdes estiveram no governo alemão, entre 1998 e 2005, eles comandaram o mesmo ministério, com Joschka Fischer, que ganhou muitos pontos por sua oposição ferrenha à Guerra do Iraque.
No caso de Baerbock, por ser bastante conhecida na política alemã – ela concorreu neste ano para chanceler federal e integra o Parlamento pelo estado de Brandemburgo desde 2013 –, pode parecer pouco surpreendente a sua nomeação para assumir as Relações Exteriores. No entanto, se confirmada, ela será a primeira mulher a comandar a pasta e, aos 40 anos de idade, a mais jovem ocupante do cargo da história.
Durante a campanha eleitoral, Baerbock colocou o meio ambiente e as questões climáticas sempre em primeiro lugar. Mas também enfatizou repetidamente a importância da política externa. E deixou claro que essas políticas devem andar lado a lado, uma vez que, na sua visão, a proteção do clima só será bem-sucedida se for gerida de maneira comum em termos internacionais.
Na quarta-feira, durante a apresentação do acordo de coalizão, Baerbock reforçou que a crise ambiental é o "maior desafio do nosso tempo". E destacou que o objetivo da neutralidade climática percorre todas as áreas da política, incluindo a cooperação internacional, e as políticas externa e de segurança.
"Só podemos resolver as grandes questões de política interna como a neutralidade climática com um mundo globalizado. É por isso que, para uma política climática forte, precisamos de uma política externa internacional europeia e alemã ativa", disse Baerbock à emissora pública ARD.
'Gasoduto Nord Stream 2 é motivo de discórdia entre Baerbock e o possível futuro chanceler alemão, Olaf Scholz'
Rússia e China são alguns dos desafios
Apesar de estarem juntos na coalizão governamental, o futuro chanceler federal, Olaf Scholz (SPD), e a provável ministra das Relações Exteriores têm alguns claros desacordos. Um deles diz respeito ao polêmico gasoduto Nordstream 2, construído entre a Rússia e a Alemanha: Baerbock manifestou-se contra a obra, enquanto ele sempre foi a favor.
Para a chefe dos verdes, o gasoduto é um erro para a política ambiental porque a Alemanha precisa abandonar os combustíveis fósseis. O projeto ainda deixa a Alemanha dependente da Rússia, com a Ucrânia abandonada no meio do caminho, sendo apenas país-trânsito para o gás. Com isso, a Ucrânia tem sido constantemente mencionada na coalizão como um país a ser apoiado pela Alemanha, o que, ao mesmo tempo, caracteriza um claro distanciamento alemão da Rússia.
Os conceitos políticos de Baerbock levam à busca de uma política externa orientada em valores de direitos humanos, inclusive em países como Rússia e China, nos quais a Alemanha tem grandes interesses econômicos e comerciais. Nas relações com a China, a ideia é elaborar uma estratégia mais abrangente, capaz de colocar em prática valores sociais alemães – mais do que simplesmente comerciais, como foi no caso do governo Merkel.
'Relações tumultuadas entre Alemanha e EUA foram constantes durante o governo de Donald Trump'
Estados Unidos e Europa
Reavivar a parceria transatlântica com os Estados Unidos, muito abalada durante a presidência de Donald Trump (2017-2021) e que permanece fria mesmo após Joe Biden assumir o cargo, é outro de seus desafios. Se a Alemanha deve escolher um lado nas tensões entre China e EUA, também.
A exigência de Baerbock de que os EUA retirem suas armas nucleares da Alemanha e a rejeição de mais investimentos militares alemães em defesa (o que Washington exige há anos) também são assuntos que devem desafiar a possível nova ministra.
Sobre a Europa, ela defende um envolvimento maior do continente na política global, especialmente na de segurança, ressaltando a importância do bloco para a paz mundial. Nesse sentido, a coalizão tem conceitos comuns de defesa para o bloco europeu, com os exércitos nacionais trabalhando em cooperação mais estreita.
Em geral, a coalizão alemã de governo argumenta sobre multilateralismo, fortalecimento da cooperação internacional e suas instituições, como a ONU. Isso soa parecido com o que pensa Baerbock, mas também com uma possível continuação da clássica política externa alemã, o que, no fim das contas, não deve acarretar em grandes mudanças.
Contra extremismos e xenofobia
O que, afinal, Annalena Baerbock traz para o Ministério das Relações Exteriores? Formada em ciências políticas pela Universidade de Hamburgo e mestre em direito internacional público pela London School of Economics and Political Science, ela fala inglês fluentemente, o que ainda hoje não é totalmente comum entre políticos alemães.
Especialista em política externa, além de defender políticas mais duras de direitos humanos em países como China e Rússia, ser pró-União Europeia e, claro, uma ativista do clima, ela combate abertamente o populismo e a xenofobia.
Deutsche Welle